Dia desses
saí para almoçar com um homem de negócios que admiro muito. Uma mosca na
parede poderia ter classificado a ocasião como um sucesso, pois a
conversa fluiu tranquilamente. Mesmo assim, para mim não foi tão bom. O
problema não foi meu anfitrião, que é inteligente e charmoso. O problema
estava comigo: me "arrastei" no decorrer de três pratos, sentindo-me
uma idiota.
Há uma base científica para o que ocorreu dentro de minha cabeça. Não foi só o fato de eu me sentir uma idiota; eu, na verdade, tornei-me uma. Se eu tivesse passado por um teste de QI enquanto mastigava, a pontuação teria sido bem mais baixa do que se eu tivesse feito o teste na parte da manhã daquele mesmo dia.
Esta percepção vem de pesquisadores do Virginia Tech Carilion Research Institute, que provaram que somos menos inteligentes em grupos do que sozinhos. Quando estamos com outras pessoas que achamos mais espertas que nós, respondemos nos tornando ainda mais estúpidos do que normalmente somos.
Os pesquisadores reuniram 70 estudantes e testaram seus QIs em situação normal (todos acabaram se mostrando bem altos). Em seguida, eles os colocaram em pequenos grupos e fizeram outro teste, dizendo, entre uma questão e outra, como eles estavam se saindo em relação aos demais do grupo. Eles constataram que as pontuações de todos os estudantes foram mais baixas no teste em grupo do que nos testes individuais, mas os QIs daqueles que tiveram os piores desempenhos foram bem mais inferiores. Aqueles cujos QIs apresentaram as maiores quedas eram principalmente - surpresa, surpresa - mulheres.
Como comentário à parte, isso não é um sinal muito bom para as mulheres que estão entrando em conselhos de administração de empresas. Elas já estão em desvantagem por serem menos experientes e menos qualificadas que a maioria dos colegas do sexo masculino. Agora, ao que parece, seus QIs deverão cair assim que elas entrarem na sala de reuniões do conselho.
Mesmo assim, o ponto mais animador é o que a pesquisa prova a respeito das reuniões em geral. Brinca-se há muito tempo no mundo dos negócios que as reuniões matam o cérebro. Desse modo, é bom encontrar um grupo de cientistas de jalecos brancos nos dizendo que isso de fato acontece. O que eu gostaria agora é que eles fizessem outros estudos para colocar mais pregos no caixão das reuniões.
Em especial, seria bom se alguém conseguisse provar uma coisa que há muito tempo parece óbvia para mim: que o tédio reduz o QI. Minhas próprias experiências pessoais sobre isso parecem ser totalmente conclusivas. No fim de uma reunião muito longa e chata, sinto que não sirvo para mais nada. Até mesmo os jogos do meu iPad parecem ser muito exigentes intelectualmente. Também útil seria descobrir se assistir exibições de slides no PowerPoint reduz o QI. Mais uma vez, minha experiência pessoal mostra que claramente isso acontece, mas seria ótimo ter dados para provar.
Na verdade, o único estudo acadêmico decente que consigo encontrar sobre como as condições nas reuniões podem diminuir a potência do cérebro, é meio inesperado. Trata-se de um estudo que ganhou no ano passado o prêmio IgNobel (concedido a pesquisas que "fazem as pessoas rir - e depois pensar"). Seu título: "O efeito da vontade urgente de urinar sobre a função cognitiva dos adultos saudáveis". Ou, de uma maneira mais direta, como a necessidade de urinar afeta nosso cérebro. A conclusão parece ser que se você está sentada rezando pelo próximo "intervalinho", então a velocidade com que processa as informações diminui a ponto de se arrastar.
Seja pela necessidade de urinar, por estarmos entediados, por causa do PowerPoint e/ou termos sido desestimulados pelos outros, as reuniões mexem com as nossas cabeças. Há apenas uma resposta e ela é incisivamente óbvia: as companhias deveriam por um fim em seu longo caso de amor com o trabalho em equipe e as reuniões intermináveis, e forçar as pessoas a passar mais tempo trabalhando sozinhas.
Lembro que certa vez troquei de função por um dia com uma mulher que trabalhava no departamento de recursos humanos da Microsoft. Não acreditei no jargão que eles usavam ali; ela não conseguiu acreditar no grau de produtividade do meu departamento. Expliquei que há um motivo para os jornalistas fazerem tanta coisa. Se você tem um jornal para produzir todos os dias, não pode passar muito tempo em reuniões e precisa, em vez disso, optar por uma maneira antiga e comprovada de se fazer as coisas: sentar-se sozinha em sua mesa e mandar ver.
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*A britânica Lucy Kellaway é jornalista do Financial Times. Na coluna Banda Executiva, ela comenta, com bom humor, perspicácia e ironia, diversos assuntos relacionados ao mundo corporativo e à vida executiva como a gestão de pessoas, o dia a dia no escritório e os modismos na área de recursos humanos.
