EDUARDO MUNHOZ SVERTS - Professor do Departamento de Ciência Política da UFRGS
De
Washington, D.C., onde está vinculado à Elliot School of International
Affairs, da George Washington University, o professor da UFRGS Eduardo
Munhoz Sverts falou a Zero Hora sobre a disputa nas primárias dos EUA.
Zero Hora – Qual será o tema central da eleição presidencial deste ano nos EUA?
Eduardo Svarts – Na atual fase da campanha, os pré-candidatos tentam mostrar para os eleitores, financiadores e membros de seu partido que são os mais identificados com as ideias básicas do mesmo e que têm melhores chances de enfrentar o candidato do partido adversário. Depois das indicações, os discursos devem mudar e convergir para um número razoavelmente pequeno de temas tradicionais. Acredito que, na segunda fase, um tema que deverá ser bastante discutido será o papel do Estado, com democratas defendendo a reintrodução de programas do Estado de bem-estar, como o HealthCare, e republicanos criticando essa ideia.
ZH – A interferência do poder econômico na política é uma preocupação da parcela mais politizada do eleitorado ou está enraizada em toda a sociedade americana?
Svarts – Essa tem sido uma bandeira do senador Bernie Sanders, não exatamente dos demais competidores. No último discurso que o presidente Obama fez no Congresso, o tema foi mencionado, o que reflete sim uma insatisfação de parte do eleitorado. Entretanto, não parece haver uma movimentação mais consistente de reforma das regras do complexo sistema eleitoral estadunidense e tampouco dos mecanismos de articulação entre os poderes econômico e político. Lobbies, “super-PACs”, think tanks, grupos de interesse, empresas, associações e levantadores de fundos de campanha atuam muito intensamente aqui em Washington. Há todo um mercado de influência, acesso, venda de ideias e captação de recursos na cidade.
ZH – Por que figuras marginais nos grandes partidos, como Donald Trump e Bernie Sanders, dominam a cena das primárias até o momento?
Svarts – A emergência de outsiders não é um dado novo, especialmente nesta fase de disputa interna, que ocorre de forma paralela nos dois partidos. Entre os republicanos, a novidade é o fenômeno midiático Donald Trump, um empresário antes mais ligado aos Democratas, que está se beneficiando das divisões do partido e do pouco carisma que os demais pré-candidatos apresentam na TV, especialmente nos debates. A estratégia de Trump, nesta fase da campanha, emprega declarações bombásticas em meio a um discurso populista de direita que o tem mantido na mídia e liderando pesquisas. Frente às acusações e até ofensas proferidas por Trump, os demais estão na defensiva. Contudo, vários setores do Partido Republicano – e segmentos conservadores da sociedade identificados com o partido – têm se manifestado duramente contra ele. É cedo para apostar que Trump será indicado. Já entre os democratas, Sanders não é exatamente uma figura marginal, uma vez que tem quase 20 anos de atuação como congressista. Sanders tem crescido nas pesquisas de opinião com um discurso de esquerda, para os padrões daqui, defendendo um sistema de saúde pública universal e gratuito, como no Brasil. Isso tem apelo, dadas as dificuldades dos que não conseguem pagar planos de saúde.
Zero Hora – Qual será o tema central da eleição presidencial deste ano nos EUA?
Eduardo Svarts – Na atual fase da campanha, os pré-candidatos tentam mostrar para os eleitores, financiadores e membros de seu partido que são os mais identificados com as ideias básicas do mesmo e que têm melhores chances de enfrentar o candidato do partido adversário. Depois das indicações, os discursos devem mudar e convergir para um número razoavelmente pequeno de temas tradicionais. Acredito que, na segunda fase, um tema que deverá ser bastante discutido será o papel do Estado, com democratas defendendo a reintrodução de programas do Estado de bem-estar, como o HealthCare, e republicanos criticando essa ideia.
ZH – A interferência do poder econômico na política é uma preocupação da parcela mais politizada do eleitorado ou está enraizada em toda a sociedade americana?
Svarts – Essa tem sido uma bandeira do senador Bernie Sanders, não exatamente dos demais competidores. No último discurso que o presidente Obama fez no Congresso, o tema foi mencionado, o que reflete sim uma insatisfação de parte do eleitorado. Entretanto, não parece haver uma movimentação mais consistente de reforma das regras do complexo sistema eleitoral estadunidense e tampouco dos mecanismos de articulação entre os poderes econômico e político. Lobbies, “super-PACs”, think tanks, grupos de interesse, empresas, associações e levantadores de fundos de campanha atuam muito intensamente aqui em Washington. Há todo um mercado de influência, acesso, venda de ideias e captação de recursos na cidade.
ZH – Por que figuras marginais nos grandes partidos, como Donald Trump e Bernie Sanders, dominam a cena das primárias até o momento?
Svarts – A emergência de outsiders não é um dado novo, especialmente nesta fase de disputa interna, que ocorre de forma paralela nos dois partidos. Entre os republicanos, a novidade é o fenômeno midiático Donald Trump, um empresário antes mais ligado aos Democratas, que está se beneficiando das divisões do partido e do pouco carisma que os demais pré-candidatos apresentam na TV, especialmente nos debates. A estratégia de Trump, nesta fase da campanha, emprega declarações bombásticas em meio a um discurso populista de direita que o tem mantido na mídia e liderando pesquisas. Frente às acusações e até ofensas proferidas por Trump, os demais estão na defensiva. Contudo, vários setores do Partido Republicano – e segmentos conservadores da sociedade identificados com o partido – têm se manifestado duramente contra ele. É cedo para apostar que Trump será indicado. Já entre os democratas, Sanders não é exatamente uma figura marginal, uma vez que tem quase 20 anos de atuação como congressista. Sanders tem crescido nas pesquisas de opinião com um discurso de esquerda, para os padrões daqui, defendendo um sistema de saúde pública universal e gratuito, como no Brasil. Isso tem apelo, dadas as dificuldades dos que não conseguem pagar planos de saúde.
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Fonte: http://www.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&source=a4962057.xml&template=3898.dwt&edition=28299§ion=3595
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