David Coimbra*
Volta e meia vejo mulheres encantadas com uma mudança no
comportamento dos homens de hoje. Constatam elas, embevecidas, que os
homens se transformaram em bons pais. E é verdade. Em geral, os pais da
minha geração tratam os filhos com desvelo e carinho, ao contrário de
seus próprios pais, que não se comoviam com crianças, nem com as que
eles produziam.
O que as mulheres não compreenderam ainda é que isso é fruto da
infalível lei de compensações da Natureza. Os homens de hoje são
melhores pais porque elas, as mulheres, são piores mães.
Os homens cozinham como antes não cozinhavam, cuidam da casa como
antes não cuidavam e tratam os filhos como antes não tratavam porque as
mulheres deixaram de fazer tudo isso tão bem como faziam.
Mas esse fenômeno não vilaniza as mulheres, de jeito algum. As
mulheres de hoje são assim também devido à infalível lei de compensações
da Natureza. As mulheres tiveram de “sair de casa” para trabalhar. Não
foi uma opção delas, não foi uma luta delas. Não. Foi uma exigência da
realidade capitalista. O mercado precisava das mulheres trabalhando e
consumindo, e o mercado sempre alcança o que precisa.
Então, entrou em ação mais uma vez a infalível lei de compensações da
Natureza. Servir a dois senhores ao mesmo tempo é tarefa árdua, como já
ensinou Jesus. Uma mulher que dá mais atenção ao trabalho dará menos
atenção aos filhos. Olhe em volta. Todas essas mulheres trabalhando.
Onde elas estariam há 40 anos? Em casa, zelando pelos filhos. Se não
estão lá, com quem estão seus filhos? Com educadores terceirizados. Para
suprir um pouco essa falta, os homens tiveram de dar menos atenção ao
trabalho e mais aos filhos.
Mas não basta. A figura da mãe é poderosa demais para ser substituída
por pais em meio período ou por babás em período integral. O resultado é
a depressão endêmica e a decadência moral, ambas subprodutos da
carência emocional. Por que alguns bandidos não se limitam a roubar, e
usam de crueldade? Por que as pessoas são agressivas nas redes sociais,
no trânsito ou no contato com indefesas operadoras de telemarketing? Por
que as pessoas têm cada vez menos respeito pelas outras pessoas? Porque
não tiveram mãe o suficiente. Porque não tiveram AMOR DE MÃE o
suficiente.
Mas não adianta, nunca mais as pessoas sentirão nostalgia por mães
com o chinelo na mão, o avental todo sujo de ovo, porque essas mães
estão extintas feito mamutes e pássaros dodôs. Hoje, as mulheres têm
orgulho de não saber cozinhar, imagine. O único paliativo reside... na
infalível lei de compensações da Natureza: contrabalançar com doses
maciças de educação formal e punição dura, receita empregada na velha
Europa. Punir é mais didático e econômico do que fiscalizar,
ressalte-se. Punir também educa – vide o chinelo na mão das mães de
outrora. Não resolverá o problema da depressão, mas será um paliativo
para a decadência moral.
É assim, tudo muda. O que nem sempre é ruim. Até no caso das novas
mães. Olhe para elas. Para suas roupas. Para a forma como caminham pela
superfície do planeta. Uma mãe de 40 anos, hoje, equivale a uma de 28 da
geração passada. Uma mulher no mercado de trabalho é uma mulher atenta
às aparências. À sua aparência. Ela se besunta com cremes de US$ 150,
ela faz pilates, cada pequeno pedaço do corpo dessa mulher é tratado
como se deve tratar... um filho. A infalível lei de compensações da
Natureza tem suas vantagens.
-----------------------------------
* Colunista da ZH
Fonte: ZH on line, 23/03/2012
Imagem da Internet
Nenhum comentário:
Postar um comentário