Henrique Meirelles*
A recessão brasileira que começou no final de 2014 e pode se estender
até parte de 2017 é um dos piores desempenhos econômicos no mundo hoje.
Existem fatores externos, comuns a outros países emergentes, e fatores
internos ainda mais fortes, gerados aqui no Brasil. É uma combinação
tóxica, mas que tem remédio.
Os países emergentes tiveram crescimento expressivo neste século, mas,
nos últimos anos, desaceleraram ou se retraíram. O Brasil corre o risco
de ter a maior recessão das últimas décadas, inclusive a do início da
década de 1980 (começo da hiperinflação), depois de um ciclo de
crescimento que fortaleceu nosso mercado interno e nossas empresas.
Até 2007, a economia americana crescia a taxas elevadas impulsionada
pelo crédito e pelo consumo. EUA e Europa importavam quantidades
crescentes de produtos industrializados da China, que por sua vez
importava componentes e commodities de emergentes. Quando esse ciclo se
esgotou com o colapso do crédito nos EUA e depois na Europa, a China
adotou fortes medidas contracíclicas. Ela concedeu créditos maciços para
infraestrutura e investimentos, que geraram mais demanda por
commodities nos emergentes, sendo que alguns desses países também
adotaram medidas contracíclicas locais, especialmente expansão do
crédito e fiscal.
Mas o aumento do crédito na China atingiu seu limite, e o país começou a
mudar seu modelo econômico, promovendo mais consumo interno. É um
processo gradual, lento e complexo que reduz a demanda (e o preço) de
diversas commodities dos emergentes num momento em que economias mais
desenvolvidas ainda apresentam fragilidades.
Paralelamente, esgotam-se também as medidas domésticas contracíclicas
adotadas em diversos emergentes. O Brasil é caso exemplar. Cresceu
fortemente na década passada baseado no forte programa de estabilização
econômica, controle da inflação e redução da dívida pública e
impulsionado também por absorção de mão de obra e aumento das
exportações.
Diante da crise global de 2008, o Brasil adotou políticas monetária e
fiscal eficientes que levaram à retomada do crescimento vigoroso em
2010. Esse crescimento foi também baseado na alta das commodities e na
manutenção das medidas de incentivo fiscal anticrise adotadas em
2008/09, mas que não eram mais necessárias em 2010. Depois tivemos a
"nova matriz econômica", que promoveu mais expansão fiscal e monetária.
Ela agudizou a tendência histórica de aumento do gasto público e gerou o problema atual.
É um processo complexo que sincronizou problemas internos graves com
ambiente externo desfavorável. Só sairemos dele com perspectiva firme de
estabilidade e previsibilidade econômicas.
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* É presidente do Conselho da J&F. Foi presidente do Banco Central 2003 a 2010
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/henriquemeirelles/2016/01/1730294-sincronicidade.shtml
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