ANNA VERONICA MAUTNER*
Como não existem vagas ou mesmo espaços iguais para todos a exclusão é quase inevitável
INCLUSÃO E exclusão são assuntos recorrentes nas notícias e nos comentários sobre o cotidiano.
Os jornais alardeiam o tema, o Legislativo procura regulamentar as
questões oriundas das novas forças democráticas que visam a inclusão, a
mais universal possível.
Essa força ideológica impondo igualdade por decreto gera abalos graves
na autoestima de muitos. Sobram para o divã do analista os padecimentos
dos excluídos.
Há não muito tempo se falava sobre a sociedade propiciar uma possível
distribuição equânime de oportunidades. Na segunda metade do século
passado, o grande tema era regulamentar o acesso de todos ao maior
número possível de oportunidades.
Como não existem vagas ou mesmo espaços iguais para todos a desigualdade de chances é quase inevitável.
Para a realização dos desejos de todos, diríamos que a competitividade
chegou onde podia chegar, entrando num dado momento em declínio, ou
mesmo colapso, justamente porque outras dores foram geradas nos vencidos
diante dos vitoriosos. A era da comunicação tecnológica, divulgando
desejos e mais desejos, levou a uma luta sem parada.
No âmbito escolar, que tomarei aqui como exemplo, foi se solidificando
uma hierarquia tenaz. Escolas de primeira grandeza nasceram da ideia de
escola ao alcance de todos. Abriu-se a possibilidade de uma melhor
distribuição de diplomas e de carreiras e reproduziu-se em outro nível a
desigualdade anterior.
Tem diploma tal e qual que vale mais do que outro. É difícil o
igualitarismo desejável proposto. Todo mundo sabe que para entrar nas
grandes escolas precisamos das duas uma: ou ser um bom aluno vindo de
uma escola dita boa ou ser um aluno excepcional vindo de escolas comuns.
A desigualdade continua. Isso vale para outras coisas, por exemplo, a
saúde pública. Os abastados têm condições de se socorrer melhor do que
aqueles que dependem dos serviços públicos de saúde. Os bons professores
estão em maior número nas escolas cujos títulos melhoram as imagens
deles. Dizer que é professor da USP (Universidade de São Paulo) projeta
uma imagem mais favorável do que professor de escola menos afamada,
menos bem cotada nos rankings das instituições de avaliação.
E temos que continuar vivendo na desigualdade, agora deslocada. Assim é
melhor, mas as diferenças ainda machucam. Como será uma educação para
aguentar exclusão? É boa? É desejável? É possível?
Ser o último escolhido para o jogo de queimada dói como qualquer
rejeição provocada por um grande amor. A desigualdade machuca e estamos
cada vez menos preparados para suas dores.
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