Juremir Machado da Silva*
Nelson Rodrigues estava errado: brasileiro
não sofre de complexo de vira-lata. O cronista dizia que toda
unanimidade é burra. Como discordo dele, sou um gênio. O único em
atividade em Palomas. Brasileiro não tem complexos. Tem síndromes: de
carcará, de Pit Bull e de avestruz. Ninguém atacou Nelson Rodrigues por
ter falado mal dos vira-latas. Ninguém me atacará por causa dos carcarás
e dos avestruzes. Serei detonado, mais uma vez, em nome do Pit Bull. É o
bicho mais protegido do país. Brasileiro é como carcará: pega, mata e
come. Brasileiro é como avestruz: engole tudo o que vê. Brasileiro é
como Pit Bull: pode ser o mais manso, mas, se descuidar, o instinto fala
mais alto e alguém paga o pato. O problema é educação? Sim, o problema
do brasileiro e do Pit Bull é a educação. Ambos nunca serão
suficientemente educados.
Brasileiro tem síndrome de papagaio e de macaco: copia tudo, imita, reproduz. Francês fala souris. Português diz ratinho. Espanhol fala ratón. Brasileiro orgulha-se de falar mouse. Ri de quem chama mouse de rato. Nada lhe parece mais bizarro e inadequado. Um erro crasso de tradução. Até aí tudo bem. A última do brasileiro, porém, é de chupar o bigode de satisfação. Se bigode ainda existisse. O último, de César Peluso, acaba de se aposentar. Enfim, não dizemos mais paraolimpíadas nem paraolímpico. Adotamos paralimpíada e paralímpico. Brasileiro que faz isso tem síndrome de anta e de asno. Por que ninguém defende as antas e os asnos? As antas e os asnos são inteligentes. Existem vários tipos de inteligência. Antas e asnos possuem alto grau de inteligência estratégica. Eu amo as antas e os asnos. Questão de identificação. Se falassem, recusariam paralímpico. É coisa de avestruz, de carcará e de jacu.
Eu tenho medo de Pit Bull, de carcará e de avestruz. Tenho mais medo ainda de brasileiro que fala paralímpico. Nelson Rodrigues escreveu num tempo romântico em que se podia chamar cachorro de vira-lata sem provocar um incidente diplomático com alguma entidade ou individualidade supersensível. Na sua época, principalmente, ninguém dizia paralímpico. Sou muito criticado pela implicância com Pit Bull. É que o animal me lembra certos políticos. Mesmo quando se apresenta como inofensivo, pode, repentinamente, morder. Aí o leitor vai dizer: que salada! Concordo. Só que há um fio condutor.
O brasileiro é predador. Mesmo que um predador de moedas, de botões e outros assemelhados. Brasileiro é predador da língua. Acabamos de devorar uma vogal inocente, o "o" de paraolímpico. Foi engolido pelo avestruz, devorado pelo carcará, arrancado pelo Pit Bull. Pior do que o brasileiro predador, mesmo quando se trata de um cachorro inocente, é o brasileiro defensor da virgindade da língua, aquele que ainda usa a mesóclise, mas já não manda flores para a namorada. Depois do paralímpico, parei na contramão. A síndrome devoradora de vogais revela a nossa fase oral. Estamos avançando para o analfabetismo por convenção internacional. O Pit Bull nada tem com isso. Só o avestruz. E asnos e antas bípedes.
Brasileiro tem síndrome de papagaio e de macaco: copia tudo, imita, reproduz. Francês fala souris. Português diz ratinho. Espanhol fala ratón. Brasileiro orgulha-se de falar mouse. Ri de quem chama mouse de rato. Nada lhe parece mais bizarro e inadequado. Um erro crasso de tradução. Até aí tudo bem. A última do brasileiro, porém, é de chupar o bigode de satisfação. Se bigode ainda existisse. O último, de César Peluso, acaba de se aposentar. Enfim, não dizemos mais paraolimpíadas nem paraolímpico. Adotamos paralimpíada e paralímpico. Brasileiro que faz isso tem síndrome de anta e de asno. Por que ninguém defende as antas e os asnos? As antas e os asnos são inteligentes. Existem vários tipos de inteligência. Antas e asnos possuem alto grau de inteligência estratégica. Eu amo as antas e os asnos. Questão de identificação. Se falassem, recusariam paralímpico. É coisa de avestruz, de carcará e de jacu.
Eu tenho medo de Pit Bull, de carcará e de avestruz. Tenho mais medo ainda de brasileiro que fala paralímpico. Nelson Rodrigues escreveu num tempo romântico em que se podia chamar cachorro de vira-lata sem provocar um incidente diplomático com alguma entidade ou individualidade supersensível. Na sua época, principalmente, ninguém dizia paralímpico. Sou muito criticado pela implicância com Pit Bull. É que o animal me lembra certos políticos. Mesmo quando se apresenta como inofensivo, pode, repentinamente, morder. Aí o leitor vai dizer: que salada! Concordo. Só que há um fio condutor.
O brasileiro é predador. Mesmo que um predador de moedas, de botões e outros assemelhados. Brasileiro é predador da língua. Acabamos de devorar uma vogal inocente, o "o" de paraolímpico. Foi engolido pelo avestruz, devorado pelo carcará, arrancado pelo Pit Bull. Pior do que o brasileiro predador, mesmo quando se trata de um cachorro inocente, é o brasileiro defensor da virgindade da língua, aquele que ainda usa a mesóclise, mas já não manda flores para a namorada. Depois do paralímpico, parei na contramão. A síndrome devoradora de vogais revela a nossa fase oral. Estamos avançando para o analfabetismo por convenção internacional. O Pit Bull nada tem com isso. Só o avestruz. E asnos e antas bípedes.
Do Blog: Para ler comentário da Folha:
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/pasquale/1149224-paralimpico-haja-bobagem-e-submissao.shtml
--------------------------------* Soiciólogo. Prof. Universitário. Escritor. Tradutor. Colunista do Correio do Povo
juremir@correiodopovo.com.br
Crédito: JOÃO LUIS XAVIER
Fonte: http://www.correiodopovo.com.br/Impresso/?Ano=117&Numero=348&Caderno=0&Noticia=463496
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