Paulo Yokota*
USS Carl Vinson, porta aviões dos USA que fica no Oceano Índico
O Novo Centro do Universo Segundo Robert Kaplan
A importante revista Foreign Policy publica um ensaio sobre “Monsoon” (Monções), o novo livro de Robert Kaplan, um consagrado profissional, fotógrafo e analista, e uma entrevista sua concedida a Benjamin Pauker. Segundo Kaplan, o Oceano Índico será em breve o novo centro do comércio, da energia e da política mundial. A região estratégica não seria mais nem o Atlântico nem o Pacífico, mas a Eurásia, que tem como grande desafio a ascensão da China.
Kaplan registra o lento declínio da influência Ocidental na região, e explora as ambições e rivalidades dos países do Oceano Índico, principalmente da China e da Índia, nesta área que envolve da África à Austrália. Ele aborda como a guerra no Afeganistão ajuda a China, a doutrina do caminho asiático da Índia e as alternâncias civis e militares do Paquistão. Segundo ele, os conceitos que foram elaborados durante a Guerra Fria ficaram ultrapassados, havendo uma nova realidade que vai do Cabo Horn na África, passando pelo Estreito de Málaga e Indonésia, até chegar ao Mar do Japão. O Oceano Índico liga o Oriente Médio com a ascendente China, abrangendo todo o arco da energia mundial. O artigo é uma coincidência com o assunto abordado neste site sobre a “Preocupante Evolução das Tensões Asiáticas”, ainda ontem.
O autor explica que, apesar dos jatos e era da informação, 90% do comércio vai pelo mar, pois ele é mais barato. A globalização não existiria sem ele. O título do livro, “Monções”, foi escolhido porque no Oceano Índico é onde o clima é previsível e os padrões do vento vêm sendo utilizado desde os romanos.
Perguntado sobre os países envolvidos nesta região que seriam democráticos, Kaplan informou que Omã não o é, porém é liderado por um déspota benevolente, com concepções avançadas, mas que começou a ficar instável, não se sabendo sobre o seu futuro. O Paquistão fracassou no regime civil como militar, e é uma democracia turbulenta. E é onde a China implantou o porto do século 21, que reúne o petróleo e os minérios da Ásia Central para as linhas de transporte marítimo. A China depende do Oceano Índico para o abastecimento de petróleo e gás do Oriente Médio, utilizando o Estreito de Málaga, que está com grande tráfego, num espaço restrito. Os chineses gostariam de contar com uma alternativa, como um oleoduto pelo continente.
Sobre uma pergunta do papel que a América desempenha no Afeganistão para a ascensão da China, o entrevistado afirmou que os americanos, conseguindo estabilizar o país e depois o Paquistão, ajudariam muito a China, que já espalhou portos pelo Oceano Índico para escoar os produtos que ela necessita como petróleo, minerais e metais. Os chineses já detinham o comércio da região no século oitavo, na Dinastia Tang.
Perguntou-se sobre o papel da Índia, e Kaplan respondeu que ela se sente cercada, e o estabelecimento de uma base naval chinesa nesta parte do mundo seria muito provocativo (o Paquistão está se oferecendo para tanto, pois está em constante conflito com a Índia). A China até agora pretende bases para o seu comércio com o Oriente Médio e a África. Os indianos consideram o Oceano Índico como sob o seu controle, como uma espécie de Doutrina Monroe (Américas para os americanos). A Índia se empenha para ter boas relações com o Irã.
A pergunta seguinte foi se ele via a possibilidade de um conflito entre a China e a Índia, ao que ele respondeu informando que não via uma guerra, mas uma grande rivalidade. Os dois países desenvolveram civilizações separadas pelo Himalaia e, com os atuais avanços tecnológicos, os jatos e navios militares de ambos os países tem zonas de influência com muitas sobreposições (overlap).
Sobre os outros países populosos, como Bangladesh, Sri Lanka e Nepal, Kaplan informou que tanto a Índia como China gostariam de abrir rotas de comércio, oferecendo diferentes pacotes para estabelecer oleodutos, e o entrevistado informou que em Bangladesh, em especial, a corrupção é elevada.
Perguntado sobre a África, Kaplan informou que existem muitos recursos da Índia, China e do Golfo Pérsico visando aquele continente, que tende a ser elevado pela prosperidade, com um sistema organizado de comércio, deixando de ser do Terceiro Mundo. Sobre a Indonésia, que é o maior país muçulmano do mundo, ela passa por uma estabilidade política que já dura 12 anos, começando a se destacar economicamente.
Kaplan entende que a influência dos Estados Unidos na região vai declinando lentamente, pela redução do seu poder naval, que está sendo substituído pela chinesa e hindu, que será a terceira ou quarta do mundo. No Oceano Índico, vai se desenvolver a dinâmica política destes poderios navais, de forma multipolar. A Tailândia era a favorita dos Estados Unidos na região, e será substituída pela Indonésia, que não vem merecendo a atenção necessária e serve para balancear o poder chinês e também o mundo muçulmano, de forma moderada.
A política de Barack Obama, segundo Kaplan estará correta se der a devida atenção para a Ásia, deixando a prioridade europeia. É na Ásia que está ocorrendo o desenvolvimento, acompanhado de fortalecimento militar, que passa a exigir maiores atenções, que não podem ser concentradas nas preocupações sobre a retirada do Iraque e do Afeganistão.
Kaplan entende que nesta região o nacionalismo é mais jovem e forte que na Europa, e o Paquistão como a Índia possuem armamentos nucleares dos quais se orgulham, com uma classe média em ascensão. Isto coloca as questões de forma mais complexa para os Estados Unidos, que ainda terá que manter uma influência limitada sobre a região.
São questões relevantes levantadas por Kaplan para consideração de todos que se preocupam com as importantes questões geopolíticas dentro deste mundo globalizado.
-----------------* Economista brasileiro (dupla nacionalidade japonesa), ex-professor da USP, ex-diretor do Banco Central do Brasil, ex-presidente do INCRA.
Fonte: http://www.asiacomentada.com.br/2011/06/
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