sábado, 10 de março de 2012

Livro mostra timidez e 'escapadas' de Messi

ARGENTINA
Biografia recém-lançada na Espanha e 
América Latina foi condenada 
por astro do Barcelona
Lionel Messi, 24, é o melhor jogador do mundo, e as comparações com Pelé e Maradona rendem longas discussões entre especialistas e torcedores fanáticos.
Mas, se há um ponto em que parece haver uma unanimidade, é o de que a vida do meia-atacante carece de graça, de complexidade, de anedotas ou escândalos.
Messi namora a mesma moça desde que era garoto, ficou apavorado quando se tornou capitão da seleção porque não sabia o que dizer aos colegas no vestiário e, quando adolescente, comia sempre na última fila do refeitório da Masía (centro de formação do Barcelona) para falar o menos possível com os companheiros.
Os exemplos se acumulam. Mas, onde todos veem uma vida sem charme, o jornalista argentino Leonardo Faccio, 41, encontrou tema para um ensaio biográfico em que tenta explicar o lado humano do fenômeno e o efeito que ele causa nas pessoas.
"Messi provoca felicidade e suspense. É capaz de hipnotizar e servir de modelo sem ter que abrir a boca", afirma o autor de "Messi - El Chico que Siempre Llegaba Tarde (y Hoy Es el Primero)", recém-lançado na Espanha e nos países da América hispânica pela editora Debate.
O livro está dividido em três partes, escritas ao longo dos três anos em que Faccio seguiu o jogador do Barcelona. Não por acaso, são até aqui os mais vertiginosos da carreira do craque argentino, nos quais conquistou seguidamente o prêmio de melhor jogador do mundo.
A primeira parte é uma entrevista feita pelo autor, em Barcelona, em 2009. A segunda, a descrição da gravação de um comercial de chuteiras em que ele era o garoto-propaganda. A terceira, o relato da noite da entrega do prêmio de melhor do mundo da Fifa do ano passado.
Faccio entrevistou amigos, familiares, funcionários da Masía e ex-agentes, enquanto Messi vigiava seus passos por mensagens de texto. "Ele ficou sabendo de todas as entrevistas, há uma rede que o informa", declarou Faccio. 

'ESCAPADAS'
A recepção do livro por parte do jogador, porém, não foi a esperada. A Fundação Messi emitiu um comunicado condenando a obra.
As descrições de algumas "escapadas" de Messi com mulheres, além das declarações de dois ex-agentes com quem tem problemas judiciais, provavelmente provocaram o rechaço da família.
Um dos pequenos escândalos que conta o livro é o da prisão da "relações-públicas" Gabriela Vitale. Suspeita de ter relações com um narcotraficante, Gabriela teve seu celular confiscado. Entre as mensagens de texto, uma de Messi dizendo que ficava excitado pensando nela. 

 "Para a cabeça desses meninos, deve ser uma coisa difícil demais de entender. Como tudo funcionou para um, e o outro levará uma vida comum como a de tantos outros?"

Faccio reforça que são significativos os laços com os amigos de infância e companheiros de Newell's Old Boys, seu primeiro clube. Messi só confia nas pessoas a quem conhecia antes da fama.
"Dentro do campo, ele ousa, arrisca, busca a arte. Na vida pessoal, quer segurança", afirmou o escritor.
Um dos perfis mais interessantes que aparecem no livro é o de Rafael Blázquez, que conviveu com Messi por quatro anos na Masía. Os dois jogadores tinham um perfil parecido e os mesmos sonhos.
Só que Messi virou Messi, e Rafael ficou no anonimato. Apesar da dedicação, não emplacou no futebol. Hoje trabalha em uma fábrica e estava em uma cadeira de rodas por conta de um acidente. Messi ainda se comunica com o colega com frequência.
"Para a cabeça desses meninos, deve ser uma coisa difícil demais de entender. Como tudo funcionou para um, e o outro levará uma vida comum como a de tantos outros?", disse Faccio.
Sobre o eterno problema com a torcida argentina, que ainda resiste em aceitar Messi como um verdadeiro ídolo, Faccio afirma que se trata de uma questão cultural.
"Há um perfil de mito argentino que se repete. O daquele gênio que se torna universal, antes de ser argentino. Aconteceu com Jorge Luis Borges, com Che Guevara, com Piazzolla. E agora com Messi", completou. 
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Reportagem por SYLVIA COLOMBO DE BUENOS AIRES
Fonte: Folha on line, 10/03/2012
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