segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Pensamento sobre fundamentalismo, religião, liberdade e morte

Capítulo 33 – Religião, morte e sofrimento
Fundamentalismo
Toda ortodoxia, todo fundamentalismo tolhe a liberdade de pensar. Tolhe a liberdade, também, porque o conceito de Deus não é único.
Por isso, há várias religiões. Por isso, há vários profetas. E esses profetas todos foram atrás de Deus com uma tese diferente. E nada disso é importante diante do “pensamento livre”. Porque somente o pensamento livre leva à realidade cognoscível. Aquela realidade defendida por Popper.
A liberdade de pensar é o que nos auxilia na tarefa de compreender os mecanismos da vida. Nos auxilia a compreender o fenômeno da criação: do nascimento à morte.
A morte
Há os que dizem que entendem a morte, mas ninguém entende a morte! No entanto, é extremamente necessário compreender o significado da morte. A morte faz parte da vida.
É um sucedâneo da vida. E é a morte que leva todo mundo a abraçar a religião. Durante meu período no seminário, estava totalmente enquadrado. No seminário, eu queria ser santo! E não fazia por menos. Lembro-me de que, ainda muito jovem, me inspirei na história de alguns santos que se autoflagelavam e procurei imitá-los. Colocava pedras na minha cama para me martirizar e não dormir com prazer. Queria, assim, pagar meus pecados. Um dia, o reitor descobriu as pedras. Me chamou e disse: “Rapaz, não faça mais isso! Você quer ser santo? Não é bem assim que será canonizado! Você pode ser santo através da bondade, da caridade e do amor ao próximo.
Sofrimento
O sofrimento, a morte e o pecado – assim como a crença num ente Salvador – constituem a base da maioria das religiões.
Fora do continente africano, dificilmente encontraremos algo que seja o contrário disso: a religião como enaltecedora da alegria de viver, do “Deus sorridente”. Mas as religiões, sejam elas africanas, orientais ou ocidentais, estão sempre em busca de “alguma coisa”.
Um dos grandes temas da literatura universal – religiosa ou não – é a busca. A religião também busca, sem parar, e inspira um grande número de seres humanos, como inspirou os próprios santos. São Francisco de Assis, por exemplo, foi um grande santo. Ele foi atrás da natureza, das flores, das plantas, dos animais. É superatual, porque foi um dos primeiros religiosos ecológicos! Como os africanos, São Francisco via Deus na natureza.
Capítulo 35 – O futuro
A educação brasileira
O mais importante é o ensino, tendo o livro como base! Portanto, a educação e o livro mantêm a cultura viva. Sem isso, não existimos.
Um país como o Brasil não está predestinado apenas a ser uma nação com grandes potenciais de riqueza e imenso território; tem como tarefa aumentar cada vez mais o número de pessoas dotadas de dimensão intelectual compatível com as exigências e as complexidades da sociedade moderna. Precisamos evitar a todo preço a desnacionalização e o esmagamento de nossa cultura.
E estar atentos para o fato de que uma sociedade com péssimas condições de distribuição de renda, com milhões de pessoas vivendo em condições extremamente precárias, acaba criando dois tipos de cultura: o da classe dominante e a dos pobres.
Não podemos manter, em pleno terceiro milênio, 20 milhões de pessoas analfabetas. É inadmissível que milhões de pessoas ainda olhem para a bandeira nacional e não entendam que está escrito nela “Ordem e Progresso”. Não conseguem interpretar sua própria bandeira! Precisamos sair do fosso da educação precária – sem professores, sem escolas adequadas, sem livros e sem didática avançada.
Já nos adiantamos bastante, como país emergente, na frente de muitos, mas isso não basta se não ampliarmos os níveis de educação e a capacidade de cultura do país.
A palavra, o livro e a escrita – diziam os gregos – são os instrumentos mais valiosos do homem.
Liberdade interior
Quando você abre o coração para tudo na vida com paixão.
Com entusiasmo.
Quando você se torna disponível para outros.
Quando você ama o próximo e quando se integra no regional, no nacional e no universal com naturalidade e sem complexos.
É tudo isso que nos engrandece, nos mantém de pé.
Não nos faz morrer prematuramente.
Nos imortaliza.
Trechos do livro: ANTONIO OLINTO, 90 anos de paixão - Memórias de um imortal. Escrito por João Lins de Albuquerque, ed. Livraria de Cultura - ainda inédito.
Jornal do Brasil - Segunda-feira, 14 de Setembro de 2009

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