Entrevista de Júlio Camargo
Empresário – ex-consultor da Toyo Setal
Henrique Beirangê
Em
primeira entrevista, Júlio Camargo diz que solução para crise passa por
eleições e afirma que Temer e presidente da Câmara não podem assumir o
País
JÚLIO CAMARGO - EMPRESÁRIO |
Responsável pela delação que enredou o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), na Operação Lava Jato, o empresário Júlio Camargo concedeu à CartaCapital sua primeira entrevista. Camargo
afirmou à força-tarefa da Lava Jato ter pagado 5 milhões de dólares em
propinas ao parlamentar por conta de um contrato de um navio sonda com a
Petrobras.
O
empresário concordou em conversar após quatro meses de negociação.
Embora legalmente impossibilitado de falar sobre detalhes da delação, na
entrevista a seguir ele não se furta a tratar de figuras públicas, que
vão de Cunha ao senador tucano Aécio Neves (MG). O empresário também diz estranhar o fato de as investigações da Lava Jato contra integrantes da oposição não avançarem.
Abaixo, um trecho da entrevista. A íntegra da conversa estará na próxima edição de CartaCapital, que começa a circular nesta sexta-feira 15 de abril.
CartaCapital: Como o senhor interpreta as últimas ações do deputado Eduardo Cunha?
Júlio Camargo:
Acho um desacato ao povo brasileiro. Entendo e respeito os ditames do
Judiciário. O que me espanta é a morosidade. São muitos fatos concretos
sem nenhuma ação da Justiça a respeito.
CC: Cunha conduz o processo de impeachment.
JC: É surreal. De qualquer forma, tenho certeza, a verdade tarda, mas não falha. Vai chegar a hora do julgamento dele. Se a gente quer de fato mudar este País, o Cunha precisa ser extirpado do cenário.
CC: O impeachment seria a solução para a crise?
JC: Depende do day after [dia seguinte]. Quem será o novo presidente? O “grande jurista” e vice-presidente Michel Temer tem seu nome vinculado à Lava Jato. Se o Eduardo Cunha
se tornar o presidente, seria o fim da nação. Tenho 64 anos e já fui
convidado para morar fora do País. Nunca pensei, mas se o Cunha assumir o
governo, não haveria alternativa.
CC:
O sistema, como o senhor diz, sempre foi assim. Por qual motivo o PSDB e
os partidos de oposição não têm aparecido nas investigações?
JC:
Essa é uma das grandes perguntas. A opinião pública está desconfiada
dessa falta de informação do lado dos partidos de oposição. Não há dúvida nenhuma de que a sistemática do PT foi simplesmente uma sequência. De uma maneira mais ou menos sofisticada, foi exatamente a mesma. Não saberia apontar o motivo.
CC: O que o senhor me diz do Aécio Neves?
JC: Está na mesma posição do Michel Temer, hoje sob suspeição. Não votaria no Aécio de jeito nenhum.
CC – E o Lula?
JC:
O Lula foi o maior presidente da história do Brasil, ninguém pode dizer
nada em contrário. É uma vítima de um processo eleitoral e do sistema
político. Evidentemente ele foi muito mal assessorado durante os últimos
anos, cometeu falhas. Também não o considero apto a voltar à Presidência. Talvez ele e o Fernando Henrique Cardoso poderiam ser os articuladores de uma grande aliança nacional. Os dois precisariam, no entanto, se penitenciar, calçar as sandálias da humildade.
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Fonte: CartaCapital – Política – Operação Lava Jato – 14/04/2016 – 15h56 – Atualizado em: 14/04/2106 às 16h13 – Internet: clique aqui.
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