FILME ANTI-ISLÃ
Nos últimos dias, muito se falou do filme
que foi um dos responsáveis pelos protestos no Cairo, Iêmen e Líbia,
incluindo o que levou à morte o embaixador americano na Líbia e outros
três membros de sua equipe. Inicialmente, a mídia afirmou que o filme Innocence of Muslims
(Inocência dos Muçulmanos, tradução livre) havia sido feito por um
produtor israelense com o nome de Sam Bacile. Um dos americanos
envolvidos no filme disse, no entanto, que Bacile não era israelense e
que o nome era provavelmente um pseudônimo.
A AP emitiu uma correção extensa sobre como a agência identificou o
autor/diretor do filme como Bacile e como posteriormente foi incapaz de
confirmar a “existência da pessoa com esse nome” – que, na realidade,
era pseudônimo de Nakoula Basseley Nakoula. O The Wall Street Journal citou Bacile em sua reportagem e também emitiu uma correção.
Adrian Chen escreveu no Gawker que Bacile pode, na realidade, ser um membro da seita egípcia copta cristã. Bret Stephens, do The Wall Street Journal, ligou o suspeito ao nome de Abanob Basseley. A Time fez uma tabela com informações sobre quem são os supostos envolvidos no filme.
O próprio vídeo é tão estranho quanto seus bastidores. A AP e o The New York Times
divulgaram que o filme foi exibido diante de uma pequena plateia em um
cinema obscuro de Hollywood, mas houve questionamentos sobre como foi
produzido. Rosie Gray, do BuzzFeed, observou a qualidade amadora de
produção e de edição e levantou a hipótese se era meramente uma junção
de trechos de outros filmes. Tanto Gray quanto Sarah Abdurrahman, do On
the Media, observaram que todo nome e referência religiosa foi
claramente dublado, o que leva a crer que os atores acreditaram que o
filme era sobre algo completamente diferente. Adrian Chen, do Gawker,
conversou com uma atriz do filme que disse estar decepcionada sobre o
tema. James Poniewozik, da Time, lamentou o fato que um filme tão ridículo tenha gerado uma resposta tão violenta.
A liberdade de expressão na web
Há, ainda, outros ângulos editoriais à matéria. Diversos jornais
publicaram a foto do embaixador americano Christopher Stevens depois dos
ataques, alguns inclusive na capa. A ombudsman do New York Times,
Margaret Sullivan, defendeu a divulgação da foto online, mas afirmou
que não a publicaria na capa. O Departamento de Defesa dos EUA pediu ao
jornal para remover a foto – o que foi recusado.
A administração do presidente Barack Obama pediu ao YouTube que revisasse o trailer
do filme, para verificar se estaria de acordo com suas práticas de uso,
informou o secretário de imprensa Jay Carney. O Google listou oito
razões em sua página sobre normas de conduta de comunidades do YouTube
para tirar um vídeo do ar. Incitar protestos não é uma delas. Mas,
depois que a Casa Branca alertou que o filme espalhou violência no
Oriente Médio, o Google acabou bloqueando o acesso ao trailer no Egito, Líbia, Indonésia e Afeganistão, onde vive mais de ¼ do 1,6 bilhão de muçulmanos do mundo.
Especialistas legais e defensores de liberdades civis, por sua vez,
alegam que a controvérsia reforçou como empresas de internet, em sua
maior parte com sede nos EUA, tornaram-se árbitros globais da liberdade
de expressão, considerando temas complexos que tradicionalmente são
debatidos em cortes e, ocasionalmente, por tratados internacionais. “O
Google tem mais poder do que o governo egípcio ou americano”, opinou Tim
Wu, professor de direito da Universidade da Columbia. “A maior parte da
liberdade de expressão hoje não tem a ver com o governo, mas com
empresas”.
Ao bloquear temporariamente o vídeo em alguns países, especialistas
legais alegam que o Google implicitamente invocou o conceito de “perigo
claro e presente”. Essa é uma exceção-chave das proteções da Primeira
Emenda americana, na qual a liberdade de expressão é guardada de maneira
mais cuidadosa do que em qualquer lugar do mundo.
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Informações de Mark
Coddington [Nieman Journalism Lab, 14/9/12], de Craig Silverman
[Poynter, 14/9/12], de Craig Timberg [The Washington Post, 15/9/12] e de Byron Tau [Politico, 14/9/12].
Tradução e edição: Larriza Thurler
Fonte:
http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed712_os_bastidores_do_video_polemico_sobre_maome
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