quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

O começo da era Bolsonaro

Estamos no ano novo. Enfim? Enfim. Jair Bolsonaro tomou posse com cara e discursos de Jair Bolsonaro. Ele não se contentou em ser figurante na vida. Veio, viu e venceu. A bola está com ele para o que der e vier. O que vem por aí? No seu jargão despachado, erro é canelada. Acerto, bola na rede. O que vai ser? Goleada? Show? Chocolate? Pelada? Batalha campal? É o que começaremos a saber a partir de agora mesmo. Em princípio, o estilo é mais Felipe Melo, se me faço entender, ou o google e o youtube ajudam, do que Neymar. Mas, no passado, o criticado estilo Dunga levou ao tetracampeonato mundial. É verdade que havia também Bebeto e Romário na equipe. Serão Paulo Guedes e Sérgio Moro?

Bolsonaro elegeu-se pilotando uma plataforma comportamental cristalina e contundente. Não ganhou corações com propostas econômicas. Seduziu e encantou com discursos contra o comunismo, o “kit gay”, o petismo, a ideologização das escolas, a corrupção e a ideologia de gênero. Não por acaso, repetiu em discurso que combaterá a ideologia de gênero e que nossa bandeira nunca será  vermelha. Ele, que ganhou sem tempo de televisão, salvo no segundo turno, empolgando as redes sociais com aquilo que estas mais prezam, atitude, pegada, papo reto, agora reina sobre as imagens e exibe-se para câmeras insaciáveis. Só Lula falou tão diretamente ao imaginário popular quanto Bolsonaro. Governar é outra coisa? Ou também será diferente? Na composição do ministério, Bolsonaro escanteou os partidos, ainda que tenha ouvidos as tais bancadas temáticas e Onyx Lorenzoni, não necessariamente nessa ordem, e cercou-se de dois superministros, Guedes e Moro, um ministrão, Osmar Terra, e 19 ministros, cerca de um terço fardado de terno e gravata.

O novo presidente subiu a rampa do Planalto com muitas ideias na cabeça e a caneta no bolso para reescrever nossa história com slogans que lembram o passado ainda fumegante. Para ele, índio quer ser como nós, que, afirmou, temos um modo de vida melhor, escola deve ensinar português, matemática e ciências, sendo sexo tema reservado a papai e mamãe. De economia, garante não entender, mas confia no seu Posto Ipiranga, o ultraliberal Paulo Guedes, que faz a oposição temer reformas e o mercado vibrar com revolução. Quem será Bolsonaro como presidente? Os que “secam o governo”, embora neguem, oscilam. Alguns o comparam a Jânio Quadros, que renunciou menos de sete meses depois de alcançar o Planalto. Outros o associam a Fernando Collor, que sofreu impeachment depois de meses de agonia e sangramento público. Bolsonaro quer ser ele mesmo e fazer história como um super-homem com a farda sob o tern.

O vencedor obviamente não se identifica com os derrotados. Tem o próprio roteiro. Se foi nacionalista e estatizante no passado, pretende ser liberal no futuro que começou ontem. Até que ponto? Vai privatizar tudo como sonha o mercado e sugere o impassível Paulo Guedes, o que não brinca em serviço e pretende esfaquear até o Sistema S? Ou vai proteger as tais empresas estratégicas? Há quem considere essa expressão típica de comunistas. Uma coisa é certa, se coisa certa há: Jair Bolsonaro vai jogar no colo do Congresso Nacional uma cesta de propostas impopulares de reformas. Os parlamentares vão ajudá-lo? Em troca de quê? A reforma da Previdência vai dar as caras logo. A nova era chegou. Já era. Como diria aquele outro, sendo otimista, aceita que dói mais, mas a dor pode curar. Na posse, pouca gente, nenhum chefe de Estado das grandes potências mundiais e muito rolo com a imprensa. A coisa promete muita emoção.
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* Jornalista. Escritor. Sociólogo. Prof. Universitário. Cronista do Correio do Povo
Fonte: http://www.correiodopovo.com.br/blogs/juremirmachado/2019/01/11449/o-comeco-da-era-bolsonaro/ 02/01/2019
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