terça-feira, 9 de agosto de 2011

Edward Wilson - Entrevista

 ''Facebook e twitter afetam o desenvolvimento do cérebro''


O reconhecido biólogo estadunidense Edward Wilson (ganhador de dois prêmios Pulitzer, do prêmio Fundação BBVA Fronteiras do Conhecimento em Ecologia e Biologia da Preservação em 2010, entre outros) concedeu uma entrevista à Sergio Heredia para El Magazine, 03-08-2011. Nessa entrevsita o tema principail foi o futuro do ser humano.

Eis a entrevista. A tradução é do Cepat.

A maldade está na inteligência.
Sim, e isso se deve ao fato de que a evolução se produziu por uma seleção natural e como parte desse processo individual competimos dentro de grupos e os grupos competem entre si. Essa disputa gera condutas egoístas que chamamos de maldade. Mas a competitividade entre grupos dá como resultado também o altruísmo e valores como patriotismo, heroísmo e sacrifício que chamamos virtude. O conflito entre as seleções de indivíduos dentro dos grupos e a disputa entre os grupos é uma parte importante do que chamamos de pecado e virtude. É muito humano.

Se a sociedade evolui cada vez mais e inclui-se aqui a tecnologia e o conhecimento, os humanos serão cada vez mais malvados?
Não. Com mais compreensão e conhecimento vêm mais cooperação e colaboração. Com conhecimento, podemos ser capazes de resolver problemas. Deixe que lhe explique como se deu a condição humana. Quando vivíamos em sociedades muito simples, apenas tínhamos paixão, instintos e emoções, valores que foram evoluíndo durante milhares de anos. Na idade média chegaram as instituições medievais, como a religião e algumas organizações corporativas. Hoje, temos uma tecnologia quase divina, similar a de Deus: podemos fazer com que o mundo exploda, já acabamos com boa parte da vida do planeta.

Você é um cientista, não fala de religião.
Falo, mas prefiro não falar muito de teologia. Acredito que se pode compreender a origem da religião. E o porque somos religiosos. Mas não me sinto apto para falar do tema, salvo para afirmar que as religiões são incompatíveis entre si porque cada uma tem uma história diferente. E isso torna quase impossível que a humanidade possa criar uma religião unificada. O problema está no capítulo da criação.

Demos às costas para a natureza?
Vivemos cada vez mais metidos num mundo virtual e artificial, com televisores, telas enormes e grandes inimigos como Facebook e twitter. Desse jeito não se desenvolve o cérebro hummano. A mente busca satisfações e todos esses meios do ócio não ajudam. Entretanto, são satisfações similares as da drogas. Geram estímulos sem compreender seus significados. E ignoramos as grandes satisfações produzidas pelo sentir a natureza.

É Bolt (o atleta mais veloz de todos os tempos) um passo adiante na evolução do ser humano?
Acredito que o que faz não é consequência de algo novo em nossa evolução. Bolt chegou até onde chegou porque, desde diferentes partes da humanidade, o estimulamos a competir. Nos esportes, não é acidental o fato de que os grandes maratonistas venham da África Oriental (Kenia e Etiópia). Sabemos que possuem a estrutura física adequada e muitas fibras musculares lentas, excelentes para o esforço aeróbico. Os velocistas, entretanto, vêm desde o oeste da África, como no caso dos nigerianos.

Mas os países desenvolvidos são mais técnicos. E os pobres, mais sofridos...
Não evoluimos em função do desenvolvimento dos países. Não estamos engordando ou emagrecendo na mesma direção. Estamos nos misturando, graças à imigração. E assim podemos pensar que, um número determinado de gerações futuras, os suecos de Estocolmo, será genéticamente iguais aos nigerianos de Lagos (...) Teremos mais gênios, grandes atletas, e também, gente mais bonita. No futuro, o ser humano será uma espécie supreendente. Evoluimos nesse sentido e não podemos acreditar que iremos ter um cérebro maior, grandes mãos ou pernas mais longas...
Por sorte, os Gadafi do mundo estão ficando fora de moda. E se chega a esta conclusão lendo a história. Os ditadors são em número cada vez menor. Eu acredito num novo mundo. Para mim, resta apenas um ditador, Fidel Castro, que está se aproximando a cada dia mais da democracia. Permito-me supor que no final a Venezuela também mudará. Temos a primavera árabe. Acredito que politicamente estamos na direção certa.
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Fonte: IHU on line, 09/08/2011

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