sábado, 13 de agosto de 2011

O ano dos visionários

Juremir Machado da Silva*

Crédito: Arte João Luis Xavier

A tarefa do intelectual é dizer não ao espírito de rebanho. Cabe-lhe contrariar o senso comum. A tarefa do político é buscar novos caminhos que contrariem o conformismo. Neste mês de agosto, estamos comemorando 50 anos da Rede da Legalidade, um episódio marcado pelo improvável. O governador gaúcho de então, Leonel Brizola, desafiou o "realismo" dos militares e fez valer o justo e o legítimo contra o conservadorismo golpista disfarçado de preocupação com a ordem. Neste ano, comemora-se também o centenário de nascimento de Marshall McLuhan, o homem que inventou o conceito de "aldeia global" e declarou que "o meio é a mensagem". McLuhan antecipou o universo da Internet. Foi ridicularizado, desprezado, humilhado. Já falei disso aqui. Gosto de retomar esse tipo de tema.
Gosto mais ainda de ver gente reunida para debater os feitos desses homens que, por terem dado um salto na história, foram maltratados por gente de antolhos. De 16 a 18 de novembro de 2011, na PUC, vamos receber intelectuais renomados, de instituições ainda mais renomadas, para avaliar o passado, o presente e o futuro das tecnologias da comunicação, essas que continuam revolucionando as nossas vidas. Falo disso por utilidade pública e para implicar com aqueles ignorantes que adoram dizer que a universidade vive apartada dos verdadeiros problemas e interesses sociais. Quem diz isso desconhece o mundo universitário ou só pensa em dizer sim ao dinheiro fácil de negócios imediatos e sem visão. O nosso seminário terá a presença de Eric McLuhan (Instituto Harris for the Arts), especialista na obra do seu pai.
"É tarefa das universidades abrigar
a diferença e discutir o imediato e o visionário.
Estamos sempre dizendo "não" ao simplismo."

Agora vejam o restante: Federico Casalegno (MIT/EUA), William Uricchio (MIT/EUA), Jean-Bruno Renard (Universidade Paul-Valéry - Montpellier III), Georges Bertin (CNAM/França), Irene Machado (USP) e Vinicius Andrade Pereira (Uerj). O MIT (Massachusetts Institute of Technology) é uma meca das inovações, descobertas e revoluções contemporâneas no campo tecnológico. Gente do mundo inteiro vai para lá em busca de atmosfera para desenvolver ideias visionárias. Vamos misturar americanos, italianos, franceses, canadenses e brasileiros para fazer o balanço de 100 anos de metamorfoses do cotidiano pela tecnologia. Propaganda do seminário? Não. É que eu estava num lugar cheio de pessoas fashions e ouvi de um engravatado o seguinte: "As universidades precisam pensar a tecnologia e a comunicação em profundidade e com especialistas de fora".
Quase lhe dei o endereço para inscrições( http://www.pucrs.br/famecos/pos/seminariointernacional ). Fico impressionado com a limitação intelectual de alguns dos membros das nossas elites. É aquele pessoal sensato que, por excesso de ponderação, teria entregue o Brasil aos militares em 1961, o que fez, com todo prazer, em 1964. A história está passando e tem quem não perceba. O conhecimento continua sendo produzido nas melhores universidades e centros de pesquisa. É tarefa das universidades abrigar a diferença e discutir o imediato e o visionário. Estamos sempre dizendo "não" ao simplismo.
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* Sociólogo. Escritor. Prof. Universitário. Tradutor. Colunista do Correio do Povo
Fonte: Correio do Povo on line, 13/08/2011

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