Fonte: Valor Econômico on line, 12/03/2012
Imagem da Internet
Há uma base científica para o que ocorreu dentro de minha cabeça. Não foi só o fato de eu me sentir uma idiota; eu, na verdade, tornei-me uma. Se eu tivesse passado por um teste de QI enquanto mastigava, a pontuação teria sido bem mais baixa do que se eu tivesse feito o teste na parte da manhã daquele mesmo dia.
Esta percepção vem de pesquisadores do Virginia Tech Carilion Research Institute, que provaram que somos menos inteligentes em grupos do que sozinhos. Quando estamos com outras pessoas que achamos mais espertas que nós, respondemos nos tornando ainda mais estúpidos do que normalmente somos.
Os pesquisadores reuniram 70 estudantes e testaram seus QIs em situação normal (todos acabaram se mostrando bem altos). Em seguida, eles os colocaram em pequenos grupos e fizeram outro teste, dizendo, entre uma questão e outra, como eles estavam se saindo em relação aos demais do grupo. Eles constataram que as pontuações de todos os estudantes foram mais baixas no teste em grupo do que nos testes individuais, mas os QIs daqueles que tiveram os piores desempenhos foram bem mais inferiores. Aqueles cujos QIs apresentaram as maiores quedas eram principalmente - surpresa, surpresa - mulheres.
Como comentário à parte, isso não é um sinal muito bom para as mulheres que estão entrando em conselhos de administração de empresas. Elas já estão em desvantagem por serem menos experientes e menos qualificadas que a maioria dos colegas do sexo masculino. Agora, ao que parece, seus QIs deverão cair assim que elas entrarem na sala de reuniões do conselho.
"Há apenas uma resposta e ela é
incisivamente óbvia: as companhias deveriam por um fim em seu longo caso
de amor com o trabalho em equipe e as reuniões intermináveis, e forçar
as pessoas a passar mais tempo trabalhando sozinhas."
Mesmo assim, o ponto mais animador é o que a pesquisa prova a respeito das reuniões em geral. Brinca-se há muito tempo no mundo dos negócios que as reuniões matam o cérebro. Desse modo, é bom encontrar um grupo de cientistas de jalecos brancos nos dizendo que isso de fato acontece. O que eu gostaria agora é que eles fizessem outros estudos para colocar mais pregos no caixão das reuniões.
Em especial, seria bom se alguém conseguisse provar uma coisa que há muito tempo parece óbvia para mim: que o tédio reduz o QI. Minhas próprias experiências pessoais sobre isso parecem ser totalmente conclusivas. No fim de uma reunião muito longa e chata, sinto que não sirvo para mais nada. Até mesmo os jogos do meu iPad parecem ser muito exigentes intelectualmente. Também útil seria descobrir se assistir exibições de slides no PowerPoint reduz o QI. Mais uma vez, minha experiência pessoal mostra que claramente isso acontece, mas seria ótimo ter dados para provar.
Na verdade, o único estudo acadêmico decente que consigo encontrar sobre como as condições nas reuniões podem diminuir a potência do cérebro, é meio inesperado. Trata-se de um estudo que ganhou no ano passado o prêmio IgNobel (concedido a pesquisas que "fazem as pessoas rir - e depois pensar"). Seu título: "O efeito da vontade urgente de urinar sobre a função cognitiva dos adultos saudáveis". Ou, de uma maneira mais direta, como a necessidade de urinar afeta nosso cérebro. A conclusão parece ser que se você está sentada rezando pelo próximo "intervalinho", então a velocidade com que processa as informações diminui a ponto de se arrastar.
Seja pela necessidade de urinar, por estarmos entediados, por causa do PowerPoint e/ou termos sido desestimulados pelos outros, as reuniões mexem com as nossas cabeças. Há apenas uma resposta e ela é incisivamente óbvia: as companhias deveriam por um fim em seu longo caso de amor com o trabalho em equipe e as reuniões intermináveis, e forçar as pessoas a passar mais tempo trabalhando sozinhas.
Lembro que certa vez troquei de função por um dia com uma mulher que trabalhava no departamento de recursos humanos da Microsoft. Não acreditei no jargão que eles usavam ali; ela não conseguiu acreditar no grau de produtividade do meu departamento. Expliquei que há um motivo para os jornalistas fazerem tanta coisa. Se você tem um jornal para produzir todos os dias, não pode passar muito tempo em reuniões e precisa, em vez disso, optar por uma maneira antiga e comprovada de se fazer as coisas: sentar-se sozinha em sua mesa e mandar ver.
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*A britânica Lucy Kellaway é jornalista do Financial Times. Na coluna Banda Executiva, ela comenta, com bom humor, perspicácia e ironia, diversos assuntos relacionados ao mundo corporativo e à vida executiva como a gestão de pessoas, o dia a dia no escritório e os modismos na área de recursos humanos.
Fonte: Valor Econômico on line, 12/03/2012
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