Lucy Kellaway*
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Quando Christine Lagarde lançou sua proposta para ser a nova diretorado Fundo Monetário Internacional (FMI), ela declarou que levaria para o cargo todo o seu "expertise de advogada, ministra, administradora e mulher". As três primeiras são autoexplicativas - e formidáveis. Mas o que a senhorita Lagarde quis dizer com a quarta? O que é exatamente a sua experiência de mulher? E como isso faz dela uma candidata para o cargo que envolve percorrer o mundo resgatando países que estão indo pelo ralo?
A coisa mais óbvia a diferenciar o fato de ser mulher e de ser homem é que as mulheres têm filhos. Em duas ocasiões Lagarde passou a maior parte do ano com a barriga em crescimento e teve depois a difícil missão de dar à luz. Para a maioria das mulheres isso representa muita coisa, embora não seja tão claro como uma experiência desse tipo prepara alguém para comandar o FMI.
No entanto, na medida em que os filhos crescem, uma mãe (na verdade, um pai) pode se ver esvaziando os bolsos. Sendo a natureza humana o que é, o dinheiro dado é quase que instantaneamente gasto em doces, não sobrando nada para, digamos, o presente de aniversário dos irmãos. A mãe, então, enfrenta a delicada decisão de socorrer os filhos, e impor condições a qualquer empréstimo concedido. Posso imaginar que lidar com esses dilemas possa ser relevante para um futuro diretor do FMI, sendo que a única diferença é o grau: mais países exigindo somas maiores de dinheiro.
Além disso, tenho dificuldade em ver como a experiência de Lagarde como mulher vai ser útil. É possível, porém, que os traços de sua personalidade feminina possam ajudá-la. A sabedoria popular diz que as mulheres são mais cuidadosas que os homens e, desse modo, resultam em líderes mais seguros. De fato, pode ter sido o apetite desenfreado de Strauss-Khan pelo perigo que fez tudo aquilo com ele.
Mas essa teoria de que as mulheres têm uma mão mais firme - muito exaltada quando o Lehman Brothers foi à lona e todo tipo de pessoa insistia que um Lehman Sisters não teria quebrado - não surgiu completamente dos fatos.
No mês passado, participei de um seminário em que Renee Adams da Universidade de Queensland distribuiu um documento mostrando que as mulheres que chegam ao topo não são nem um pouco avessas aos riscos, muito embora nas ruas as mulheres possam ser. Ela estudou um grande grupo de diretoras de companhias suecas e constatou que elas parecem ser mais entusiasmadas com os riscos - não só do que a média das mulheres, mas também que a de seus colegas de conselho do sexo masculino.
Entretanto, há outra pesquisa com a qual me deparei, que pode ser usada para ajudar no caso de Lagarde. Ela mostra que quando o assunto é a inteligência de um grupo, a presença das mulheres melhora os resultados, mesmo que os indivíduos não sejam particularmente inteligentes.
O estudo, feito por Anita Woolley e Thomas Malone e publicado na edição mais recente da "Harvard Business Review", mostra que quanto mais mulheres houver no grupo, melhor ele se sai.
Se isso estiver certo, não importa muito se Lagarde não for a melhor economista do mundo - conforme vários comentaristas maldosamente vêm sugerindo - ou uma substituta do mesmo nível de seu antecessor. De acordo com essa teoria, a capacidade do FMI enquanto grupo poderá se destacar sob sua liderança.
Mesmo assim, há duas razões para se considerar essas constatações com grandes reservas. Primeiro, qualquer trabalho com uma conclusão peculiar, para a qual não há nenhuma explicação decente, provavelmente estará errado.
E a probabilidade de ele estar errado é ainda maior quando a conclusão se apoia em uma causa que está na moda. Na verdade, se o estudo tivesse mostrado que os grupos com muitas mulheres são mais estúpidos que a média, aposto que os pesquisadores teriam sido enviados de volta para as pranchetas. Duvido que os resultados teriam sido descritos tão minuciosamente na "Harvard Business Review".
O que me leva ao verdadeiro motivo da validade da questão feminina. Não tem nada a ver com a experiência de Lagarde de ser mulher, sua personalidade feminina ou dinâmicas de grupo. É o simples fato do gênero ao qual ela pertence. Esta é a melhor época para ser uma mulher com talento, charme e apetite por promoções. Quase todas as organizações anseiam por elas, e certamente nenhuma deseja mais que o traumatizado FMI.
Dadas as alegadas circunstâncias nada amigáveis às mulheres pelas quais Strauss-Khan perdeu o emprego, a nomeação de uma mulher para o principal cargo da instituição não seria vista apenas como um triunfo da diversidade. Seria mais um bálsamo para uma mancha grande e feia.
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* Lucy Kellaway é colunista do "Financial Times". Sua coluna é publicada às segundas-feiras na editoria de Carreira
Fonte: Valor Econômica on line, 06/06/2011
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