quarta-feira, 31 de agosto de 2011

O nome dele era Guri

Ruy Carlos Ostermann*
Imagem da Internet
Tenho saudade dos meus cachorros. Foram muitos, de várias raças, tamanhos e olhares, além do latido modulado que sabiam fazer de felicidade, espanto ou simplesmente porque precisavam de mais atenção. Mas o primeiro de todos, eu bem pequeno, na chácara de minha avó, em longos verões e invernos, era um policial que chamavam de Guri, o que o cercava de uma redução que nunca lhe permitiu ronronar, mostrar os dentes ou parecer esquivo. Ele abanava o rabo em reconhecimento. Morreu no trilho do trem, que fazia uma volta atrás da chácara. Soube depois, bem depois, na primeira visita que meus pais fizeram à vovó.
E sendo assim, fiquei afastado da casa, embaixo do caramanchão, cabeça baixa, muito triste e desconsolado. O Guri fora enterrado ali, ao pé da árvore, sem marca ou recado, a grama já havia reassumido sua planura. Botei duas pedras que estavam debaixo da casa, numa delas escrevi Guri, e me afastei. Era discreto, ninguém poderia se opor ou tirá-las dali. E se alguém, de passagem, se surpreendesse, bastava perguntar na casa quem era Guri e todos saberiam.
Tive muitos cachorros, cheguei até a querer outro Policial. Mas achei injusto, a memória mais verdadeira se faz da saudade e da perda.
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* Jornalista. Escritor. Cronista.
Fonte: Site Encontro com o professor, 31/08/2011

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