Robert Wistrich diz que o uso "distorcido" do termo genocídio cria justificação para
o tipo de matança que ocorreu em Toulouse
O atentado em Toulouse, na França, em que três crianças judias e um
rabino foram executados por um muçulmano francês, mostrou que o
antissemitismo está vivo na Europa, alimentado por islamitas radicais
sob a cumplicidade de partes da mídia e dos políticos.
Esta é a avaliação do professor Robert Wistrich, chefe do Centro
Internacional de Estudos do Antissemitismo, da Universidade de
Jerusalém, e um dos maiores estudiosos do mundo no tema.
Em entrevista à Folha, ele disse que desde o Holocausto o
antissemitismo sofreu uma metamorfose na Europa, e hoje a principal
força por trás é o islã fundamentalista, ao qual pertencia o terrorista
de Toulouse.
Folha - O atentado em Toulouse foi descrito por alguns como um
ato de fanatismo isolado, por outros como parte da ascensão do
antissemitismo na Europa. O que o sr. acha?
Robert Wistrich - Em minha opinião esse ato assassino se insere
totalmente na lógica do jihad (guerra santa islâmica) contemporâneo. Em
1998, Osama bin Laden fez uma declaração, ignorada na época, em que
dizia que o inimigo absoluto do islã é o que ele chamava de aliança
entre judeus e cruzados, como ele se referia ao Ocidente cristão. Na
época ninguém ligou. O mundo só começou a prestar atenção depois do 11
de Setembro.
Mas nos últimos dez anos nós vimos seguidos casos de ataques feitos por
muçulmanos fanáticos e que muito frequentemente foram direcionados
contra judeus e contra alvos não-judeus, como os atentados de Madri e
Londres. Algumas vezes entre os atingidos também havia muçulmanos.
Esse tipo de ação não é novo. Talvez o único elemento novo nesses
assassinatos de Toulouse seja a forma com que foi cometido, a sangue
frio e direcionado contra crianças judias. Isso é o que causa mais
choque. Foi um ato antissemita, mas também contra a França como símbolo
do Ocidente.
Seu pretexto foi o envolvimento francês no Afeganistão e de que foi uma
vingança pelas mortes de palestinos em Gaza, o que é uma ultrajante peça
de propaganda. Mas é o tipo de propaganda que vem sendo engolida há
tempos pela mídia ocidental.
Até a ministra do Exterior da União Européia, Catherine Ashton disse que a mesma coisa no dia do atentado, ao comparar a ação de Toulouse com Gaza e com um acidente de trânsito na Suíça, em que crianças morreram.
O sr. quer dizer que a mídia e os governos europeus de alguma forma encorajaram esse tipo de ação?
Há anos observo na mídia europeia, e certamente na francesa, uma
tendência de apresentar a autodefesa de Israel contra o terrorismo como
um genocídio contra o povo palestino. Isso é uma distorção grotesca da
palavra genocídio.
Se isso é repetido continuamente, cria-se uma justificação para esse
tipo de matança, pois é exatamente assim que o criminoso justifica seus
atos.
O que é perturbador é que as pessoas não vejam a conexão entre o
atentado e o incitamento que é repetido por tantos anos, às vezes sutil,
às vezes diretamente.
A Al Qaeda emitiu um comunicado afirmando que o terrorista pertencia à
rede. Isso significa que há risco de novos atentados parecidos?
É claro que pode acontecer de novo. Há muitas semelhanças entre esse
ataque em particular e outros exemplos, como os atentados em Londres e
Madri, em que os terroristas eram muçulmanos nascidos na Europa. No caso
de Toulouse, um cidadão francês de origem argelina.
Em todos os casos haviam recebido doutrinamento no Paquistão e no
Afeganistão para se tornarem jihadistas. Pode acontecer na Espanha, na
Alemanha e em qualquer país dentro ou fora da Europa, nos EUA ou na
América Latina.
