Luis Fernando Veríssimo*
Cem advogados brasileiros assinaram um manifesto comparando aspectos
da Operação Lava-Jato em curso com métodos da Inquisição. A palavra
“neoinquisição” é usada, entendendo-se que a clara referência é à ação
do Santo Ofício contra inimigos da Igreja e possuídos pelo demônio, na
Idade Média. Descontando-se tudo que cerca o manifesto publicado – as
razões de cada signatário e a procedência ou não do seu protesto, e até
os exageros da retórica –, é curioso que a analogia escolhida para os
excessos da Lava-Jato tenha sido a Inquisição. O manifesto deu um pulo
no tempo, para trás, por cima de todas as outras comparações cabíveis,
como regimes de exceção recentes, e preferiu chamar o juiz Moro e seus
comandados de caçadores de hereges e bruxas. Desconfio de que não usaram
a analogia mais óbvia, com métodos fascistas, porque “fascista” foi
vulgarizado como xingamento político entre nós. Esquerda e direita
acusam-se mutuamente de fascismo, tanto que a palavra perdeu todo o
sentido. De qualquer maneira, o manifesto dos advogados não precisava ir
tão longe para buscar um exemplo de arbitrariedade e descaso por
direitos legais. Tinham exemplos bem mais próximos, no tempo e no
espaço.
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* Jornalista. Escritor.
Fonte: http://www.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&source=a4961972.xml&template=3916.dwt&edition=28299§ion=70
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