Edson Athayde*
“Não
precisa ser homem, basta ser humano, basta ter sentimentos, basta ter
coração. Precisa saber falar e calar, sobretudo saber ouvir. Tem que
gostar de poesia, de madrugada, de pássaro, de sol, da lua, do canto,
dos ventos e das canções da brisa. (…) Não é preciso que seja de
primeira mão (…).” *
Um dia, você está num quarto de hotel qualquer, de uma cidade qualquer, de um país qualquer que não o seu, e há uma janela que não dá direito a uma paisagem bonita. Nessa cidade, onde você não conhece ninguém, nem tem vontade de conhecer, não há monumentos com história que compense a visita, nem restaurantes incensados pelo Guia Michelin, nem uma praia onde as pessoas aplaudem o pôr-do-sol. Nesse dia, nessa noite, nessa hora você lembra-se dos seus.
“Os seus”, interessa-me perceber melhor essa expressão. Creio que “os seus” pode incluir a família directa mas isso é redutor. Há quem não tenha, há quem tenha mas não se dá com ela, há quem só goste dela quando longe. Não vamos, pois, utilizar a família como régua para medir o perímetro exacto da pertença.
Há os amores e os amigos. Se permitem-me, corto também os primeiros da equação. Apesar das suas quatro letras, amor é palavra muito grande, mexe com muita coisa, nem sempre traz felicidade, para ser feliz é preciso amar e ser amado (o “ou” aqui não funciona).
Sobram os amigos. Não, a frase soa-me inexacta. Os amigos nunca deveriam sobrar, nunca deveriam ficar para o final, depois de todas as pessoas importantes. Amigos de segunda, amigos que não são prioritários, são amigos que não são.
“Procura-se um amigo para gostar dos mesmos gostos, que se comova, quando chamado de amigo. Que saiba conversar de coisas simples, de orvalhos, de grandes chuvas e das recordações de infância. Precisa-se de um amigo para não se enlouquecer. (…)” *
Um dia desses, num quarto de hotel cheio de móveis e vazio de emoções, tive tempo para fazer umas contas e dar nomes e caras e corpos e vozes e jeitos e defeitos e manias e qualidades e risos e choros a cada um dos amigos a quem posso chamar de “meus”.
Lembrei do tema ao ler que vai fazer agora um ano que a ONU ratificou o Dia da Amizade. E que ele poderá ser celebrado, em pleno, no 30 de Julho próximo. Nem acho importante as datas e efemérides. Só peço que não fique a espera de uma noite triste para lembrar (ligar, mandar um mail, um SMS, um postal, uma mensagem, este texto, sei lá eu) a quem deseja que os seus dias sejam felizes.
“Precisa-se de um amigo para se parar de chorar. (…) Para ter-se a consciência de que ainda se vive”.*
Ou como diria o meu Tio Olavo, citando um filósofo: “O que é um amigo? Uma única alma que habita dois corpos”.
* Trechos do texto “Procura-se um Amigo”, de Vinicius de Moraes.
Um dia, você está num quarto de hotel qualquer, de uma cidade qualquer, de um país qualquer que não o seu, e há uma janela que não dá direito a uma paisagem bonita. Nessa cidade, onde você não conhece ninguém, nem tem vontade de conhecer, não há monumentos com história que compense a visita, nem restaurantes incensados pelo Guia Michelin, nem uma praia onde as pessoas aplaudem o pôr-do-sol. Nesse dia, nessa noite, nessa hora você lembra-se dos seus.
“Os seus”, interessa-me perceber melhor essa expressão. Creio que “os seus” pode incluir a família directa mas isso é redutor. Há quem não tenha, há quem tenha mas não se dá com ela, há quem só goste dela quando longe. Não vamos, pois, utilizar a família como régua para medir o perímetro exacto da pertença.
Há os amores e os amigos. Se permitem-me, corto também os primeiros da equação. Apesar das suas quatro letras, amor é palavra muito grande, mexe com muita coisa, nem sempre traz felicidade, para ser feliz é preciso amar e ser amado (o “ou” aqui não funciona).
Sobram os amigos. Não, a frase soa-me inexacta. Os amigos nunca deveriam sobrar, nunca deveriam ficar para o final, depois de todas as pessoas importantes. Amigos de segunda, amigos que não são prioritários, são amigos que não são.
“Procura-se um amigo para gostar dos mesmos gostos, que se comova, quando chamado de amigo. Que saiba conversar de coisas simples, de orvalhos, de grandes chuvas e das recordações de infância. Precisa-se de um amigo para não se enlouquecer. (…)” *
Um dia desses, num quarto de hotel cheio de móveis e vazio de emoções, tive tempo para fazer umas contas e dar nomes e caras e corpos e vozes e jeitos e defeitos e manias e qualidades e risos e choros a cada um dos amigos a quem posso chamar de “meus”.
Lembrei do tema ao ler que vai fazer agora um ano que a ONU ratificou o Dia da Amizade. E que ele poderá ser celebrado, em pleno, no 30 de Julho próximo. Nem acho importante as datas e efemérides. Só peço que não fique a espera de uma noite triste para lembrar (ligar, mandar um mail, um SMS, um postal, uma mensagem, este texto, sei lá eu) a quem deseja que os seus dias sejam felizes.
“Precisa-se de um amigo para se parar de chorar. (…) Para ter-se a consciência de que ainda se vive”.*
Ou como diria o meu Tio Olavo, citando um filósofo: “O que é um amigo? Uma única alma que habita dois corpos”.
* Trechos do texto “Procura-se um Amigo”, de Vinicius de Moraes.
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* Cronista português.
Fonte: http://www.sabado.pt/Opiniao/Edson-Athayde/Procura-se-um-Amigo.aspx
OBS.: Texto digitado em português de Portugal.
Imagem da Internet
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