Em 'Hitlerland', Andrew Nagorski reúne relatos de norte-americanos na Alemanha durante os anos que antecederam a chegada de Adolf Hitler ao poder
Alguns livros sobre a Alemanha nazista suscitam a questão, “O que eu teria feito?” Os leitores de Hitlerland: American Eyewitnesses to the Nazi Rise to Power
(Terra de Hitler: Testemunhas oculares norte-americanas da ascensão dos
nazistas ao poder) podem, ao invés disso perguntar: “O que eu teria
pensado?” Andrew Nagorski escreveu uma crônica interessante das opiniões
dos norte-americanos na Alemanha durante os anos entre as guerras até o
ataque do Japão a Pearl Harbor, em 1941. O que acham do país que passou
da desordem de Weimar para a loucura do Hitlerismo?
A Alemanha era um lugar popular na época, dando a Nagorski um rico
elenco de personagens. “O mundo estava sendo criado aqui”, escreveu
Philip Johnson, um arquiteto norte-americano, da Berlim pré-nazista. A
ascensão de Hitler trouxe ainda mais fascínio. Charles Lindbergh, um
aviador americano, foi tolo o suficiente para ser usado por ambos os
nazistas e os norte-americanos. John F. Kennedy faz uma aparição
energética nas páginas do livro, como um estudante universitário.
Este livro nos reapresenta a Ernst “Putzi” Hanfstaengl, um
excessivamente benevolente pós-graduando teuto-americano de Harvard,
que se posicionou entre Hitler e a imprensa estrangeira e que se gabava
de ser a ponte do Führer para os Estados Unidos. Hitler, por sua vez,
cobiçava a esposa de Hanfstaengl, que pegou sua arma antes que ele
pudesse atirar em si mesmo após o fracasso do Putsch da Cervejaria, uma
mal sucedida tentativa de golpe, em 1923. Hanfstaengl eventualmente caiu
em desgraça, e escapou por pouco de ser arremessado de um avião (com um
paraquedas) sobre os territórios dominados pelos republicanos na
Espanha. Sua paixão por Hitler permaneceu.
Livro acompanha crescimento do nazismo na visão de norte-americanos na Alemanha
Mais sábia era Martha Dodd, a namoradeira filha do embaixador
norte-americano. Ela flertou com o nazismo (por meio de nazistas
bonitos), mas depois arranjou um amante soviético e tornou-se uma espiã.
Um jornalista veterano, com passagem pela Newsweek, Nagorski
parece mais interessado nas histórias de diplomatas e companheiros
jornalistas. Eles ganham um retrato melhor do que seus compatriotas de
passeios, mesmo que seus pontos de vista iniciais tenham estado longe da
verdade. Dorothy Thompson, jornalista de celebridades e esposa do
romancista Sinclair Lewis, publicou um livro em 1932 chamado “I Saw Hitler!”
(“Vi Hitler”). Ela o considerou um “homem pequeno com um rosto do ator …
capaz de ser empurrado para fora ou para dentro”, enquanto o Presidente
Hindenburg parecia “esculpido numa rocha”. A “tragédia” de Hitler,
escreveu ela, “é que ele subiu muito alto”. No ano seguinte, ele chegou
ao poder.
Em 1934 o tom de Thompson tinha mudado, e seus relatos fizeram dela a
primeira jornalista a ser expulsa pelos nazistas. Em seu retorno aos
Estados Unidos, ela disse: “A Alemanha já está em guerra e o resto do
mundo não acredita nisso”.
George Messersmith, um cônsul geral norte- americano em Berlim, que
já antevia a ameaça hitlerista “desenvolveu o hábito de não se deixar
enganar pelos nazistas”, escreve Nagorski. “Um homem pequeno tomou as
rédeas de homens ainda menores”, observou Edgar Mowrer, que ganhou o
prêmio Pulitzer para o Chicago Daily News. No momento em que Hitler se tornou Führer em 1933, sua selvageria era mais difícil de ser ignorada.
Em geral, os norte-americanos na Berlim pré-guerra tiveram a
inteligência para perceber o que estava por vir, e assim ajudaram a
preparar seus compatriotas para “os anos de derramamento de sangue e
luta pela frente”. No entanto, Hitlerland traz de volta à vida
algumas ilusões iniciais sobre a ascensão de Hitler que agora parecem
impensáveis. Qualquer leitor tentando decifrar o mundo de hoje será
perturbado pela lembrança de como é fácil fazer as coisas erradas.
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