J. J. Camargo*
"Ser igual aos outros é mais fácil.
Para ser diferente, é preciso ter coragem.
E isso não consta do rol das escolhas."
A vontade de fazer o bem, de ajudar, não encontra nas
pessoas uma uniformidade de atitudes. Pelo contrário, raramente somos
tão heterogêneos. Há os que se refugiam até em lojas de artigos infantis
se veem a distância o patrono da festa da paróquia, os que ajudam se
não tiverem mais nada para fazer, e quase sempre são as pessoas mais
ocupadas do mundo, e os voluntários das obras sociais que têm na cara a
inconfundível expressão do “deixem comigo”. Esses seriam todos os
modelos disponíveis se não houvesse, para a redenção da espécie e
compensação das nossas pobrezas de espírito, os adictos da generosidade,
umas raras criaturas que, possuídas pelo bem que o bem faz a quem o
pratica, não conseguem mais parar sem se sentirem em falta consigo
mesmo.
A atitude obstinada dessas criaturas comove todos, até os tais que, disfarçados, entram nas lojas de artigos infantis, oxalá em busca de um modelo mais digno de si mesmo, que talvez se tenha perdido lá na infância.
Até o Último Homem, um dos filmes que concorreram ao Oscar, conta uma história baseada em fatos reais e descreve a odisseia de Desmond Doss durante a sangrenta campanha do Pacífico nos últimos meses da II Guerra. Esse jovem soldado se alistou porque lhe pareceu indigno que seus melhores amigos se arriscassem por ele, mas provocou uma convulsão entre os instrutores quando se negou a tocar num fuzil porque se prometera que jamais atiraria em alguém. Quando defendeu emocionado seu direito de combater para ajudar os feridos porque, apesar de não ter conseguido estudar, sempre quisera ser médico, recebeu autorização para embarcar, debaixo de deboches e suspeitas de covardia.
No final da guerra, depois de ter salvado dezenas de colegas feridos, arriscando a vida debaixo de fogo cruzado nas batalhas mais ferozes, compensado pelo respeito de todos, recebeu a mais alta comenda militar por heroísmo em campo de batalha. No final do filme, com o olho lacrimejante a confirmar uma história ocorrida há quase 75 anos, é apresentado o autor daquela façanha, que já bem velhinho relembrava o pensamento que o mantinha em pé numa noite sem fim, arrastando ou carregando nas costas os feridos mais graves até um lugar seguro, e voltando para apanhar o próximo: “Meu Deus, por favor, me permita salvar mais um, só mais um”. Ao amanhecer da terrível Batalha de Okinawa, dezenas tinham sido salvos, e ele, num verdadeiro transe, continuava repetindo o mantra que o mantivera acordado, apesar de exausto: “Por favor, só mais um!”.
Ser igual aos outros é mais fácil. Para ser diferente, é preciso ter coragem. E isso não consta do rol das escolhas. Que pena.
A atitude obstinada dessas criaturas comove todos, até os tais que, disfarçados, entram nas lojas de artigos infantis, oxalá em busca de um modelo mais digno de si mesmo, que talvez se tenha perdido lá na infância.
Até o Último Homem, um dos filmes que concorreram ao Oscar, conta uma história baseada em fatos reais e descreve a odisseia de Desmond Doss durante a sangrenta campanha do Pacífico nos últimos meses da II Guerra. Esse jovem soldado se alistou porque lhe pareceu indigno que seus melhores amigos se arriscassem por ele, mas provocou uma convulsão entre os instrutores quando se negou a tocar num fuzil porque se prometera que jamais atiraria em alguém. Quando defendeu emocionado seu direito de combater para ajudar os feridos porque, apesar de não ter conseguido estudar, sempre quisera ser médico, recebeu autorização para embarcar, debaixo de deboches e suspeitas de covardia.
No final da guerra, depois de ter salvado dezenas de colegas feridos, arriscando a vida debaixo de fogo cruzado nas batalhas mais ferozes, compensado pelo respeito de todos, recebeu a mais alta comenda militar por heroísmo em campo de batalha. No final do filme, com o olho lacrimejante a confirmar uma história ocorrida há quase 75 anos, é apresentado o autor daquela façanha, que já bem velhinho relembrava o pensamento que o mantinha em pé numa noite sem fim, arrastando ou carregando nas costas os feridos mais graves até um lugar seguro, e voltando para apanhar o próximo: “Meu Deus, por favor, me permita salvar mais um, só mais um”. Ao amanhecer da terrível Batalha de Okinawa, dezenas tinham sido salvos, e ele, num verdadeiro transe, continuava repetindo o mantra que o mantivera acordado, apesar de exausto: “Por favor, só mais um!”.
Ser igual aos outros é mais fácil. Para ser diferente, é preciso ter coragem. E isso não consta do rol das escolhas. Que pena.
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* Médico
Fonte: http://www.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&source=a9855726.xml&template=3916.dwt&edition=31575§ion=1028
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