Juremir Machado da Silva*
Crédito: Arte Pedro Dreher
Faz algum tempo, ser reformista era sinônimo de frouxidão. A onda era ser revolucionário. Feitas as revoluções, constatava-se que elas não passavam de reformas tortas. Demorou muito para que se revolucionasse o conceito de reforma. Hoje, reformar é revolucionário. Tem reforma para todo lado. Até mesmo reformas de costumes e mentalidades que fazem mal para a autoestima dos atingidos. Sempre tem a primeira vez. Os Estados Unidos tiveram a sua nota de bons pagadores rebaixada. Não há como deixar de pensar: quem com ferro fere com ferro será ferido. Ou, no popular, toma! Insisto, tudo muda. A Rússia está sendo reformada por Burger King, Papa John''s, MC Donald''s, Carl''s Jr., Wendy''s, Subway, Yum Brands, etc. É a mais nova distribuição de terras. Quer dizer, de territórios. O plano quinquenal busca produzir obesos capazes de concorrer com os norte-americanos.
Se a grande revolução russa agora é o fast-food americano, na China a reforma tem outro sentido. Os chineses estão importando Shakespeare e exportando tudo o que podem. Pelo andar da reforma, os Estados Unidos dominam a Rússia, mas serão dominados pela China. Tudo muda. Preciso dizer isso todo dia. Tudo muda. Por exemplo, o amor eterno dos adolescentes famosos Selena e Justin Bieber já acabou. Nesse caso, nada mudou. Amor de adolescente passa rápido. Ou, bem pensado, tudo mudou. Antes, amor de adolescente não virava notícia internacional. Aliás, adolescente nem existia. É uma invenção recente da psicologia e da publicidade. Noção em alta. Quem está em extinção agora é o adulto, restrito a uma faixa entre 40 e 50 anos. Tudo muda. É fácil ficar para trás. Li esta manchete: "Fundador da Playboy tuíta o planking das suas coelhinhas". O que é isso? Socorro.
Dei, como mandava o iluminado Lênin, dois passos atrás para tentar dar um passo à frente. Estou no meio do caminho. Espero que a sabedoria milenar chinesa me ajude. Que negócio é esse de planking? Lá em Palomas, se alguém falar, "vou tuitar o teu planking", ouve um "faca, meu" ou um "que indecência é essa?". Se duvidar, toma tiro. Não há mais respeito. Onde se viu querer tuitar o meu planking? Pelo que entendi, depois de minuciosa análise, planking é ficar deitado de bunda para cima fingindo-se de morto ou imitando pranchas (planchas em palomês castiço). Uau! O interesse pelo planking das coelhinhas da Playboy é extraordinário e sincero. Não duvido que se espalhe no Brasil uma nova onda revolucionária, o planking das popozudas, o planking da mulher melancia.
Tudo muda. Inclusive o Brasil? Já aderimos ao fast-food, ao rebaixamento da nossa nota de pagadores internacionais e ao planking. Nesse quesito aí, somos revolucionários. Temos experiência para dar e vender. Andamos sempre na vanguarda. Possuímos outros pontos de reformismo intenso. A solidariedade é o nosso forte. Deixo ao leitor tirar as suas conclusões com ajuda desta manchete de portal, uma raridade entre nós: "PMDB transforma Agricultura em cabide de emprego". Os políticos, pelo jeito, estão fazendo planking para nós.
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* Sociólogo. Escritor. Tradutor. Prof. Universitário. Cronista do Corrio do Povo
Fonte: Correio do Povo on line, 11/08/2011

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