sexta-feira, 9 de março de 2012

Um homem muito perigoso

Juremir Machado da Silva*

Quem é mais perigoso: um neoliberal eterno, um neocomunista persistente ou um prêmio Nobel da economia? Para um neoliberal, o prêmio Nobel de economia é certamente mais perigoso do que o neocomunista. Basta analisar a situação dos candidatos a candidato do Partido Republicano nos Estados Unidos. Os neocomunistas pouco podem fazer contra Mit Romney, Newt Gingrich, Ron Paul e Rick Santorum. O único neocomunista, segundo a definição deles, que os apavora é Barack Obama. Mas tem um prêmio Nobel de economia (2008) que os desmascara todos os dias. O estrago é grande, pois as suas declarações são reforçadas pelo que se pode chamar de efeito credencial, o quem diz o quê. Paul Krugman diz o que, no Brasil, costuma ser desqualificado como discurso de xiitas, de adolescentes ou de gente que nada entende de economia.
O que diz Krugman: que os hiperliberais republicanos são mais gastadores do que os democratas. Que são hipócritas quando anunciam o apocalíptico crescimento do déficit fiscal e avisam que os Estados Unidos estão caminhando para o buraco grego. Que só querem cortar benefícios aos mais pobres de modo a ajudar os mais ricos: “Os políticos que berram mais alto sobre os déficits estão de fato usando essa histeria como cobertura para a real intenção deles, que é instituir uma guerra de classes a partir do topo da pirâmide social. Para colocar as coisas sob a ótica de Romney, isso equivale a encontrar uma desculpa para acabar com programas que ajudam as pessoas que gostam de assistir às corridas de Nascar e, ao mesmo tempo, reduzir os impostos pagos pelos indivíduos que gostam de ser donos das equipes de Nascar”. Esse é galo. Só dá na pleura. Uau!
Fazendo as contas, se os republicanos ganharem o rombo será maior. O dinheiro, porém, trocará de bolsos. Ao promoverem a luta de classes, que fingem condenar, os ricaços atingiriam o grande objetivo, “uma grande redistribuição de renda da classe trabalhadora norte-americana para os indivíduos extremamente ricos”. Krugman não deixa a turma de Davos mentir tranquilamente. Afirma que eles querem tirar até o dinheiro destinado a crianças deficientes.
Joga na cara: “Há mais uma coisa que todos deveríamos saber a respeito das propostas republicanas: além de serem irresponsáveis sob a ótica da política fiscal e de prejudicarem bastante os trabalhadores norte-americanos, elas se constituem também em uma política econômica de curto prazo terrível para uma nação que padece de uma economia deprimida, ao mesmo tempo que enfrenta problemas orçamentários de longo prazo”.
Meditei muito. Krugman é extremamente perigoso. Não pode ser despachado como um ignorante qualquer. Os republicanos só têm uma saída: mandar matá-lo. Um prêmio Nobel que desmonta o discurso neoliberal todas as semanas é um perigo ambulante. Um pistoleiro de aluguel, nos Estados Unidos, não deve custar muito caro. Talvez haja alguma maneira de abater o custo no imposto de renda. Krugman e Obama são os homens a serem abatidos. Sugiro que comecem por Krugman.
Obama virá como consequência.
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* Sociólogo. Escritor. Tradutor. Cronista do Correio do Povo
Fonte: Correio do Povo on line, 09/03/2012
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