Cartas inéditas sugerem um romance secreto entre o jesuíta português e a rainha cristina da suécia
Marcos Diego Nogueira
Por seis anos, o padre Antônio Vieira (1608-1697), conhecido por
atuar como missionário no Brasil Colônia, colocou de lado Deus e os seus
sermões e se entregou ao mais humano dos sentimentos: o amor por uma
mulher, ato proibido a um religioso. O objeto de sua paixão foi a rainha
Cristina Valsa da Suécia (1626-1689), que vivia autoexilada em Roma,
mesmo destino de Vieira na sua luta contra a Inquisição. É o que se lê
com o maior interesse (em se tratando de tão nobres personagens) no
romance histórico “O Poder Erótico” (Ed. Reler), da escritora austríaca
Gloria Kaiser. Pesquisadora de figuras da cultura brasileira, a autora
reuniu as cartas trocadas entre a rainha e o jesuíta no período que vai
de 1669 a 1675 para construir um relato pontuado de admiração mútua,
troca de conselhos e fortes desejos – esses acompanhados das fases de
negação e aceitação.
“Eu experimento com você uma paixão totalmente diversa e já temo hoje a dor que serei obrigada a suportar quando você partir de Roma”, escreveu Cristina numa carta de 1674, cinco anos após a chegada de Vieira à capital italiana, quando assumiu a função de capelão oficial no Palácio Riare, onde ela morava. A rainha era uma apaixonada leitora dos escritos do padre português desde os 18 anos e foram seus textos pregando a virtude cotidiana que a confortaram por ter expulsado da corte o então marido Gabriel de Stegeborg – ele a teria usado para alcançar o cargo de primeiro-ministro. Uma década depois, Cristina abdicaria do cargo por não concordar com os preceitos de seu pai. Foi quando se converteu ao catolicismo. “Quanto mais ela lia esses textos, uma pergunta a perturbava: onde Antônio Vieira vivera a dor causada pela separação de um corpo? Que mulher o levou a um conflito tão profundo?”, escreve a autora.
Permanece desconhecido o motivo que mergulhou Vieira em reflexão sobre os conflitos entre a religião e o erotismo, a exemplo desse trecho de um de seus sermões: “A luta contra o poder erótico não pode ser vencida, pois assim estaremos lutando contra a própria vida”. O que se sabe é que a rainha da Suécia foi a musa inspiradora em seus anos de temporada italiana. Mesmo morando no mesmo palácio, ele preferia as confidências escritas. Os sentimentos de Cristina eram recíprocos. Em 1669, quando Vieira tornou-se o seu conselheiro, a rainha tinha 43 anos e vivia sozinha. Ao processar a corte sueca, foi o jesuíta quem a orientou na contratação de um advogado, mesmo com o pouco dinheiro que lhe restara. Na apresentação do livro, o professor de história Ronaldo Vainfas insiste no platonismo desse amor. As cartas sugerem mais. Cabe ao leitor decidir.
“Eu experimento com você uma paixão totalmente diversa e já temo hoje a dor que serei obrigada a suportar quando você partir de Roma”, escreveu Cristina numa carta de 1674, cinco anos após a chegada de Vieira à capital italiana, quando assumiu a função de capelão oficial no Palácio Riare, onde ela morava. A rainha era uma apaixonada leitora dos escritos do padre português desde os 18 anos e foram seus textos pregando a virtude cotidiana que a confortaram por ter expulsado da corte o então marido Gabriel de Stegeborg – ele a teria usado para alcançar o cargo de primeiro-ministro. Uma década depois, Cristina abdicaria do cargo por não concordar com os preceitos de seu pai. Foi quando se converteu ao catolicismo. “Quanto mais ela lia esses textos, uma pergunta a perturbava: onde Antônio Vieira vivera a dor causada pela separação de um corpo? Que mulher o levou a um conflito tão profundo?”, escreve a autora.
Permanece desconhecido o motivo que mergulhou Vieira em reflexão sobre os conflitos entre a religião e o erotismo, a exemplo desse trecho de um de seus sermões: “A luta contra o poder erótico não pode ser vencida, pois assim estaremos lutando contra a própria vida”. O que se sabe é que a rainha da Suécia foi a musa inspiradora em seus anos de temporada italiana. Mesmo morando no mesmo palácio, ele preferia as confidências escritas. Os sentimentos de Cristina eram recíprocos. Em 1669, quando Vieira tornou-se o seu conselheiro, a rainha tinha 43 anos e vivia sozinha. Ao processar a corte sueca, foi o jesuíta quem a orientou na contratação de um advogado, mesmo com o pouco dinheiro que lhe restara. Na apresentação do livro, o professor de história Ronaldo Vainfas insiste no platonismo desse amor. As cartas sugerem mais. Cabe ao leitor decidir.
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Fonte: Revista Isto É on line, 21/04/2012
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