Kjetil Solbraekke(VEJA.com/Divulgação)
Gigantismo da Petrobras e alto endividamento da estatal acentuam efeitos negativos do declínio das cotações sobre a economia, avalia especialista norueguês Kjetil Solbraekke
A Petrobras e a cadeia brasileira de petróleo e gás natural sofrem com o
ônus do gigantismo arquitetado pelo governo do PT para a estatal. Com o
mergulho das cotações do petróleo para o menor nível desde 2004 (o
barril do tipo brent encerrou a sexta-feira negociado por 29 dólares),
a Petrobras sente ainda mais os efeitos de sua frágil saúde financeira e
do endividamento recorde, decorrentes da corrupção e da interferência
política em sua administração. Não por acaso, na semana que passou, a
estatalanunciou um corte agressivo,
de 25%, em seu plano de investimentos até 2019, o que agravará ainda
mais a crise na cadeia de fornecedores. A análise sobre os efeitos
nocivos da baixa cotação do petróleo sobre a Petrobras é do norueguês
Kjetil Solbraekke, diretor para a América do Sul da consultoria
internacional Rystad Energy, especializada em energia. Segundo ele, se o
setor de petróleo e gás fosse mais diversificado no Brasil, com
presença mais robusta de outras petrolíferas e fornecedoras, os efeitos
das baixas cotações seriam menores.
Com o barril de petróleo cotado a menos de 30 dólares e a perspectiva de
que o cenário não vá se alterar antes do fim do ano, os países que mais
importam do que exportam têm muito a comemorar. O Brasil poderia se
juntar à festa não fosse a dívida superior a 500 bilhões de reais que a
Petrobras carrega e que a impede de baixar o preço da gasolina e de
outros derivados do petróleo em um primeiro momento. "A estatal sofre
para não afetar tanto o seu plano de investimento porque precisa pagar
bilhões de dólares em juros de sua enorme dívida, o que deixa a empresa
com uma margem de manobra financeira muito limitada", explica
Solbraekke.
Leia abaixo a entrevista completa:
Quais os principais efeitos da queda contínua das cotações do petróleo na economia mundial e brasileira? O
preço mais baixo do petróleo tem efeito positivo sobre o crescimento do
PIB global, já que significa energia mais barata para o consumo e
porque ele serve como insumo para a produção de outros bens e serviços.
No geral, preços mais baixos são positivos para todos os países que
importam petróleo, porque, basicamente, isso significa que o preço da
aquisição para o consumo interno cai. Mas para os países que exportam
petróleo isso é negativo, porque eles perdem receita.
O Brasil importa mais do que exporta e, portanto, deve se beneficiar do
baixo preço do petróleo. No entanto, o país tem muitas reservas de
petróleo e gás que poderiam ser exploradas e desenvolvidas, o que talvez
permitiria ao país mais exportar do que importar. Nesse sentido, a
baixa cotação é negativa para o Brasil.
Quais são os efeitos sobre os maiores países produtores no mundo? A
questão chave não está relacionada ao fato de serem ou não grandes
produtores, mas, sim, se eles exportam ou não. Os Estados Unidos, por
exemplo, são os maiores produtores de petróleo e gás no mundo, mas
também são os maiores consumidores, junto com a China. Para a economia
americana, o baixo preço é visto como um fato positivo, assim como para a
China. Já para a Rússia e a Arábia Saudita, que são exportadoras, é
algo claramente negativo. No entanto, a Arábia Saudita e a Opep
(Organização dos Países Exportadores de Petróleo) querem propositalmente
um preço mais baixo com o intuito de ampliar a sua fatia de mercado no
mundo e evitar um crescimento futuro ainda maior da produção do óleo de
xisto dos Estados Unidos.