Infelizmente a polícia francesa não conseguiu capturar esse assassino
vivo, para sabermos se fazia parte de uma rede terrorista. Um dos
efeitos de a Al Qaeda ter sido desalojada de sua base no Afeganistão é
que há células do grupo em diferentes países e elas se tornaram bem mais
autônomas.
Com as conexões possíveis hoje graças à internet e outras tecnologias
modernas, é possível agir por conta própria. São células motivadas pela
ideologia da Al Qaeda e que não precisam de ninguém para lhes dizer o
que fazer.
A palavra antissemitismo significa ódio aos povos semitas, que também incluem os árabes. O conceito precisa ser redefinido?
Há vinte anos eu defini o antissemitismo como "o mais antigo ódio". O
meu argumento é que, de todos os tipos de ódio, e há muitos, o
antissemitismo é o mais antigo. Remonta a 2 mil anos, a mesma idade da
diáspora judaica.
O antissemitismo, embora tenha algumas semelhanças com ódio a
estrangeiros, tem elementos específicos. É preciso cuidado para não se
deixar confundir pelo infeliz termo "semitismo". Na verdade o certo
seria usar o termo ódio antijudeu, ou judeofobia. Porque o semitismo não
é um conceito lógico, é um termo racista que foi criado no fim do
século 19 por antissemitas que não se referiam aos árabes.
Quando falavam de semitas se referiam aos judeus, mas queriam que seu
ódio soasse de alguma forma mais respeitável ou científico, o que
obviamente não é o caso. O que é particularmente perigoso no
antissemitismo dos últimos cem anos e está muito vivo hoje, são as
teorias conspiratórias. Que os judeus tem um plano para controlar o
mundo, que controlam a mídia, os bancos, os governos, a política externa
dos EUA, por exemplo.
Os judeus costumavam ser acusados de conspirar a favor do comunismo, mas isso saiu de moda.
Islamofobia e judeofobia tem origens comuns?
Do ponto de vista analítico é preciso fazer uma separação. Porque a
islamofobia, como diz o termo, é o medo do islã como religião,
principalmente. Não nego que haja medo e ódio ao islã, e que ele está
crescendo. Ações como a de Toulouse certamente vão intensificar esse
sentimento. Isso não justifica o ódio aos muçulmanos, porque a maioria
deles obedece à lei e certamente não se identificam com essas ações.
O problema é que há grupos muçulmanos fanáticos que propagam essas
doutrinas fundamentalistas que descrevem todos os não-muçulmanos como
hereges e inimigos do islã. O antissemitismo tem origens bem diferentes,
porque é baseado na fantasia do judeu, no judeu imaginário, na imagem
do judeu herdada de séculos de história, e que continua viva.
É uma expressão muito mais potente de ódio. Apesar disso, há casos em
que os ódios são paralelos. E talvez esse evento em Toulouse seja o
caso, porque o assassino alvejou judeus e também soldados muçulmanos que
considerava traidores do islã. Não é o mesmo que matar crianças judias,
mas há um paralelo.
Em movimentos fascistas há pessoas que odeiam tanto judeus como
muçulmanos, porque são vistos como estranhos a sua cultura, mas não é o
mesmo tipo de ódio.
Em relação aos judeus há uma suspeita, embora eles sejam em número muito
menor que os muçulmanos. Hoje há entre 35 e 40 milhões de muçulmanos na
Europa e apenas um milhão de judeus. E ainda assim, o antissemitismo,
em muitos países, é provavelmente mais forte que a islamofobia.
Segundo as estatísticas, num país como a França, nos últimos cinco ou
seis anos, o número absoluto de ataques antissemitas foi muito maior que
os ataques racistas em geral e contra os muçulmanos. E há dez vezes
mais muçulmanos na França do que judeus.
Há paralelos entre o antissemitismo na Europa de antes do Holocausto e de hoje?
