Rodolfo Barrueco*
Com base nas tendências mercadológicas detectadas no ano passado e já refletidas em 2021, é possível afirmar que o futuro tecnológico está mais próximo do que imaginamos
Em 2020, a necessidade de aceleração tecnológica se espalhou pelo mundo. Enquanto céticos em relação a algum benefício que a pandemia possa ter nos trazido, não podemos negar que, ao longo de meses em isolamento, as pautas tecnológicas puderam avançar em campos até então resistentes à tecnologia, notadamente na área da medicina e da educação fundamental. Caso não fossem os aparatos e avanços tecnológicos conquistados até 2020, certamente o abismo econômico e social seria maior do que o imaginado.
Em um passado não muito distante pudemos notar que, depois de uma crise, há uma força sobrepujando os mercados econômicos de modo a criar um período de expansão da conjuntura econômica. Lembremos que após a crise de 2008, vimos nascer o Whatsapp, Square e Uber em 2009; Pinterest, Slack e Instagram em 2010. Coincidência? Talvez. Mas não seria, se pudéssemos compreender perfeitamente os ciclos de inovação nos moldes do que nos ensina Joseph Schumpeter. Ciclos inovadores nascem, amadurecem durante certo período e são destruídos por um esgotamento exaustivo até abrirem espaço a um novo ciclo.
Concentrados em uma era estigmatizada pelas mídias sociais, a partir de uma previsão vulgar qualquer, poderíamos arriscar que o próximo ciclo de inovação não se concentraria na criação de um “novo Facebook”, mas talvez na construção 3D de proteínas a partir de uma sequência de aminoácidos. Futuro distante? Certamente não. Em novembro de 2020, uma startup chamada DeepMind’s conseguiu obter a sequência 3D de modo ágil como nunca antes visto – e promete dobrar a performance em testes futuros.
A busca de tendências sobre o futuro sempre intrigou a humanidade desde épocas imemoriáveis, o que justifica a alta procura por ficção científica no campo da literatura em todo o mundo. Não podemos olvidar que nos causaria certa estranheza se soubéssemos na infância que nossas tarefas futuras teriam o auxílio de assistentes digitais, plenamente dotadas de linguagem semântica impecável e um big data capacitado para antecipar nossas perguntas e desejos, ou que a partir de dados genéticos pudéssemos melhorar a receptividade de produtos que nos fossem oferecidos via campanhas de marketing, como nos sugere a publicação de pesquisa realizada pela Wharton School of Business.
Na linha do que Amy Webb define em “The Signals Are Talking: Why Today’s Fringe Is Tomorrow’s Mainstream”, detectamos tendências futuras através de algumas percepções, que vulgarmente poderiam ser sintetizadas na necessidade por mudança, oportunidade de aprimoramento, e cenários convergentes. As tendências emergem da intersecção de forças mercadológicas que ativa e ciclicamente são construídas e destruídas. São novas manifestações que representam as colisões de novos desenvolvimentos, realizadas de modo constante ao longo de anos. Ao fim de uma era de inovação, conseguimos ter de modo holístico ampla consciência do salto à distância dado entre o começo de uma e o fim de outra.
O salto tecnológico que a humanidade deu em 2020 e dará nos próximos anos permitirá que estejamos cada vez mais perto de um futuro que outrora nos pareceu tão distante
Notemos que, conforme nossos hábitos são moldados a partir de novas necessidades, a disrupção tecnológica alcança novos ares. Por exemplo, vejamos as áreas da telemedicina e diagnósticos médicos que, por meio de suporte cloud, machine learning e tecnologia de baixo custo, têm permitido que exames sejam feitos sem a necessidade de consultas médicas tradicionais. Para dar mais cor a esse salto de inovação, destaca-se a Velieve, startup que oferece testes de detecção de infecção urinária, sincronizados a um aplicativo da marca. Depois de concluído o teste, automaticamente, um profissional médico analisa seus resultados. Em 30 minutos você recebe um diagnóstico. E, caso diagnosticado com uma provável infecção, você pode optar em receber uma receita médica em casa. Mundo futurístico? Não, esse é o nosso presente.
Em 2020, a pandemia ofuscou o brilho das novas percepções inovadoras. Um dos grandes protagonistas dessa ciranda tecnológica foram os robôs. Frotas de robôs foram implementadas em todo o mundo durante o ano. Eles higienizaram autonomamente quartos de hospitais, monitoraram pacientes remotamente, coletaram e entregaram receitas, mediram temperaturas corporais, além de ajudarem médicos em várias frentes. Um destaque do setor foi a Diligent Robotics, startup sediada em Austin, no Texas, que apostou na fabricação de robôs para auxílio de atividades rotineiras de hospitais, facilitando a vida de equipes médicas para os cuidados de pacientes com sintomas da covid-19.
Inegavelmente, os robôs se tornaram trabalhadores essenciais durante a pandemia. Mas não se tornaram mais essenciais que a busca pela “supremacia quântica”, termo nascido de um artigo publicado por pesquisadores do Google. Certamente, o ano de 2020 foi um divisor de águas para a nova busca mundial. O Google revelou que um supercomputador quântico, chamado Sycamore, conseguiu endereçar em apenas 200 segundos um desafio que tomaria cerca de 10 mil anos para ser resolvido por um computador tradicional. Em fevereiro de 2021, pesquisadores do Google estimaram que os supercomputadores serão 3 milhões de vezes mais rápidos que os modelos tradicionais. Impossível? Talvez, em um passado remoto. Hoje, não mais.
O salto tecnológico que a humanidade deu em 2020 e dará nos próximos anos, em decorrência da alteração dos cenários econômicos, permitirá que estejamos cada vez mais perto de um futuro que outrora nos pareceu tão distante. Ao permear um novo ciclo de inovação, seria no mínimo imprudente palpitarmos qual avanço se sobressairia aos outros, talvez por opções excludentes poderíamos determinar um menor grupo de possibilidades, mas ainda assim nada preciso. Inegavelmente, seja qual for a frente vencedora, não podemos olvidar que a maioria das atuais proposições tecnológicas, sempre que dentro de padrões minimamente éticos e de segurança, promovem um avanço da qualidade de vida dos seres humanos, uma maior intersecção de áreas multidisciplinares, e um aprofundamento exaustivo nas relações humanas. Com base nas tendências mercadológicas detectadas a partir de 2020 e já refletidas em 2021, é possível afirmar que o futuro tecnológico está mais próximo do que imaginamos. E que saímos de 2020 muito mais fortes do que entramos, ao menos, tecnologicamente.
*Rodolfo Barrueco é legal manager e Asia legal affairs no Ebanx e cofundador do Observa China (think tank).
Fonte: https://www.nexojornal.com.br/ensaio/2021/O-come%C3%A7o-de-uma-nova-era-tecnol%C3%B3gica-e-as-inova%C3%A7%C3%B5es-de-2020?utm_source=NexoNL&utm_medium=Email&utm_campaign=anexo
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