quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Lévy e o idioma do amanhã

Filósofo Pierre Lévy explicou, durante a 14ª Jornada, uma nova língua que está desenvolvendo para o mundo virtualHá anos que Pierre Lévy tem a reputação de prever o futuro, uma vez que seus estudos e reflexões, feitos no calor da hora, anteciparam muitas das mudanças que as novas tecnologias estão trazendo ao mundo. Filósofo nascido na Tunísia, Lévy veio à 14ª Jornada de Passo Fundo também para mostrar que, mais do que ver, ele agora quer ajudar a fazer este futuro.
Lévy apresentou na sua conferência, na noite de terça-feira, no Palco de Debates da Jornada – e depois reiterou com mais detalhes na entrevista que concedeu ontem –, o projeto no qual vem trabalhando na última década: a criação de um idioma no qual serão feitas as reflexões do mundo virtual no futuro.
Com uma equipe reduzida, que inclui também matemáticos e engenheiros de computação, o filósofo naturalizado francês vem desenvolvendo o modelo de um idioma: a IEML (sigla de Information Economy Meta Language, ou “metaidioma de economia de informação”). A IEML (www.ieml.org) é um misto de linguagem de programação e linguagem natural. Uma língua que seria usada para a apresentação de proposições e combinações mais de conceitos do que de palavras.
– É uma linguagem em código, universal, em que cada palavra se referiria a um conceito e a combinação poderia formar frases e textos e também hipertextos. Não é uma linguagem para uso no papel nem para se falar, mas sim para o uso em computadores, com um software gratuito que será igualmente desenvolvido. É a língua na qual se fará a reflexão sobre as ideias no mundo digital.

Classificar conceitos no mundo virtual

A ideia de Lévy é transformar esta linguagem, já com bases teóricas estabelecidas, mas ainda em desenvolvimento, na ferramenta hipertextual que tornará o trânsito de ideias automaticamente traduzível tanto para os sistemas computadorizados quanto para as línguas naturais humanas.
– O uso disso será provavelmente para daqui a uma geração, acredito, mas mantenho esperança de que isso esteja implantando antes de eu morrer – brincou o pensador.
O novo idioma despertou curiosidade. Já havia dominado toda a palestra de Lévy na noite anterior, quando ele discorreu sobre a relação entre qualquer sistema de expressão e a mídia que lhe é correspondente. Discutiu detalhadamente como se processa uma ideia – composta de três camadas: a percepção, que passa pelo filtro da emoção e, por fim, é categorizada e classificada em conceitos. Com essa definição, passou então a analisar como serão as ideias no mundo dominado pela cultura digital.
– Encontrar a percepção no mundo digital é fácil. Tudo o que nos apresenta a tela está à nossa frente e tem um endereço URL. E a relação com o mundo digital é intensa e pautada cada vez mais pela polaridade do afeto: “Gosto” ou “Não gosto”. Mas essa cultura digital ainda não tem as ferramentas para desenvolver conceitos que a classifiquem, categorizem, façam-na objeto de reflexão – explicou.
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carlos.moreira@zerohora.com.br
Reportagemm por CARLOS ANDRÉ MOREIRA
Fonte: ZH on line, 25/08/2011

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