Hoje é bem mais sutil. O tipo clássico de antissemitismo, que existia em
quase toda a Europa antes do Holocausto, foi para o subterrâneo. Aos
poucos começou a reaparecer na superfície, na vida social, em conversas
privadas.
Eu lembro porque cresci na Europa e era muito visível na escola, até na
universidade, mas não era politicamente ativo porque não era
respeitável. E isso tem a ver com o Holocausto e com o estabelecimento
de Israel, que no começo era visto positivamente em muitos países da
Europa.
Essas reações mudaram e o antissemitismo tradicional passou por uma
metamorfose, em que foi absorvido sob o rótulo de hostilidade a Israel.
A maior razão para isso é que não há lei em nenhum país contra ataques a
Israel, mesmo de forma difamatória. Se alguém ataca judeus, chama
alguém de judeu sujo em público, por exemplo, em muitos países pode até
ser preso. Se for um político, pode ser o fim de sua carreira. Mas você
pode demonizar o sionismo ou Israel o quanto quiser e não há punição nem
condenação. Você pode até ser aplaudido por isso.
As pessoas que tem fortes sentimentos contra judeus, acharam a cobertura perfeita.
Ativistas pró-arabes dizem que deve-se separar as críticas a Israel do antissemitismo. Como o sr. faz a distinção?
Claro que dizem isso. Se admitirem que tem algum elemento antissemita no
que fazem, isso teria um impacto negativo. Por isso, é imperativo
negar. Mas eles não entendem necessariamente o que estão fazendo.
Se você constantemente demoniza um Estado em que a maioria da população é
de judeus, você está de alguma forma fazendo uma difamação do povo
judeu, é inescapável. Se você prega o fim desse Estado, na verdade está
pregando um novo genocídio.
Essa não é uma forma de deslegitimar as críticas a Israel?
Pela minha experiência de viver neste país e conhecendo muitas pessoas
envolvidas em muitas dimensões, nunca encontrei um israelense que chama
alguém de antissemita por que criticou Israel. Às vezes israelenses
reagem a críticas injustas de forma emotiva e as chamam de antissemita,
mas é uma minoria.
O sr. escreveu que o antissionismo é hoje a forma mais perigosa de antissemitismo? Por quê?
Um dos elementos mais fortes do antissemitismo moderno, seja
nacionalista, marxista-leninista ou árabe-islâmico é que eles acreditam
em uma conspiração judaica. Já foi contra o cristianismo, contra a
cultura nacional, contra a economia, todo tipo de coisa.
Antissemitas acreditam em uma conspiração judaica. Mas a verdade sempre
foi que a única conspiração que existiu até hoje foi uma conspiração
antissemita, para remover, expulsar ou matar judeus. Às vezes é uma
conspiração real, às vezes é imaginária. Mas faz parte de um desejo de
alvejar os judeus e isso é deliberado, não é espontâneo.
Muitas pessoas comuns em países onde há hostilidade contra Israel ou
judeus, não compartilham esse sentimento, mas quando há uma campanha
orquestrada de desinformação cria-se hostilidade. Isso se chama
incitamento. E há muito disso acontecendo pelo mundo hoje. Israel tem
que se defender de todo tipo de falsas acusações, que são feitas quase
todo dia.
Qual a principal força por trás do antissemitismo hoje?
O islamitas, onde quer que estejam, seja a Irmandade Muçulmana do Egito
ou em outras partes do Oriente Médio, sejam os jihadistas estilo Al
Qaeda, seja o islã wahabista da Arábia Saudita, que com seus
petrodólares construiu mesquitas e centros comunitários pelo mundo, seja
os pregadores do ódio locais, supostamente baseados no Corão, mas eles
também falsificam o Corão. Esses são os mais ativos, violentos e
assassinos tipos de ódio hoje.