Como a Petrobras é impactada pelo petróleo mais barato? A
Petrobras e o Brasil estão em uma situação particularmente difícil por
causa da enorme dívida que a empresa acumulou. O valor de mercado de
todas as grandes companhias de petróleo e gás do mundo tem caído nos
últimos anos, mas o da Petrobras caiu mais do que o de qualquer outra
grande empresa. Outras petrolíferas possuem uma situação financeira
sólida na crise. Mas a estatal brasileira sofre para não afetar tanto o
seu plano de investimento porque precisa pagar bilhões de dólares em
juros de sua enorme dívida, o que deixa a empresa com uma folga
financeira muito limitada. Isso faz com que o preço baixo do petróleo
prejudique a Petrobras mais do que qualquer uma das outras companhias.
Como as petrolíferas podem adaptar a sua produção a uma cotação em torno de 30 dólares o barril sem que isso afete seus lucros? A
manutenção dessa cotação tem um efeito muito negativo sobre os
resultados de todas as petrolíferas. O principal impacto se dá no fluxo
de caixa (o volume de dinheiro que entra e sai do caixa), o que explica
por que todas as companhias estão reduzindo os investimentos e cortando
os custos, como, por exemplo, reduzindo o número de funcionários. Isso
acontece em todas as petrolíferas do mundo. Nós vemos o mesmo com a
Petrobras. Elas não têm alternativa.
Se esse cenário de baixas cotações perdurar por muito tempo, ele pode levar a uma crise profunda no setor de petróleo e gás? Os
preços baixos são uma notícia ruim para a indústria de petróleo e gás,
enquanto são positivos para o restante da economia no mundo. Nós da
Rystad Energy não achamos que o petróleo ficará na faixa de 30 dólares o
barril por um longo período. Isso porque, com o preço do petróleo tão
baixo, o consumo mundial tende a aumentar mais rapidamente. Além disso, a
redução dos investimentos das petrolíferas vai se traduzir em atrasos
no início da exploração de novos campos. E vai impactar negativamente
poços novos em campos já existentes. Cedo ou tarde, tudo isso vai criar
um cenário em que a demanda voltará a superar a oferta mundial de
petróleo, e as cotações passarão a subir novamente. Nós prevemos que
isso aconteça no fim de 2016.
Por que a crise parece afetar mais o Brasil do que outros países? Isso
acontece porque a Petrobras tem uma posição de mercado muito dominante e
porque ela é mais endividada do que qualquer uma das outras companhias
do setor. Se houvesse mais diversidade de operadoras e petrolíferas no
Brasil, as consequências da queda do petróleo seriam bem menores para a
estatal. A Petrobras está reduzindo investimentos mais do que as outras
empresas. Se a empresa vendesse alguns campos de exploração, poderia
amenizar a crise na indústria brasileira de petróleo e gás, o que inclui
os fornecedores.
Outro problema específico para o Brasil é que o governo impôs muitos
custos extras para os projetos de petróleo e gás na forma de exigências
de conteúdo local para os fornecedores de equipamentos. O resultado é
que o custo de desenvolvimento de campos de petróleo no Brasil é muito
mais alto que em outros países comparáveis. O Brasil possui umas das
mais atraentes reservas de petróleo no mundo. Se houvesse mais
competição internacional e uma regulamentação eficiente, isso se
traduziria em mais investimentos.
O baixo preço do petróleo pode atrasar a exploração do pré-sal? O
problema não é o preço baixo do petróleo. As reservas do pré-sal estão
entre as descobertas recentes mais lucrativas do mundo se forem
consideradas só as suas dimensões e a sua produtividade. Se as jazidas
estivessem em outro país, seriam exploradas a toda velocidade, mesmo com
as atuais cotações. O problema no Brasil é que o desenvolvimento fica a
cargo de uma única empresa, a Petrobras, submetida a regras de conteúdo
nacional e altos custos regulatórios.
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Reportagem por Larissa Baltazar - Veja
Fonte: http://veja.abril.com.br/noticia/economia/brasil-esta-mais-exposto-a-crise-do-petroleo-diz-consultoria
Fonte: http://veja.abril.com.br/noticia/economia/brasil-esta-mais-exposto-a-crise-do-petroleo-diz-consultoria
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