Luiz Fernando Veríssimo*
E os fariseus trouxeram a Jesus uma mulher apanhada em
adultério e perguntaram a Jesus se ela não deveria ser apedrejada até a
morte, como mandava a lei de Moisés. E disse Jesus: aquele entre vós que
estiver sem pecado, que atire a primeira pedra. E a vida da mulher foi
poupada, pois nenhum dos seus acusadores era sem pecado. Assim está na
Bíblia, Evangelho de São João 8, 1 a 11.
Mas imagine que a Bíblia não tenha contado toda a história. Tudo o que realmente aconteceu naquela manhã, no Monte das Oliveiras. Na versão completa do episódio, um dos fariseus, depois de ouvir a frase de Jesus, pega uma pedra do chão e prepara-se para atirá-la contra a mulher, dizendo: “Eu estou sem pecado!”.
– Pera lá – diz Jesus, segurando o seu braço. – Você é um adúltero conhecido. Larga a pedra.
– Ah. Pensei que adultério só fosse pecado para as mulheres – diz o fariseu, largando a pedra.
Outro fariseu junta uma pedra do chão e prepara-se para atirá-la contra a mulher, gritando: “Nunca cometi adultério, sou puro como um cordeiro recém-nascido!”.
– Falando em cordeiro – diz Jesus, segurando o seu braço também – e aquele rebanho que você foi encarregado de trazer para o templo, mas no caminho desviou 10% para o seu próprio rebanho?
– Nunca ficou provado nada! – protesta o fariseu.
– Mas eu sei – diz Jesus. – Larga a pedra.
Um terceiro fariseu pega uma pedra do chão e prepara-se para atirá-la contra a adúltera, dizendo: “Não só não sou corrupto como sempre combati a corrupção. Fui eu que denunciei o escândalo da propina paga mensalmente a sacerdotes para apoiar os senhores do templo”.
– Mas foste tu o primeiro a receber propina – diz Jesus, segurando seu braço.
– No meu caso foi para melhor combater a corrupção!
– Larga a pedra.
Um quarto fariseu junta uma pedra do chão e prepara-se para atirá-la contra a mulher, dizendo: “Não tenho pecados, nem da carne, nem de cupidez ou ganância!”.
– Ah, é? – diz Jesus, segurando o seu braço. – E aquela viúva que exploravas, tirando-lhe todo o dinheiro?
– Mas isto foi há muito tempo, e a mulher já morreu.
– Larga a pedra, vai.
E, quando os fariseus se afastam, um discípulo pergunta a Jesus:
– Mestre, que lição podemos tirar deste episódio?
– Evitem a hipocrisia e o moralismo relativo – diz Jesus.
E pensando um pouco mais adiante:
– E, se possível, a política partidária.
Mas imagine que a Bíblia não tenha contado toda a história. Tudo o que realmente aconteceu naquela manhã, no Monte das Oliveiras. Na versão completa do episódio, um dos fariseus, depois de ouvir a frase de Jesus, pega uma pedra do chão e prepara-se para atirá-la contra a mulher, dizendo: “Eu estou sem pecado!”.
– Pera lá – diz Jesus, segurando o seu braço. – Você é um adúltero conhecido. Larga a pedra.
– Ah. Pensei que adultério só fosse pecado para as mulheres – diz o fariseu, largando a pedra.
Outro fariseu junta uma pedra do chão e prepara-se para atirá-la contra a mulher, gritando: “Nunca cometi adultério, sou puro como um cordeiro recém-nascido!”.
– Falando em cordeiro – diz Jesus, segurando o seu braço também – e aquele rebanho que você foi encarregado de trazer para o templo, mas no caminho desviou 10% para o seu próprio rebanho?
– Nunca ficou provado nada! – protesta o fariseu.
– Mas eu sei – diz Jesus. – Larga a pedra.
Um terceiro fariseu pega uma pedra do chão e prepara-se para atirá-la contra a adúltera, dizendo: “Não só não sou corrupto como sempre combati a corrupção. Fui eu que denunciei o escândalo da propina paga mensalmente a sacerdotes para apoiar os senhores do templo”.
– Mas foste tu o primeiro a receber propina – diz Jesus, segurando seu braço.
– No meu caso foi para melhor combater a corrupção!
– Larga a pedra.
Um quarto fariseu junta uma pedra do chão e prepara-se para atirá-la contra a mulher, dizendo: “Não tenho pecados, nem da carne, nem de cupidez ou ganância!”.
– Ah, é? – diz Jesus, segurando o seu braço. – E aquela viúva que exploravas, tirando-lhe todo o dinheiro?
– Mas isto foi há muito tempo, e a mulher já morreu.
– Larga a pedra, vai.
E, quando os fariseus se afastam, um discípulo pergunta a Jesus:
– Mestre, que lição podemos tirar deste episódio?
– Evitem a hipocrisia e o moralismo relativo – diz Jesus.
E pensando um pouco mais adiante:
– E, se possível, a política partidária.
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* Escritor. Cronista da ZH
Fonte: ZH on line, 29/03/2012
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