Juremir Machado da Silva*
Há muitos anos eu fiz esta pergunta: qual a diferença entre
um homem e uma mulher? E respondi cronicamente. Essa é a questão mais
importante de todos os tempos. Mais até que a do sexo dos anjos. Ou do
que saber se no Maipu, cabaré famoso da Porto Alegre antiga, tinha ou
não quartos. É o que se chama, em filosofia, de questão transcendental,
de problemática existencial ou, no duro, falando português claro, de
papologia grega. Durante séculos, a humanidade pensou que se tratava de
uma simples diferença anatômica, uma oposição entre saliências e
reentrâncias. Nada mais cartesiano e falso. Separá-los pelo uso de cueca
ou calcinha também já não é um critério com validade científica.
Graças ao uso rigoroso dos métodos mais modernos de classificação e
reconhecimento multicultural, apresentaremos algumas das mais relevantes
diferenças entre homem e mulher. Cabe lembrar que homem, mulher e
ervilhas, depois de Mendel e do sexualmente correto, dividem-se em
recessivos e dominantes. Diz-se, então, de um exemplar qualquer da
espécie, “anatomicamente masculino, com dominância feminina”, ou
vice-versa (não confundir o vice-versa com o famoso “gilete”).
Há quem defenda que homens e mulheres são como as mônadas do filósofo
Leibniz, unas e indivisíveis, “sem portas nem janelas”. Outros afirmam
que isso não passa de “bichice enrustida cheia de furos” (essa parte
caducou e só é repetida aqui como parte de um documento histórico).
Os “antípodas”, agitadores sexuais do escaldante verão escandinavo,
garantem que o mistério já se desfez: mulheres são masculinas; homens,
femininos. Embora publicada numa renomada revista científica de
Estocolmo, a descoberta provocou a ira do Clube dos Varões
Inquestionáveis de Bagé. Falando sério, especialistas da antropologia do
cotidiano asseguram que homem e mulher são categorias culturais
baseadas nas seguintes diferenças: mulheres são herbívoras (quer dizer,
vegetarianas); homens, carnívoros. Mulheres dividem-se entre
interesseiras e interessadas; homens, entre interessantes e aposentados.
Homens olham; mulheres pensam. Homem pulam a cerca; mulheres traem.
Homens possuem estupidez natural: mulheres, inteligência artificial.
Mulheres acham que tamanho não é documento; homens, por vias das
dúvidas, gostariam de ter instrumento tamanho GG.
Há quem sustente justamente o contrário em relação a todas essas
categorias. Mas não há publicação escandinava sobre o assunto nem
movimento organizado. Em todo caso, é unanimidade que não se deve
confiar em mulher que não come carne nem em homem que só come salada. O
contrário também é verdadeiro. O problema das interesseiras é que
geralmente são interessantes. O mesmo não se pode dizer das
interessadas. O complicado nos homens interessantes é que nunca se
aposentam. Homens excitam-se com o que veem; mulheres, com o que
imaginam. Mulheres sonham; homens deliram. Mulheres devaneiam; homens
roncam. Foi o que escrevi. Errei em alguma coisa? Saberemos em 20 anos.
Este foi um texto escrito a duas mãos entre minhas partes masculina e feminina.
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* Sociólogo. Prof. da PUCRS. Escritor.
Fonte: http://www.correiodopovo.com.br/blogs/juremirmachado/
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