Paul Krugman*
É notável que a nova hostilidade à educação
seja compartilhada por duas alas
do Partido Republicano
Uma das coisas excepcionais que os norte-americanos sempre demonstraram
era apoio à educação. Primeiro, assumimos a liderança no ensino primário
universal; depois, o "movimento pela educação secundária" fez de nós a
primeira nação a criar uma estrutura universal de ensino de segundo
grau.
E, depois da Segunda Guerra Mundial, ajudamos grande número de norte-americanos a obter diplomas universitários.
Mas agora um de nossos dois grandes partidos políticos fez uma curva
abrupta à direita e se opõe à educação. É notável que essa nova
hostilidade à educação seja compartilhada pela ala socialmente
conservadora e pela ala economicamente conservadora do Partido
Republicano, hoje representadas pelos pré-candidatos Rick Santorum e
Mitt Romney, respectivamente.
E isso tudo acontece em um momento no qual a educação já está enfrentando sérios problemas.
Quanto à hostilidade: Santorum conquistou manchetes ao declarar que o
presidente Obama quer aumentar o número de pessoas matriculadas no
ensino superior porque as universidades são "fábricas de doutrinação"
que destroem a fé.
Mas a resposta de Romney a um aluno do segundo grau preocupado com os
custos de uma educação universitária talvez seja mais significativa,
porque o que ele disse aponta para escolhas políticas concretas que
solapariam ainda mais a educação nos Estados Unidos.
Eis a resposta do candidato ao estudante: "Não escolha a universidade
com o preço mais alto. Procure uma escola com preço um pouco menor na
qual possa obter uma boa educação. Com sorte, você a encontrará. E não
espere que o governo perdoe as dívidas que contrairá para bancar seus
estudos".
Uau. Lá se vai a tradição norte-americana de prover assistência aos
estudantes. E as declarações de Romney eram ainda mais cínicas e
destrutivas do que você talvez tenha percebido, tendo em vista o que vem
acontecendo recentemente.
Pelas duas gerações passadas, escolher uma escola mais barata em geral
queria dizer optar por uma universidade pública. Mas, hoje em dia, o
ensino superior público enfrenta cortes de orçamento ainda mais severos
que o restante do setor público. Considerada a inflação, o apoio dos
Estados ao ensino superior caiu em 12% nos últimos cinco anos, enquanto o
número de alunos continuava a crescer; na Califórnia, as verbas
públicas para o ensino superior caíram em 20%.
Ao longo dos últimos 30 anos, surgiu uma desconexão chocante entre os
imensos avanços de renda dos mais ricos e as dificuldades dos
trabalhadores. Pode-se propor o argumento de que o interesse da elite
norte-americana seria melhor atendido pela preservação dessa desconexão,
o que significa manter baixos a qualquer custo os impostos dos mais
ricos, não importando as consequências que a infraestrutura que serve
aos mais pobres sofra.
Assim, sempre que você ouvir que os republicanos são o partido dos
valores tradicionais, tenha em mente que, na realidade, eles romperam
com a tradição dos EUA de valorizar a educação. E o fizeram porque
acreditam que aquilo que você não sabe não pode prejudicá-los.
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* Economista norte-americano. Prof. Universitário. Colunista do é um The New York Times.
Tradução de PAULO MIGLIACCIFonte: Folha on line, 10/03/2012
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