Juremir Machado da Silva*
Quem é mais perigoso: um neoliberal eterno, um
neocomunista persistente ou um prêmio Nobel da economia? Para um
neoliberal, o prêmio Nobel de economia é certamente mais perigoso do que
o neocomunista. Basta analisar a situação dos candidatos a candidato do
Partido Republicano nos Estados Unidos. Os neocomunistas pouco podem
fazer contra Mit Romney, Newt Gingrich, Ron Paul e Rick Santorum. O
único neocomunista, segundo a definição deles, que os apavora é Barack
Obama. Mas tem um prêmio Nobel de economia (2008) que os desmascara
todos os dias. O estrago é grande, pois as suas declarações são
reforçadas pelo que se pode chamar de efeito credencial, o quem diz o
quê. Paul Krugman diz o que, no Brasil, costuma ser desqualificado como
discurso de xiitas, de adolescentes ou de gente que nada entende de
economia.
O que diz Krugman: que os hiperliberais republicanos são mais
gastadores do que os democratas. Que são hipócritas quando anunciam o
apocalíptico crescimento do déficit fiscal e avisam que os Estados
Unidos estão caminhando para o buraco grego. Que só querem cortar
benefícios aos mais pobres de modo a ajudar os mais ricos: “Os políticos
que berram mais alto sobre os déficits estão de fato usando essa
histeria como cobertura para a real intenção deles, que é instituir uma
guerra de classes a partir do topo da pirâmide social. Para colocar as
coisas sob a ótica de Romney, isso equivale a encontrar uma desculpa
para acabar com programas que ajudam as pessoas que gostam de assistir
às corridas de Nascar e, ao mesmo tempo, reduzir os impostos pagos pelos
indivíduos que gostam de ser donos das equipes de Nascar”. Esse é galo.
Só dá na pleura. Uau!
Fazendo as contas, se os republicanos ganharem o rombo será maior. O
dinheiro, porém, trocará de bolsos. Ao promoverem a luta de classes, que
fingem condenar, os ricaços atingiriam o grande objetivo, “uma grande
redistribuição de renda da classe trabalhadora norte-americana para os
indivíduos extremamente ricos”. Krugman não deixa a turma de Davos
mentir tranquilamente. Afirma que eles querem tirar até o dinheiro
destinado a crianças deficientes.
Joga na cara: “Há mais uma coisa que todos deveríamos saber a
respeito das propostas republicanas: além de serem irresponsáveis sob a
ótica da política fiscal e de prejudicarem bastante os trabalhadores
norte-americanos, elas se constituem também em uma política econômica de
curto prazo terrível para uma nação que padece de uma economia
deprimida, ao mesmo tempo que enfrenta problemas orçamentários de longo
prazo”.
Meditei muito. Krugman é extremamente perigoso. Não pode ser
despachado como um ignorante qualquer. Os republicanos só têm uma saída:
mandar matá-lo. Um prêmio Nobel que desmonta o discurso neoliberal
todas as semanas é um perigo ambulante. Um pistoleiro de aluguel, nos
Estados Unidos, não deve custar muito caro. Talvez haja alguma maneira
de abater o custo no imposto de renda. Krugman e Obama são os homens a
serem abatidos. Sugiro que comecem por Krugman.
Obama virá como consequência.
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* Sociólogo. Escritor. Tradutor. Cronista do Correio do Povo
Fonte: Correio do Povo on line, 09/03/2012
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