"O amor que não se renova todos
os dias e todas as noites se torna hábito
e lentamente se transforma
em escravidão".
Uma frase, uma citação, 140 caracteres podem conter um fulgor e uma profundidade deslumbrantes. Entre os 500 milhões de pessoas que todos os dias se deparam com os breves textos do Twitter, há também o cardeal Gianfranco Ravasi, e a citação de Kahlil Gibran é um dos seu tuítes mais recentes, juntamente com passagens dos Evangelhos, frases de Sciascia e John Lennon, Gesualdo Bufalino e Goethe, versículos do livro do Eclesiástico e das Cartas aos Coríntios.
Tudo isso com uma lógica: tuítes seculares de manhã, tuítes religiosos à tarde. É o atebti e meditado exercício de introduzir complexidade e sentido na rígida e, às vezes, um pouco vaga onda dos tuítes. E, ao mesmo tempo, uma resposta ao preconceito de uma Igreja fechada ao progresso. É o esforço do presidente do Conselho Pontifício para a Cultura, que desembarcou nas redes sociais "por curiosidade", mas imergiu nos 140 caracteres com o compromisso e a profundidade dos homens da Igreja.
Cardeal, como e quando o senhor começou a usar o Twitter?
Como migrante digital, e não como nativo, eu comecei a percorrer essas ruas de uma forma muito ingênua e muito curiosa. Foi essa curiosidade que me levou a começar...
O senhor refuta o estereótipo de uma Igreja fechada ao progresso?
A minha tarefa está no âmbito de um dicastério vaticano dedicado à cultura. É, portanto, a de ter um respiro no átrio, não tanto no templo, mais na praça do que no palácio. Isso vale para toda a cultura, não só para o Vaticano, porque atualmente não há mais o conceito aristocrático de cultura. Existe o antropológico da cultura industrial. E é por isso que eu saí para o átrio. Mas considero que toda a Igreja também deve estar na praça e não só entre os incensos do templo.
Conceitos profundos na brevidade do Twitter: esse é o desafio da Igreja?
Um dos aspectos mais interessantes do Twitter é o vínculo de ficar na gaiola dos 140 caracteres. Isso lhe obriga não só à incisividade, ao fulgor, ao brilho, mas também ao rigor. E isso vai contra uma certa tendência atribuída à eloquência sacra, que, dizia Voltaire, "é como a espada de Carlos Magno, longa e plana...", porque o que os pregadores não sabem dar em profundidade procuram dar em extensão.
Não há o risco de desnaturalizar a mensagem da Igreja?
Essa é uma pergunta capital, porque, efetivamente, percorrer as artérias desse novo meio de comunicação não deve nos fazer esquecer que a linguagem é muito mais suntuosa e gloriosa, sobretudo a religiosa, que tem séculos de elaboração nas costas. Por isso, nunca se deve abandonar a subordinada. A informática exige as coordenadas, as frases breves, enquanto a filosofia, a teologia, a grande cultura preferem as subordinadas, as deduções, as ramificações. Não usamos o Twitter de modo ingênuo.
O senhor tem mais de 13 mil seguidores, mas segue apenas 32 pessoas. Segue outros cardeais, editores de jornais, mas acho que só vimos um político: Matteo Renzi. É uma escolha de campo?
Para mim, é uma surpresa, eu não tinha percebido. Mas, além de Renzi, devo dizer que o sentido da minha participação no Twitter é dirigido aos não crentes e particularmente aos polêmicos... Nestes tempos em que se fala muito do ICI [imposto sobre os imóveis] da Igreja, no Twitter, eu fui ininterruptamente alvejado e devo dizer que a palma do tuíte mais divertido vai para a minha seguidora que parafraseou o lema de Santo Agostinho: "Oh, Senhor, fazei-me casto, mas não ainda" para "Oh, Senhor, fazei-me cadastrado, mas não ainda".
Essa sua familiaridade com a Web tem encontrado resistências no Vaticano?
O fato de haver perplexidade é normal, às vezes eu também tenho. Muitas vezes, há um desvio na comunicação informática. E deve ser aprofundado o impacto sobre as culturas jovens, porque um rapaz que está cinco horas por dia na frente de um computador muda antropologicamente. Mas, por outro lado, estar na Web é necessário, porque é uma nova gramática de linguagem. E muitos bispos começam a frequentar a Web: o bispo de Soissons inventou as tweet-homilias. Uma forma para alcançar um horizonte de pessoas que jamais colocarão os pés em uma igreja.
O Santo Padre também foi parar no Twitter. Foi o senhor que o aconselhou?
Não, o mérito é de Dom Celli, presidente do Conselho Pontifício para as Comunicações Sociais e responsável vaticano por esse setor. Mas, recentemente, com Bento XVI, falamos longamente sobre esses assuntos e ele estava muito curioso sobre a decifração do que eu chamo de "sexto poder". Um poder que realmente tem uma eficácia imperial. Porque não se trata mais de um agregado, como podia ser a televisão com o olho, ou o telefone para o ouvido. É um verdadeiro ambiente em que estamos imersos, embora não queiramos estar...
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A reportagem é de Cesare Buquicchio e Maddalena Loy, publicada no jornal L'Unità, 29-02-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Fonte: IHU on line, 03/03/2012
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