segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Vem aí a (i)conomia!

 

Estaremos nós na rota de um novo código de linguagem e significação, de uma economia dos ícones, 
de uma (i)conomia?

O que haverá em comum entre a internet, informação, imaterial, intangível, identidade, inteligência, inovação, invenção, imaginação? Estaremos nós na rota de um novo código de linguagem e significação, de uma economia dos ícones, de uma (i)conomia?

O advento da economia do imaterial e as novas cadeias de valor

Na arte da recomposição das cadeias de valor jogam um papel decisivo as “novas economias”: a economia do imaterial (os ícones), a economia circular (os 4R) e a economia das redes colaborativas (a partilha de recursos ociosos). O advento da economia imaterial é uma grande oportunidade para as convencionais cadeias de valor materiais. A grande novidade é a convergência destas três correntes da “nova economia política”. Podemos falar de uma economia a três dimensões (E3D) em que os factores imateriais são decisivos. É uma oportunidade para as regiões mais pobres em recursos materiais. As apelações de património imaterial por parte da UNESCO são disso um bom exemplo.

A economia circular e a recomposição das cadeias de valor

“Na natureza nada se cria, nada se perde tudo se transforma”. Tal como a economia do imaterial, também a economia circular transforma radicalmente as cadeias de produção e valor. A sinergia toma progressivamente o lugar da entropia. Os resíduos transformam-se em recursos e estes em actividades e rendimentos. Na mesma linha, a “economia dos bens adquiridos” transfere-se gradualmente para uma “economia de serviços prestados” e nesta transição a economia dos intangíveis passa a ter uma importância fundamental no desenho e na redefinição da cadeia de valor da mercadoria.

A economia de rede e partilha e as novas cadeias de valor

 No caso da economia da partilha chegamos lá por meio das redes colaborativas e de uma profunda renovação do capital social, sobretudo por via do acesso generalizado à cultura digital. As redes colaborativas recuperam o capital social e os recursos ociosos que tinham sido considerados uma espécie de resíduo do capitalismo industrial e, mais relevante ainda, ultrapassam as instituições burocráticas do capitalismo por meio de redes de baixo custo. Estas redes entram em choque frontal com os mercados convencionais e as suas cadeias de valor mais lucrativas são postas em causa por cadeias de valor colaborativas e solidárias. Os exemplos desta colisão frontal são cada vez mais frequentes como acontece neste momento em Portugal com a rede de taxis UBER.

A arte e a ciência das redes sociais

No plano analítico os territórios encontram-se na encruzilhada de três tipos de redes: as redes institucionais de geometria fixa, as redes sociais de geometria variável e as redes funcionais, também de geometria variável. Infelizmente, trocámos o capital social, um recurso barato e abundante da cooperação interpares, por capital institucional produzido por estruturas burocráticas do estado-central e do estado-local. A desafeição política pelos sistemas políticos domésticos tem a ver com este grave desequilíbrio: o poder reside mais nas redes institucionais e burocráticas do estado-administração e o capital social, mais difuso e inorgânico, nas redes sociais e funcionais. A consequência lógica diz-nos que o activismo político das gerações mais jovens passou a morar nas redes sociais e nas comunidades online onde procura pertencimento, identidade e reconhecimento. Estamos muito longe de uma interacção favorável e positiva entre comunidades online e offline.

E finalmente 

A economia a três dimensões (E3D) alarga o campo de possibilidades dos territórios mais desfavorecidos e a iconomia, nas suas três dimensões – imaterial, circular e colaborativa – alarga mais ainda a quantidade e qualidade dos “sinais distintivos territoriais” disponíveis, ao mesmo tempo que transforma decisivamente a composição das cadeias de valor convencionais e tradicionais. A grande questão que fica por resolver é a qualidade do capital social, isto é, a emergência de actores-rede que sejam capazes de conciliar “ordem com inteligência e imaginação”, em benefício dos territórios mais desfavorecidos.
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* Professor catedrático na Universidade do Algarve
 http://www.publico.pt/economia/noticia/vem-ai-a-iconomia-1718901
Imagem da Internet 
Português de Portugal.

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