Mas há muitas outras forças. Existe a cumplicidade de esquerdistas, que
dizem ser apenas contra Israel, mas com frequência apoiam esses grupos,
como Hamas e Hizbollah, em manifestações. Toda vez que há uma guerra ou
um confronto no Oriente Médio, como a guerra de 2009 em Gaza, ou a
segunda guerra do Líbano em 2006, vemos esses esquerdistas gritando
"Israel assassino" e apoiando os elementos islamitas radicais.
Há também a extrema direita, com uma forma mais tradicional de antissemitismo e muitos deles são também islamofóbicos.
Há ainda um quarto tipo, que é particularmente insidioso e muito
raramente identificado apropriadamente, que é o neoliberal, um tipo de
antissemitia "iluminado", que não apenas é veementemente contra Israel
por causa de suas políticas, mas que ataca a própria base do país,
questionando por que deveria haver um Estado judeu.
Tratam o judaísmo de forma derrogatória, falam sobre a Bíblia como se
fosse um manual para o genocídio, julgam Israel de uma forma que jamais
julgaria outro país. E isso é feito por liberais, que dizem ser
defensores dos direitos humanos, de liberdades individuais. Mas que
aplicam um padrão especial para Israel que não usam para julgar nenhum
outro país.
Israel é o único país cujo fim é desejado abertamente. Qualquer um que
declara que Israel deve desaparecer ou que é a causa de todos os
problemas do Oriente Médio, ou que Israel foi um erro histórico, na
minha opinião está na verdade sendo cúmplice de um genocídio potencial.
Dizer que Israel foi um erro constitui antissemitismo?
Se você diz sobre um Estado já existente, com uma população de 7
milhões, que ele é um erro, você está implicitamente dizendo que não
deveria estar lá. Algumas pessoas são mais explícitas, dizendo que é
preciso contribuir para o seu desaparecimento, isso para mim é não só
uma calúnia, é muito mais sério, porque diz que um Estado não tem o
direito moral de existir, e por isso é uma forma de incitamento e pode
levar a resultados terríveis.
Neste sentido eu acho que é antissemita e pode alimentar o
antissemitismo, porque se alguém diz que foi um erro está basicamente
culpando-o por tudo o que deu errado na região. E também singulariza
Israel, porque as pessoas que falam isso nunca falam dos países
vizinhos, isso é um erro histórico.
A Jordânia, por exemplo, é em muitos sentidos um Estado muito mais
artificial que Israel, mas ninguém fala que é um erro histórico, não
falam sobre a Síria, o Egito, ou qualquer outro país. Embora não seja o
antissemitismo tradicional, em última análise, alimenta a mesma coisa, o
desaparecimento dos judeus, recusar a sua existência coletiva.
Crítica a Israel é algo praticado todos os dias dentro do país. Todos
criticam, incluindo eu. Não há um único dia sem que critiquemos algum
aspecto da sociedade, seja a cultura, ou o governo. Mas isso é prática
democrática normal. Mas quando uma pessoa nega a existência de Israel
não tem nada a ver com crítica.
As pessoas que criticam as políticas de Israel, tudo bem, não há nenhum
problema, contanto que elas apliquem o mesmo julgamento para outros
países. Eu estou falando de atitudes e reações e declarações e ações que
buscam negar a existência de Israel como Estado.
Israel foi criado para proteger os judeus do antissemitismo. Acabou virando motivo de antissemitismo?
Há uma ironia histórica, mas não trágica, porque a mais importante
conquista de Israel em relação a seu objetivo original foi pôr um fim às
verdadeiramente trágicas condições dos judeus na véspera do Holocausto e
durante, em que eles eram impotentes.
Quando os alemães e depois seus colaboradores decidiram que iriam
exterminar os judeus da Europa, não havia nada que eles pudessem fazer,
porque não tinham um Estado, um território, um Exército, qualquer
existência política.
