José Tolentino Mendonça*
«Qual é a mulher que, tendo dez dracmas, se perde uma,
não acende a candeia, não varre a casa e não procura cuidadosamente
até a encontrar? E, ao encontrá-la, convoca as amigas e vizinhas e diz:
“Alegrai-vos comigo, porque encontrei a dracma perdida.” Digo-vos:
Assim há alegria entre os anjos de Deus por um só pecador que se
converte.» (Lucas 15, 8-10)
A mulher tinha dez moedas e, tendo perdido uma,
não pensou comodamente que ainda ficaria com nove: decidiu procurar a
parte perdida do seu tesouro. «Tu és a minha esperança, ó Senhor Deus, e
a minha confiança desde a juventude», reza o Salmo 71. E há uma
juventude de alma que aqui se joga. A mulher não culpou ninguém pela
perda, não procurou bodes expiatórios, não ficou de mau humor, nem
deprimida... mas também não se deixou ficar de braços cruzados.
E nós? Se calhar ainda nos restam nove ou sete ou cinco ou três moedas... E podemo-nos tentar consolar e enganar com elas, fingindo que não damos pela falta de uma outra vida, de uma outra frescura, de um coração inteiro. O primeiro momento da reconciliação é a decisão interior que nos leva a retomar, precisamente, a arte da procura e da inteireza. «Para ser grande, sê inteiro», dizia Fernando Pessoa. E o grande desafio da vida espiritual não é, claro, o da grandeza, mas o da inteireza. Sermos nós próprios. A pequena parábola de Lc 15,8-10 oferece-nos uma espécie de pedagogia da inteireza, propondo-nos um itinerário:
E nós? Se calhar ainda nos restam nove ou sete ou cinco ou três moedas... E podemo-nos tentar consolar e enganar com elas, fingindo que não damos pela falta de uma outra vida, de uma outra frescura, de um coração inteiro. O primeiro momento da reconciliação é a decisão interior que nos leva a retomar, precisamente, a arte da procura e da inteireza. «Para ser grande, sê inteiro», dizia Fernando Pessoa. E o grande desafio da vida espiritual não é, claro, o da grandeza, mas o da inteireza. Sermos nós próprios. A pequena parábola de Lc 15,8-10 oferece-nos uma espécie de pedagogia da inteireza, propondo-nos um itinerário:
Acender a luz
Às escuras não vejo nada, repito apenas a escuridão que tende a ampliar-se e a confundir-nos. Preciso, por isso, da luz de Deus para me poder olhar. «A lâmpada de Deus não se apagou» (l Sm 3,3).
O importante nos balanços espirituais que podemos fazer da nossa história não é tanto a mera perscrutação com os nossos olhos humanos. Como bem explica São Paulo, «nós vemos como num espelho e de maneira confusa» (l Cor 13,12). «O Verbo é a Luz verdadeira, que, ao vir ao mundo, a todo o homem ilumina», diz-nos o Prólogo de São João (Jo 1,9). Acendamos a palavra do Verbo de Deus no nosso coração, tomemos Jesus como critério. «Em ti está a fonte da vida e é na tua luz que vemos a luz» (SI 36,10). «Quanto tempo perdido, quanto trabalho adiado, por inadvertência deste ponto. Tudo se define a partir de Cristo» - recordou-nos com audácia Bento XVI, na sua visita a Portugal.
Cumpra-se a promessa de Isaías que os Evangelhos ecoam: «O povo que jazia nas trevas viu uma grande luz; e aos que jaziam na sombria região da morte irrompeu uma claridade» (Mt 4,16). Façamos nossa a oração de Pedro: «A quem iremos nós, Senhor? Só Tu tens palavras de vida eterna!» (Jo 6,68).
Às escuras não vejo nada, repito apenas a escuridão que tende a ampliar-se e a confundir-nos. Preciso, por isso, da luz de Deus para me poder olhar. «A lâmpada de Deus não se apagou» (l Sm 3,3).
O importante nos balanços espirituais que podemos fazer da nossa história não é tanto a mera perscrutação com os nossos olhos humanos. Como bem explica São Paulo, «nós vemos como num espelho e de maneira confusa» (l Cor 13,12). «O Verbo é a Luz verdadeira, que, ao vir ao mundo, a todo o homem ilumina», diz-nos o Prólogo de São João (Jo 1,9). Acendamos a palavra do Verbo de Deus no nosso coração, tomemos Jesus como critério. «Em ti está a fonte da vida e é na tua luz que vemos a luz» (SI 36,10). «Quanto tempo perdido, quanto trabalho adiado, por inadvertência deste ponto. Tudo se define a partir de Cristo» - recordou-nos com audácia Bento XVI, na sua visita a Portugal.
Cumpra-se a promessa de Isaías que os Evangelhos ecoam: «O povo que jazia nas trevas viu uma grande luz; e aos que jaziam na sombria região da morte irrompeu uma claridade» (Mt 4,16). Façamos nossa a oração de Pedro: «A quem iremos nós, Senhor? Só Tu tens palavras de vida eterna!» (Jo 6,68).
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* Teólogo português. Escritor. Poeta.
In O tesouro escondido, ed. Paulinas
In O tesouro escondido, ed. Paulinas
Fonte: http://www.snpcultura.org/30/03/2012
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