sábado, 6 de agosto de 2011

A opinião alheia

Aguinaldo Pavão*
Se você imagina que a outra pessoa não ficará sabendo que você fala mal dela, isso não seria como se você estivesse apenas pensando coisas sobre ela e não propriamente falando mal dela? Da mesma forma que, é claro, se algum conhecido fala mal de você para outra pessoa, mas não fala o mesmo na tua frente, não seria como se ele apenas acalentasse maus pensamentos sobre você? Que importância tem a opinião alheia? Por que uma pessoa seria desprezada apenas pelas costas? Não é facilmente previsível que pessoas próximas a nós tenham certos maus pensamentos sobre nós? Sim. Penso simplesmente que elas vêem defeitos em nós. Feio, chato, mesquinho, burro, egoísta, interesseiro, covarde, invejoso, superficial, bajulador, ridículo. Muitos são amigos nossos. Pensar coisas desagradáveis sobre outras pessoas parece ser menos grave do que falar mal de outras pessoas. A maledicência em nada parece uma qualidade digna de elogio. Mas talvez a diferença entre falar mal e pensar mal seja muito pequena. Por certo, nos metemos em encrenca quando pessoas que, de alguma forma, prezamos ficam sabendo de nossas desabonadoras opiniões sobre elas. Mas não deveríamos perdoar isso, não dar bola? Pois o importante é que a pessoa na nossa frente não nos despreza. No fundo, somos tolerantes com a falsidade. Nada de mais. E somos tolerantes até certo ponto, claro. Pascal não disse nada original quando escreveu que
“se todos os homens soubessem o que dizem um dos outros não haveria quatro amigos no mundo. Isso se vê pelas querelas que provam as indiscrições s ocasionais”.

Nem Russell falou algo novo ao dizer que
“se a todos nós fosse concedido o poder, como num passe de mágica, de ler a mente uns dos outros, suponho que o primeiro efeito seria que quase todas as amizades se desfariam”.

Valerá mais sermos apenas respeitados pela frente, mesmo que desprezados pelas costas? Talvez essas perguntas estejam mal colocadas. Vejam, não estou pensando nas pessoas com quem em geral temos contato (elas não contam muito), mas nas pessoas mais próximas, que chamamos permissivamente de amigos. Evidentemente, há limites para nossa tolerância diante do fato de que eles falam mal de nós. Mas em geral toleramos. Há algumas pessoas que se preocupam mais do que outras. Não parece patético o seguinte dialogo entre amigos:
– O que você pensa sobre mim?
– Você é um cara legal.
– Ah, mas me diga tudo que você pensa sobre mim, as coisas boas e as coisas ruins.
– Tudo?
Ora, essa vontade de querer saber tudo que uma pessoa pensa sobre nós nao me parece nada higiênica. Eu não quero saber.

Comentário do BLOG: "Até Jesus Cristo, o Nazareno se pre-ocupou com o que os outros pensavam dele, vejamos o que ele perguntou aos seus discípulos: "Quem dizem os homens que é o Filho do Homem?" (Mt 16,13)
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* professor de Filosofia na Universidade Estadual de Londrina (desde 1995). Fiz mestrado em Filosofia na UFRGS, com dissertação sobre "Liberdade e Moralidade em Kant" (1998). Meu doutoramento em Filosofia foi na Unicamp, com tese sobre "O mal moral em Kant" (2005).
Local: Londrina PR : Brasil http://agguinaldopavao.blogspot.com/ 16/05/2011

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