domingo, 22 de abril de 2012

Getúlio no Brique

<br /><b>Crédito: </b> Arte Cláudia Rodrigues
Juremir Machado da Silva*

Por onde começo? Pelo aniversário? Pela filosofia de vida? Pelo evento? Vamos lá. Tenho por filosofia de vida um fragmento de uma canção: "Todo artista tem de ir aonde o povo está". Eu me considero um artista. Sempre quis fazer uma sessão de autógrafos na rua. Não falo em praça. Na rua mesmo. Como "já não sonho, hoje faço com meu braço o meu viver", fui à luta. Neste domingo, das 11h ao meio-dia, autografarei meu romance "Getúlio" no Brique da Redenção. Será na Banca do Marcelo, a primeira do percurso, na esquina da José Bonifácio com a João Pessoa. Estarei lá de peito aberto, pronto a pagar qualquer mico.

Há uma justificativa para isso: na última quinta-feira, 19 de abril, completaram-se 130 anos do nascimento de Vargas, em São Borja. Getúlio seria o homem de muitas datas, como digo em meu livro: 1930, 1932, 1934, 1937, 1938, 1945, 1950 e 1954. A primeira delas, a do nascimento, já gerou polêmica. O mais importante político da história brasileira não nasceu em 19 de abril de 1883, como está na sua certidão de nascimento, mas em 19 de abril de 1882. Para o mundo, ele nasceria em 3 de outubro de 1930, quando estourou a revolução que enterraria a República Velha e nos serviria de divisor de águas. Certidão de nascimento não era fonte segura para se saber a idade de alguém. Jango e Brizola mexeram nas deles.

O que leva um autor - escritor é quem vende livros em livrarias - a sair de casa numa manhã de domingo para um improvável encontro com leitores? A magia da relação. No meu caso, não será, como também diz a música, em troca de pão. Salvo o pão da alma. Ainda que os maledicentes possam falar em desovar encalhe, sustentarei meu idealismo. Levar meus livros para a rua. Romper o circuito oficial. Fazer corpo a corpo com o leitor. Discutir com algum visitante ocasional as contradições de Vargas: conservador? Revolucionário? Ditador? Herói? Manipulador de massas? Reformista? Populista? Líder? Estadista? Suicida em potencial desde o começo? Um mito?

Ouvir, quem sabe, um eco de meu texto saindo dos lábios de algum velho getulista: "O jornalismo brasileiro, desde aquele interminável agosto de 1954, encerrado precocemente na manhã daquele dia 24, por um tiro no coração, nunca mais foi o mesmo. Nunca mais foi o mesmo, depois que ''ele cumpriu a promessa'', ainda que não tenha perdido a vontade de derrubar presidentes. Quem ainda se lembra de que a famosa entrevista de José Américo de Almeida, ao Correio da Manhã, a entrevista que sepultou o Estado Novo já defunto, foi dada a Carlos Lacerda? Páginas viradas de uma paixão chamada poder. De uma realidade chamada tempo. De uma história nem sempre feita de amor. Folhas de jornal do dia anterior".

Levar Getúlio para rua logo depois do seu aniversário, eis o desafio. Fazer profissão de fé no livro barato. Cada exemplar a R$ 10,00. Não cobrarei pelo autógrafo. Nem por beijos, abraços e apertos de mão. Como diz um amigo meu, "que disposição para as travessuras".
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* Jornalista. Escritor. Prof. Universitário. Tradutor.
juremir@correiodopovo.com.br
Fonte: Correio do Povo on line, 21/04/2012

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