Fernanda B. Mûller*
O costume de não planejar o caminho para se alcançar determinados
objetivos não é exclusividade dos brasileiros, esta cultura do curto
prazo é uma característica generalizada da humanidade e já estamos
pagando o preço por décadas de descaso.
Um novo estudo envolvendo pesquisadores internacionais e coordenado
pelo Instituto Ambiental de Estocolmo (SEI, em inglês) estima que apenas
as mudanças do clima podem reduzir o valor econômico dos recursos
marinhos em até US$ 2 trilhões ao longo deste século.
“Valorando o Oceano”,que será publicado na forma de um livro revisado
por cientistas até o final do ano, ressalta que precisamos urgentemente
de uma abordagem integrada para proteção das imensidões azuis.
Grande parte do estudo se dedica à quantificação dos custos da
degradação dos oceanos, geralmente invisível nas análises de
custo-benefício incluídas nas políticas atuais. Os custos são avaliados
ao longo dos próximos 50 e 100 anos sob cenários de altas e baixas
emissões e em cinco categorias: pesca, turismo, aumento do nível do mar,
tempestades e estoque de carbono.
O montante relacionado à inação aumenta muito com o tempo, um fator
que precisa ser reconhecido integralmente na contabilização das mudanças
do clima”, alerta Frank Ackerman, diretor do Grupo de Economia
Climática do SEI-Estados Unidos.
Apesar da mudança no clima ser uma ameaça gigantesca, não é a única.
Um ponto chave do relatório é que a convergência de estressores
múltiplos – acidificação, aquecimento, hipoxia, aumento do nível do mar,
poluição e sobreuso dos recursos marinhos – podem levar a danos muito
maiores do que individualmente.
O estudo não coloca um valor monetário sobre os danos totais
projetados, muitos deles sendo perdas incalculáveis como a erradicação
de espécies, mas argumenta que com as informações que já temos, os
líderes mundiais deveriam agir com precaução, rigidez e de forma
integrada(considerando todas as nossas ações que impactam os oceanos).
“O oceano é um grande contribuinte para a economia dos países, e um
ator elementar na história de mudanças ambientais na Terra, mesmo assim é
cronicamente negligenciado”, lamentou Kevin Noone, co-editor do
relatório e membro da Academia Sueca de Ciências.
“Precisamos urgentemente designar um sistema de gerenciamento que
trabalhe ao longo das escalas local até global, e que nos permita
otimizar o uso dos recursos marinhos de forma sustentável dadas as
ameaças simultâneas e geralmente sinérgicas”, ponderou a neozelandesa
Julie Hall, outra coautora do estudo.
Além da inclusão da questão em planos econômicos e de
desenvolvimento, os autores pedem medidas locais, como a criação de
Áreas Marinhas Protegidas visando melhorar a resiliência dos
ecossistemas em casos de eventos extremos (branqueamento de corais,
tempestades, etc).
Atlas do Carbono nos Oceanos
Complementando o estudo do SEI, a Comissão Intergovernamental
Oceanográfica da UNESCO lançou o Atlas do Carbono na Superfície dos
Oceanos,fornecendo registros de 40 anos da acumulação de dióxido de
carbono na superfície do oceano.
A absorção líquida de CO2 pelos oceanos auxilia na redução da
concentração de gases do efeito estufa na atmosfera, porém o aumento na
quantidade de carbono nos mares causa a sua acidificação, ameaçando a
vida dos organismos marinhos.
Para tornar o banco de dados amigável para os usuários, ele foi
disponibilizado na rede através de uma ferramenta sofisticada de
visualização e manipulação online chamada Live Access Server, oferecendo
mapas interativos.
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*Do Instituto CarbonoBrasil
Fonte: http://mercadoetico.terra.com.br/23/03/2012
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