Big data, internet das coisas, blockchain. O mundo do trabalho está mudando. E nós também.
Falam dois especialistas que há muito tempo estudam o novo paradigma enfrentado pela sociedade. O primeiro: “Seria presunçoso tentar descrever com precisão a próxima era no mundo digital. Mas é razoável concluir que a internet
que conhecemos há quase três décadas está em mutação, e que a próxima
vai mudar o mundo mais do que sua irmã mais velha”. Estas são as
palavras com as quais o acadêmico canadense Vincent Mosco, autor de obras de referência como To the Cloud, vai começar seu próximo livro.
Mais contundente é o consultor em transformação digital e inovação, o hispano-alemão Alex Preukschat. “A tecnologia blockchain, em combinação com outras tecnologias, como a internet das coisas, a inteligência artificial, o big data, os drones ou a biotecnologia,
vai refazer o mundo tal como o conhecemos, muito mais rápido do que tem
sido nos últimos anos, como parte da quarta revolução industrial.”
Em conclusão: Não apenas estamos em meio a uma
reestruturação brutal, como também é a mais rápida da história. A
questão que se coloca nesta situação é: esta mudança vai ser para melhor
ou para pior?
Como acontecia no romance de Umberto Eco, estamos diante de apocalípticos e integrados, especialistas que preveem um universo distópico, mescla de 1984 e Matrix,
governado pelo desemprego em massa, que parecem ser maioria. E outros
que preveem uma sociedade mais transparente e descentralizada, na qual a
informação flui e onde os robôs farão o trabalho tedioso em nosso
lugar.
O historiador israelense Yuval Noah Harari, nascido em 1976, faz parte do primeiro grupo. Não acredita que acabaremos como em Matrix, mas argumenta em livros como Homo Deus: Uma Breve História do Amanhã
que,enquanto a profusão de tecnologia tem conseguido que a humanidade
melhore em coisas como a fome e as doenças, as ideias fundamentais das
democracias liberais correm perigo de se tornar obsoletas em um mundo de
ciborgues e inteligência artificial. Nada de descentralização em sua
opinião: as grandes corporações conhecerão os indivíduos nos mínimos
detalhes, e algumas pessoas monopolizarão o poder econômico e político,
os algoritmos e a tecnologia, para criar classes biológicas.
A eliminação de postos de trabalho é outro mantra dos apocalípticos. Carl Benedikt Frey, pesquisador da Universidade de Oxford,
realizou há pouco mais de um ano um estudo que viralizou rapidamente,
no qual argumentava que 47% dos postos de trabalho correm risco de
desaparecer. Na mesma linha anunciada por nada menos do que o Fórum Econômico Mundial.
No ano passado, um relatório apresentado em Davos afirmava que a
digitalização da indústria resultará no desaparecimento de 7,1 milhões
de empregos e na criação de outros 2,1 milhões em 2020. Um pouco de
matemática: serão cinco milhões de empregos líquidos a menos.
O ferrenho integrado Manish Sharma, diretor de operações da
Accenture Operations, tem uma visão diferente. Em sua opinião, “as
pessoas fazem trabalhos chatos porque esses são os empregos que lhe são
oferecidos”, afirma. “A automação dos processos proporcionará uma vida
melhor para as pessoas”.
O economista José Moisés Martín Carretero, autor de España 2030: Gobernar el Futuro,
compartilha a visão de Sharma: “O progresso tecnológico tem deslocado
trabalhadores, mas criado muito mais empregos”, afirma. “No curto prazo,
pode haver reduções, mas, no longo prazo, a criação de empregos é
inquestionável”.
O dinamarquês Erik Brynjolfsson e o norte-americano Andrew McAffee, cofundadores do departamento de Economia Digital do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), lançaram em 2011 o livro Race Against the Machine
(Corrida Contra a Máquina, MIT, 2011). A obra explica como atividades
que, até recentemente, eram reservadas para os seres humanos já são
território para as máquinas. E a mudança é vista como algo positivo. “A
economia mundial está na cúspide de um período de crescimento
espetacular, impulsionada por máquinas inteligentes que aproveitarão ao
máximo os avanços no processamento por computadores, pela inteligência
artificial, pela comunicação em rede e pela digitalização de quase
tudo.”
Isso, claro, sempre que estejamos de acordo de que ter um trabalho é sinônimo de ser feliz.
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Reportagem por
Guillermo Vega
Fonte: http://brasil.elpais.com/brasil/2017/04/03/economia/1491234100_328535.html
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