Dom Vincenzo Paglia participou dos trabalhos do 6º Fórum Internacional da Cúpula Mundial de Inovação para a Saúde, em Doha, Catar
VATICANO
Ainda hoje ouvimos como os sistemas de inteligência artificial podem melhorar a medicina de hoje e de amanhã de uma maneira incrível. Devemos ser orgulhosos e agradecidos. Meu desejo é que a atenção primária ao ser humano esteja sempre presente em quem lida com uma área tão íntima e delicada", disse o presidente da Pontifícia Academia para a Vida no encontro em Doha, no Catar.
Vatican News
Inteligência artificial, no âmbito de um debate sobre ética islâmica e desafios contemporâneos, saúde infantil e engenharia genética. Este são os dois temas que o presidente da Pontifícia Academia para a Vida, dom Vincenzo Paglia, abordou nesta terça-feira (04/10), em Doha, no Catar, no âmbito dos trabalhos do 6º Fórum Internacional organizado pela Cúpula Mundial de Inovação para a Saúde (World Innovation Summit for Health).
"Fiquei particularmente satisfeito com a oportunidade de participar dos trabalhos, porque se confirma a importante colaboração com a Cúpula Mundial de Inovação para a Saúde e sua diretora executiva, drª Sultana Afdhal, no contexto de uma reflexão mais ampla sobre o papel que as religiões podem desempenhar diante dos grandes temas da inovação tecnológica e da saúde", disse dom Paglia antes de deixar Doha.
Na carta convite, a drª Sultana Afdhal escreveu a dom Paglia: "Tenho o prazer de convidá-lo para participar de um painel de debate sobre Ética Islâmica e Saúde das Crianças na Era da Genética, e outro sobre Ética Islâmica e Inteligência Artificial na 6ª Cúpula Mundial de Inovação para a Saúde (WISH), que será realiza de 4 a 6 de outubro deste ano, em Doha, Catar."
Nesta terça-feira, em Doha, dom Vincenzo Paglia participou de dois painéis. O primeiro sobre Ética Islâmica e Inteligência Artificial, pela manhã.
Sobre a relação entre saúde e sistemas de Inteligência Artificial, dom Paglia disse: "Ainda hoje ouvimos como os sistemas de inteligência artificial podem melhorar a medicina de hoje e de amanhã de uma maneira incrível. Devemos ser orgulhosos e agradecidos. Meu desejo é que a atenção primária ao ser humano esteja sempre presente em quem lida com uma área tão íntima e delicada. E para isso, são necessárias pelo menos duas atenções: a primeira, diz respeito à justiça: é muito triste se esses sistemas sofisticados e particularmente eficientes estiverem disponíveis apenas para aqueles poucos que podem pagar. Devemos trabalhar para garantir que o melhor remédio para cada paciente e doença esteja disponível para ele. A segunda, é de ordem antropológica. A medicina hipertecnológica de hoje corre o risco de criar uma distância entre médico e paciente. O artefato tecnológico se interpõe entre os dois, mediando, às vezes de forma absoluta, essa relação. Como disse antes, temos em mente uma inteligência artificial que coloca a pessoa no centro. No setor da saúde, a pessoa do paciente e a do médico. Ambas. Permitam-me um exemplo que extraio do Evangelho, onde há inúmeras curas realizadas por Jesus, com uma exceção, Jesus curou apenas aqueles que ele podia tocar e ver pessoalmente. Ele não curava remotamente: ele queria ver seus pacientes. A cura é uma coisa humana, surge do encontro de pessoas, não pode ser reduzida a uma prática tecnológica. Os corpos dos homens não são máquinas para serem curadas com eficiência fria. Desejo que todos os médicos presentes usem sistemas avançados de inteligência artificial que não os façam perder o dom da compaixão".
No segundo painel, dom Paglia abordou a questão da saúde dos menores na era da pesquisa genética. "Enquanto o diagnóstico incide na procura de patologias específicas em indivíduos com perfis de risco acentuados, o rastreio é utilizado em grupos maiores, analisando segmentos cada vez maiores do genoma. A informação assim recolhida permite identificar e eliminar as variantes genéticas consideradas desvantajosas, mesmo quando não está claro se podem realmente ser consideradas patológicas: uma espécie de eugenia preventiva. Estamos, portanto, numa área em que é necessário articular com consciência uma multiplicidade de aspectos: a situação ligada aos dados biológicos no caso único; o ambiente de bem-estar social em que a pessoa doente pode se inserir e ser acolhida; a reflexão mais geral sobre o papel da genética na visão global da pessoa humana e do corpo social a que pertence. A lógica implícita de controle e conformação a um modelo ideal (de perfeição) corre o risco de induzir uma concepção errônea da condição humana, como se fosse possível eliminar o limite, a "imperfeição", a vulnerabilidade que são, ao contrário, condições intrínsecas do ser humano e pedem cuidado e confiança mútuos. É neste contexto que devem então ser avaliados os elementos presentes no diagnóstico genético: custos e benefícios para a saúde pessoal e pública, métodos de gestão da informação, respeito pela autonomia dos doentes (proporcional à idade e a todas as relações familiares). Na perspectiva cristã, portanto, a natureza é confiada ao homem que é livre para intervir, mas segundo critérios que respeitam a dignidade da pessoa e o direito à vida, numa lógica de acolhimento e cuidado de todos os envolvidos."
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