quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Como consertar o mundo

Odécio Rocha*
O editor de um grande jornal, de uma grande cidade, preocupado com o que está acontecendo no mundo, chamou o mais competente jornalista e pediu-lhe que fizesse um artigo: “Como consertar o mundo”. E que o fizesse em sua residência; para isso, teria três dias de folga da Redação. Assim que chegou em casa, foi logo dizendo: “Oba! Temos três dias de folga. Que tal irmos para praia amanhã?” E assim mal puderam esperar amanhecer o dia e seguiram para praia. Depois de muito aproveitar, já de volta à residência, o mesmo lhe disse: “Amanhã, iremos a um piquenique, acompanhado de uma pescaria.” E assim foram. No terceiro dia, acabou a folga, precisava trabalhar muito e bem cedo, depois de um lanche reforçado. Levando seu inseparável laptop, globo terrestre, mapa-múndi, compasso e régua, arregaçando as mangas, deu início ao trabalho.
A observar o comportamento das pessoas de uma pequena vila, ficou muito assustado, eram tantas discussões no seu dia-a-dia que mais erravam do que acertavam. Percebeu que era impossível consertá-los. Daí, passou a observar moradores de uma grande cidade, foi aí que chegou à conclusão de que era impossível concluir tal artigo, pois se sentia impotente, imagine se fosse pensar no mundo? O dia já declinava para noite, cansado, muito exausto e com o cesto cheio de papel. Estava desesperado! Não sabia mais o que fazer, iria perder emprego e prestígio.
No seu desespero, pediu a Deus que o ajudasse. Assim, logo em seguida, apareceu seu filho de 6 anos com um gafanhoto na mão e pedindo: “Papai, faça para mim um artigo sobre esse gafanhoto. O pai, indignado e desesperado, lhe disse: “Suma daqui, seu pirralho, não vê que não dei conta de fazer nem meu artigo que é tão importante, como vou fazer o seu?” Mas, o garoto continuou insistindo, insistindo, até que esgotou a paciência do pai, que disse: “Vou fazer o seu artigo.” Num gesto de fúria, pegou o mapa-múndi que estava em cima da mesa, o rasgou em pedacinhos, ojogou na sala e disse: “Seu pirralho, cata essa papelada e vai juntar tudo coladinho como de origem, se conseguir, eu irei fazer o seu artigo.”
Continuou seu trabalho, depois de 20, 30 minutos, eis que aparece, para sua surpresa, o garoto com o mapa totalmente colado como de origem. O pai, surpreso, não acreditava no que estava vendo e perguntou ao menino: “Como conseguiu isto?” E ele respondeu: “Papai, eu já conhecia este mapa, no verso do mesmo, tem a figura de um homem, assim, eu achei mais fácil consertá-lo. Então, o pai, muito emocionado, chegou à conclusão de que, para consertar o mundo, teria que primeiro consertar o homem.
Mas aí, surge nova pergunta: “como consertar o homem?” (difícil, mas não impossível). Na minha compreensão, na verdade, desde que aqui aportamos, temos esta única finalidade: nos consertarmos de erros acometidos no passado. As nossas intenções podem ser boas, mas surgem obstáculos que são chamados de livre arbítrio ou desvio de conduta, aí, enveredamos para outros caminhos obscuros, prejudicando, assim, o nosso aprendizado nessa nossa caminhada. Então, vejamos: quando atingimos a idade dos porquês (de 3 a 5 anos), nossos genitores entram em ação, nos ensinando, levando-nos para escolas, onde vamos não só aprender a ler e escrever como também trabalhar na nossa evolução espiritual.
Lembro-me bem da primeira pergunta: “Para que viemos ao mundo?” Resposta: “Amar, servir a Deus e salvar à nossa alma.” Ao saber disto, fiquei inconformado, pois tão pequeno e já tinha que salvar a minha alma de quê? Será que foi o passarinho que peguei na arapuca e o aprisionei numa gaiola ou também a lâmpada que quebrei com uma pedrada de estilingue na rua da casa do menino que eu havia brigado. Tudo isso me deixou confuso. Com o passar do tempo, descobri que essas são dívidas adquiridas no presente, por conseguinte, vão sobrecarregar o jugo que carregamos e temos que resgatá-lo. Mas esses são apenas pecados veniais que, se não formos doutrinados, vão dar no que já deu. Desamor, falta de caridade, suicídios, crimes de homicídios e tantos outros crimes, guerras, nações contra nações. Assim sendo, temos que rever os nossos conceitos trabalhando a nossa espiritualidade, começando a nos policiar melhor quanto ao que falamos, pensamos e atuamos, pois podemos transformar o mau uso do livre arbítrio. Tudo que plantamos, colhemos. Na lei do retorno-reação ou causa efeito. Pois é assim que caminha a humanidade. Nossa esperança é de que nossa conscientização está chegando devagar, devagarzinho, mas vejo com bons olhos através da janela desse arauto tantas pessoas se consertando, conscientizando e ajudando a consertar a nossa morada que já está tão degradada e desassistida.
Continuo afirmado que sou mais um eterno aprendiz. Pensem nisso!

*Odécio Rocha é ambientalista e educador (odeciorocha@yahoo.com.br)
Diário da Manhã/Goiânia, 16/09/2009

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