sexta-feira, 27 de abril de 2012

Singer: um alívio



Ruy Carlos Ostermann*



Ouvi com máxima atenção, sem levantar, tomar cafezinho ou conversar com quem estivesse ao lado. Ouvi, quase contrito e sempre bastante emocionado, a entrevista que Paul Singer concedeu sem esmorecimento, frase por frase, sempre contidas e bem articuladas. À meia-noite, me senti recompensado por aquela hora e tanto de inteligência e bom senso.
É o que está faltando na TV, especialmente nela. A incontrolável tendência geral é, para o regozijo da banalidade, as frases de efeito e a performance pessoal. Valem para autoridade, meia autoridade, nenhuma autoridade, nomes reconhecidos e outros quase desconhecidos. Todos parecem condenados (não, eles não devem se sentir condenados, mas gratificados sempre pela nova oportunidade). Mal começam e já se sabe que não vai sair nada dali.
O país – governo, instituições e povo – está pronto para discutir seus problemas. Se não está pronto no sentido de preparado e suficientemente apto, está disponível. É impossível, mesmo com boa informação, discernir os rumos que vão sendo adotados ou abandonados. E como temos cientistas, pensadores e intelectuais, além de poetas e artistas, mentes livres e autônomas, não custava nada uma arregimentação dessas forças para repensar um pouco essa balbúrdia em que aparentemente estamos metidos.
Singer foi um alívio. Não é preciso concordar com suas ideias progressistas e solidárias, basta que ele interrompa essa ladainha de todo o dia e todo lugar e reafirme o que poderemos ser com um pouco de esforço, não muito. Foi no Roda Vida, da Cultura, que o ouvi e pude reparar nele com 80 anos juvenis.
---------------------
* Jornalista. Escritor. Cronista.
Fonte:  http://www.encontroscomoprofessor.com.br/27/04/2012
Imagem da Internet: Paulo Singer

Nenhum comentário:

Postar um comentário