hélio schwartsman*
Sede do Google em Mountain View, nos Estados Unidos
Se não é um livro excepcional, ele é ao menos muito bom e
incrivelmente oportuno. Falo de "The Death of Expertise" (a morte da
expertise), de Tom Nichols. O autor, um sovietólogo levemente
conservador (é republicano, mas fez campanha contra Trump), que ensina
no Naval War College e em Harvard, faz uma competente denúncia da
tendência anti-intelectualista que vem se firmando nos EUA e no mundo e
mostra como ela pode ser perigosa para a democracia.
Para Nichols vivemos numa época paradoxal. Se a disseminação da
internet, o mais amplo repositório de informações de todos os tempos, e o
avanço da educação de nível superior trouxeram inegáveis ganhos
sociais, eles também contribuíram para produzir uma onda
antirracionalista que, apoiada num igualitarismo pouco razoável e
temperado por muito narcisismo, está destruindo o conhecimento
especializado.
Hoje, um paciente se sente apto a pesquisar sua doença por meia hora no
Google e já sair discutindo com seu médico qual é o melhor tratamento
como se os dois tivessem rigorosamente o mesmo conhecimento sobre a
moléstia e a mesma experiência em tratá-la. E isso vale não só para a
medicina, mas para quase tudo.
O resultado, sustenta o autor, é um certo desprezo pelo especialista e
pela educação (compreendida como um processo mais profundo do que o
simples credenciamento por um curso superior) que enfraquece as bases da
democracia representativa. Em vez de um público informado e disposto ao
diálogo, que seria necessário para consolidá-la, encontramos tribos
histéricas prontas a se digladiar umas com as outras ao primeiro sinal
de desconforto emocional.
Nichols faz uma boa arqueologia desse processo, mostrando como vieses
cognitivos se combinaram com falhas de mercado para produzir essa
tendência. Bate forte na internet, nas universidades, na imprensa e nos
próprios especialistas.
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* É bacharel em filosofia, publicou 'Pensando Bem...' (Editora Contexto) em 2016.
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/helioschwartsman/2017/04/1873904-adeus-a-razao.shtml
Não entendi a ressalva "é republicano, mas fez campanha contra o Trump",ou entendi. A "expertise" mundial não só dizia que Trump perderia como até debochava. Deu no que teu. Quem acompanhou "por fora" a campanha presidencial, capturou indícios que poderia ser bem diferente, ou seja, via Internet.É claro que não podemos desprezar o conhecimento mas acreditar piamente do especialista nem pensar.
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