Casos de falência e má administração revelam irregularidades nas finanças da Igreja, que tem o mesmo porte que muitas empresas norte-americanas
Dentre todas as organizações que ajudam os pobres nos EUA,
poucas fazem um trabalho melhor do que a Igreja Católica: suas escolas e
hospitais socorrem milhões de pessoas. No entanto, ainda que se leve em
conta essas virtudes, as finanças da Igreja nos EUA são uma enorme
confusão. Os pecados envolvidos em sua contabilidade não são tão
explícitos ou grotescos quanto aqueles que emergem dos diversos casos de
abuso sexual que custaram à Igreja norte-americana mais de US$ 3
bilhões até hoje; mas a má administração financeira e as práticas de
negócios questionáveis teriam provocado demissões em massa nos altos
escalões de qualquer instituição pública que não a própria Igreja.
Os escândalos de abusos sexuais dos últimos 20 anos sujaram o nome da
Igreja por todo o mundo. Nos EUA, tais casos também geraram
consequências financeiras. Mediante o estudo de autos processuais de
casos de falência, do exame de documentos públicos, da requisição de
documentos de governos municipais, estaduais e federal, bem como
através de conversas confidenciais com padres e bispos, a revista Economist tentou quantificar o estrago.
A imagem revelada não é nada favorável. As finanças da Igreja não
parecem estar sendo bem coordenadas, sobretudo considerando-se sua
complexidade. A administração de fundos em geral não é cuidadosa.
Recentemente, documentos vazados pelo ex-mordomo do papa Bento XVI para
um jornalista argentino sugeriram que a malversação do Vaticano vai além
da mera negligência.
A Economist estima que o gasto anual da Igreja e outras
entidades controladas pela Igreja nos EUA foi de cerca de US$ 170
bilhões em 2010 (a Igreja não divulga tais dados). A revista estima que
57% desse valor destina-se a redes de assistência média, seguidos de 28%
em faculdades, sendo que os custos cotidianos de paróquias e dioceses
representam apenas 6% do total, enquanto atividades nacionais de
caridade representaram apenas 2,7%. No total, as instituições católicas
empregam mais de 1 milhão de pessoas. Para fins de comparações
seculares, em 2010, a receita da General Electric foi de US$ 150 bilhões
e o Walmart tinha aproximadamente 2 milhões de empregados no mundo
todo.
Casos de abuso sexual e estupro de crianças por padres nos EUA
resultaram em mais de US$ 3,3 bilhões em pagamentos de indenização ao
longo dos últimos 15 anos, US$ 1,3 bilhões destes só na Califórnia. O
fato de que menos católicos estão se tornando freiras, monges e padres
acrescenta ainda mais pressão. Do lado da receita, estima-se que as
doações de fieis tenham caído em até 20%.
Ao longo dos últimos oito anos, uma combinação dessas tensões levou
oito dioceses a declararem falência, assim como o ramo norte-americano
dos Irish Christian Brothers e uma divisão regional dos jesuítas. Mais
das 196 dioceses norte-americanas podem ser forçadas a fazer o mesmo.
Além da administração financeira questionável, a Igreja também sofre
com fraudes e desvios, de acordo com Jason Berry, especialista em
finanças católicas. Em março, o diretor financeiro da arquidiocese de
Filadélfia foi preso e acusado de desviar mais de US$ 900 mil entre 2005
e 2011. Centenas de padres também foram advertidos por retirarem uma
quantidade excessiva de dinheiro das cestas de coleta para uso pessoal.
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