Neste sentido, apesar de Israel ser o foco de outro tipo de
antissemitismo hoje, não é exatamente o mesmo tipo de 70 anos atrás, é
um ponto relativamente pequeno diante do fato de que Israel pode se
defender, o que o povo judeu não podia fazer há 70 anos.
As ações do governo israelense citadas pelos terroristas, como a
ocupação dos territórios palestinos, contribuem para o aumento do
antissemitismo?
Eu categoricamente rejeito, com base em anos de pesquisa, a proposição
de que há uma conexão real entre ocupação e antissemitismo.
Há só uma ligação: essa foi a principal fonte da campanha de
desinformação e intoxicação promovida pelos palestinos e árabes na
opinião pública internacional, fazendo com que Israel seja continuamente
condenado. No chamado Conselho de Direitos Humanos da ONU, 75% de todas
as condenações são direcionadas contra um pequeno país, cujo
desrespeito aos direitos humanos é minúsculo se comparado aos abusos em
grande escala cometidos todo dia no Oriente Médio e outras partes do
mundo, que nunca são discutidos.
Nesse sentido, a ocupação, indiretamente, alimenta o antissemitismo. Mas
acho que não é a razão, porque o antissemitismo palestino existia bem
antes da guerra de 1967. E se você ouvir as declarações vindas do mundo
árabe nas semanas anteriores à Guerra dos Seis Dias, quando não havia
territórios ocupados, você percebe que o objetivo era a aniquilação do
Estado judeu. Muito da retórica era antissemita. Isso não mudou.
Se amanhã Israel sair dos territórios amanhã, nada mudará?
O que mudará, e isso poderá surpreendê-lo e chocar certas pessoas, mas
estou absolutamente convicto disso, é que se Israel cometer esse erro
gigantesco, cujo único resultado seria tornar uma guerra total no
Oriente Médio mais provável, acredito que teríamos, num curto prazo, uma
intensificação da retórica de demonização.
Toda vez que Israel se retirou de qualquer território nos últimos 20
anos, não houve fim para o incitamento. Saímos do sul do Líbano apenas
para que o Hizbollah, que é uma organização profundamente antissemita,
tomasse o controle do sul do Líbano, e hoje de todo o país.
A retirada de Gaza criou o "Hamastão", o Estado do Hamas, que em sua
constituição tem vários parágrafos antissemitas. Alguns até baseados nos
Protocolos dos Sábios do Sião [texto forjado na Rússia czarista
descrevendo uma conspiração judaica para controlar o mundo], cujo
objetivo é varrer Israel do mapa, assim como o Irã faz há trinta anos.
Esses grupos estão esperando mais uma retirada, porque qualquer
concessão de Israel será vista como sinal de fraqueza e levará a uma
guerra total de consequencias desastrosas.
Raio-X - Robert Wistrich, 67
ORIGEM
Nascido no Cazaquistão, filho de poloneses que fugiram do antissemitismo na Ucrânia
Nascido no Cazaquistão, filho de poloneses que fugiram do antissemitismo na Ucrânia
FORMAÇÃO
Fez carreira acadêmica em Londres antes de ir para Israel, em 1980. É chefe do Departamento de Estudos do Antissemitismo, em Jerusalém. Participou da comissão que examinou ações do papa Pio 12 sobre o Holocausto (1999-2001)
Fez carreira acadêmica em Londres antes de ir para Israel, em 1980. É chefe do Departamento de Estudos do Antissemitismo, em Jerusalém. Participou da comissão que examinou ações do papa Pio 12 sobre o Holocausto (1999-2001)
OBRAS
Escreveu dezenas de artigos e mais de dez livros sobre o antissemitismo, como "Hitler e o Holocausto" (Ed. Objetiva)
Escreveu dezenas de artigos e mais de dez livros sobre o antissemitismo, como "Hitler e o Holocausto" (Ed. Objetiva)
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Reportagem por MARCELO NINIO DE JERUSALÉM
Fonte: Folha on line, 26/03/2012
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