ARGENTINA
Biografia recém-lançada na Espanha e
América Latina foi condenada
por astro do Barcelona
Lionel Messi, 24, é o melhor jogador do mundo, e as comparações com Pelé
e Maradona rendem longas discussões entre especialistas e torcedores
fanáticos.
Mas, se há um ponto em que parece haver uma unanimidade, é o de que a
vida do meia-atacante carece de graça, de complexidade, de anedotas ou
escândalos.
Messi namora a mesma moça desde que era garoto, ficou apavorado quando
se tornou capitão da seleção porque não sabia o que dizer aos colegas no
vestiário e, quando adolescente, comia sempre na última fila do
refeitório da Masía (centro de formação do Barcelona) para falar o menos
possível com os companheiros.
Os exemplos se acumulam. Mas, onde todos veem uma vida sem charme, o
jornalista argentino Leonardo Faccio, 41, encontrou tema para um ensaio
biográfico em que tenta explicar o lado humano do fenômeno e o efeito
que ele causa nas pessoas.
"Messi provoca felicidade e suspense. É capaz de hipnotizar e servir de
modelo sem ter que abrir a boca", afirma o autor de "Messi - El Chico
que Siempre Llegaba Tarde (y Hoy Es el Primero)", recém-lançado na
Espanha e nos países da América hispânica pela editora Debate.
O livro está dividido em três partes, escritas ao longo dos três anos em
que Faccio seguiu o jogador do Barcelona. Não por acaso, são até aqui
os mais vertiginosos da carreira do craque argentino, nos quais
conquistou seguidamente o prêmio de melhor jogador do mundo.
A primeira parte é uma entrevista feita pelo autor, em Barcelona, em
2009. A segunda, a descrição da gravação de um comercial de chuteiras em
que ele era o garoto-propaganda. A terceira, o relato da noite da
entrega do prêmio de melhor do mundo da Fifa do ano passado.
Faccio entrevistou amigos, familiares, funcionários da Masía e
ex-agentes, enquanto Messi vigiava seus passos por mensagens de texto.
"Ele ficou sabendo de todas as entrevistas, há uma rede que o informa",
declarou Faccio.
'ESCAPADAS'
A recepção do livro por parte do jogador, porém, não foi a esperada. A Fundação Messi emitiu um comunicado condenando a obra.
As descrições de algumas "escapadas" de Messi com mulheres, além das
declarações de dois ex-agentes com quem tem problemas judiciais,
provavelmente provocaram o rechaço da família.
Um dos pequenos escândalos que conta o livro é o da prisão da
"relações-públicas" Gabriela Vitale. Suspeita de ter relações com um
narcotraficante, Gabriela teve seu celular confiscado. Entre as
mensagens de texto, uma de Messi dizendo que ficava excitado pensando
nela.
"Para a cabeça desses meninos, deve ser uma coisa difícil demais de
entender. Como tudo funcionou para um, e o outro levará uma vida comum
como a de tantos outros?"
Faccio reforça que são significativos os laços com os amigos de infância
e companheiros de Newell's Old Boys, seu primeiro clube. Messi só
confia nas pessoas a quem conhecia antes da fama.
"Dentro do campo, ele ousa, arrisca, busca a arte. Na vida pessoal, quer segurança", afirmou o escritor.
Um dos perfis mais interessantes que aparecem no livro é o de Rafael
Blázquez, que conviveu com Messi por quatro anos na Masía. Os dois
jogadores tinham um perfil parecido e os mesmos sonhos.
Só que Messi virou Messi, e Rafael ficou no anonimato. Apesar da
dedicação, não emplacou no futebol. Hoje trabalha em uma fábrica e
estava em uma cadeira de rodas por conta de um acidente. Messi ainda se
comunica com o colega com frequência.
"Para a cabeça desses meninos, deve ser uma coisa difícil demais de
entender. Como tudo funcionou para um, e o outro levará uma vida comum
como a de tantos outros?", disse Faccio.
Sobre o eterno problema com a torcida argentina, que ainda resiste em
aceitar Messi como um verdadeiro ídolo, Faccio afirma que se trata de
uma questão cultural.
"Há um perfil de mito argentino que se repete. O daquele gênio que se
torna universal, antes de ser argentino. Aconteceu com Jorge Luis
Borges, com Che Guevara, com Piazzolla. E agora com Messi", completou.
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Reportagem por SYLVIA COLOMBO DE BUENOS AIRESFonte: Folha on line, 10/03/2012
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