Juremir Machado da Silva*
Chamou muita atenção o projeto de lei do
prefeito de Biritiba Mirim, em São Paulo, proibindo, por falta de espaço
no cemitério, os cidadãos de morrer. Tem gente que não pensa noutra
coisa. Fica difícil para qualquer planejamento municipal. Era mais uma
lei para não pegar no Brasil. Biritiba Mirim já fez parte de Mogi das
Cruzes. Pelo jeito, continua o seu processo de emancipação. Cruzes,
nunca mais. Até aí, bem pensado, nada demais. Afinal, Biritiba Mirim é
um ajuntamento de 28.573 almas (com a proibição de morrer, esse dado
deve permanecer inalterado) cujos limites são Bertioga, Guararema e
Salesópolis, além, claro, de Mogi. O problema é que a grande Barcelona,
na Espanha, quer adotar, com a melhor da intenções, uma lei também
fadada ao fracasso.
Barcelona quer abolir a prostituição. Trata-se de algo tão exequível quanto abolir a segunda mais antiga profissão do mundo, no dizer do falecido Paulo Francis, o jornalismo. O mais interessante é a justificativa. A municipalidade catalã quer abolir a prostituição por uma questão de civismo. Dar um pulo à zona é antipatriótico. Será que há muita bandeira sem mastro? Ou muita bandeira a meio-pau? Ou não se canta o hino antes do ataque final? O assunto é muito sério e politicamente correto. O conselheiro do Bem-Estar Social e Família, Josep Luís Cleries, defende que essa ideia altamente moral está em conformidade com "o estado ideal último da abolição". Morrer, em Biritiba Mirim, e pagar para gozar, em Barcelona, prejudicam o bom andamento da vida social.
A capital espanhola, a radiosa Madri, também pretende atingir o mesmo objetivo. A explicação da prefeita Ana Botella explicita a luta de classes na sexualidade: "Sou contra legalizar a prostituição. Só teria sentido para quem a exerça como uma decisão livre, talvez alguns casos de prostituição de luxo, mas, para a imensa maioria, o que vemos é a forma mais vil de escravidão que as mulheres sofrem no século 21". Só falta combinar com os russos. Quer dizer, com as espanholas. Tanto que será necessário saber se a boa intenção "não menospreza os direitos fundamentais das afetadas". Os holandeses, por exemplo, consideram esse tipo de intenção ou de lei um atentado à sagrada liberdade individual do uso do próprio corpo para fins comerciais ou, numa linguagem mais economicista, um golpe contra a lei da oferta e da procura. No popular, ninguém pode impedir um adulto de dar ou vender o que é seu. Pode convencê-lo.
Há pouco tempo, na Holanda, a revista Foxy (um nome sonoro) comemorou sua centésima edição com uma promoção marcante: ofereceu ao vencedor de um concurso 1 hora com uma prostituta, Priscilla, que cobra o equivalente a R$ 485 por programa. O patriotismo nunca foi o forte dos holandeses. Sempre se concentraram mais nos negócios. Deve ser por isso que nunca tiveram um Franco no poder. Barcelona quer acabar com a prostituição de rua. Amsterdã fez isso colocando as prostitutas em vitrines. Cada cultura com a sua visão de mundo e com os seus métodos. O orgasmo é chamado de pequena morte. Daí a relação entre Biritiba Mirim e Barcelona. Uma questão de plano diretor.
----------------------------------Barcelona quer abolir a prostituição. Trata-se de algo tão exequível quanto abolir a segunda mais antiga profissão do mundo, no dizer do falecido Paulo Francis, o jornalismo. O mais interessante é a justificativa. A municipalidade catalã quer abolir a prostituição por uma questão de civismo. Dar um pulo à zona é antipatriótico. Será que há muita bandeira sem mastro? Ou muita bandeira a meio-pau? Ou não se canta o hino antes do ataque final? O assunto é muito sério e politicamente correto. O conselheiro do Bem-Estar Social e Família, Josep Luís Cleries, defende que essa ideia altamente moral está em conformidade com "o estado ideal último da abolição". Morrer, em Biritiba Mirim, e pagar para gozar, em Barcelona, prejudicam o bom andamento da vida social.
A capital espanhola, a radiosa Madri, também pretende atingir o mesmo objetivo. A explicação da prefeita Ana Botella explicita a luta de classes na sexualidade: "Sou contra legalizar a prostituição. Só teria sentido para quem a exerça como uma decisão livre, talvez alguns casos de prostituição de luxo, mas, para a imensa maioria, o que vemos é a forma mais vil de escravidão que as mulheres sofrem no século 21". Só falta combinar com os russos. Quer dizer, com as espanholas. Tanto que será necessário saber se a boa intenção "não menospreza os direitos fundamentais das afetadas". Os holandeses, por exemplo, consideram esse tipo de intenção ou de lei um atentado à sagrada liberdade individual do uso do próprio corpo para fins comerciais ou, numa linguagem mais economicista, um golpe contra a lei da oferta e da procura. No popular, ninguém pode impedir um adulto de dar ou vender o que é seu. Pode convencê-lo.
Há pouco tempo, na Holanda, a revista Foxy (um nome sonoro) comemorou sua centésima edição com uma promoção marcante: ofereceu ao vencedor de um concurso 1 hora com uma prostituta, Priscilla, que cobra o equivalente a R$ 485 por programa. O patriotismo nunca foi o forte dos holandeses. Sempre se concentraram mais nos negócios. Deve ser por isso que nunca tiveram um Franco no poder. Barcelona quer acabar com a prostituição de rua. Amsterdã fez isso colocando as prostitutas em vitrines. Cada cultura com a sua visão de mundo e com os seus métodos. O orgasmo é chamado de pequena morte. Daí a relação entre Biritiba Mirim e Barcelona. Uma questão de plano diretor.
* Sociólogo. Escritor. Tradutor. Prof. Universitário. Cronista do Correio do Povo
juremir@correiodopovo.com.br
Fonte: Correio do Povo on line, 30/03/2012
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