Luiz Felipe Pondé*
Editoria de Arte/Folhapress | ||
Sempre se soube que sucesso desumaniza. Só gente iniciante não sabe
disso. Sucesso é muito bom. Não me entenda mal. Desumaniza porque pode
fazer você achar que você é o máximo em tudo, quando o foi apenas em
algo em particular, e, às vezes, esse algo é bem banal se tomarmos a
totalidade das atividades e experiências humanas.
Mas o sucesso não só desumaniza, ele pode deixar você ridículo se você
não perceber que a melhor forma de conviver com o sucesso é fingir que
ele não existe. Pra você e para os outros. Eu sei que é difícil, então
melhor consultar um profissional do ramo. Existem alguns bons por aí.
Ouvi dizer que existem até alguns workshops que ensinam você a não ser
um jovem de sucesso ridículo por causa do próprio sucesso. Lúcifer foi o
primeiro jovem de sucesso bobo da história. E acabou ficando com o
porão.
Quando o sucesso atinge você muito cedo na vida, a chance de você virar uma besta arrogante é enorme.
A juventude já é "um sucesso" em si, apesar de temporário e condenado à
extinção com os anos. Quando associada a dinheiro ganho (ou herdado e
ganho), essa tendência é reforçada. Quando a esse processo é adicionado o
acesso a muita informação, mesmo que picada, superficial, mas
abundante, ao simples toque de um rápido clique "mobile", você pode ver
diante dos olhos o fenômeno tão discutido hoje em recursos humanos:
jovens que estão sempre diminuindo todo ser humano que chegou ali antes
dele. O pior é que tem gente de 60 anos que acha que se humilhando
diante deles, dizendo que "o mundo é dos jovens", receberá um pouco de
misericórdia. Bobinhos.
Muito disso é culpa dos pais, como bem mostra a psicóloga americana Jean
Twenge em sua obra. "Generation Me" e "Narcissism Epidemic", dois de
seus títulos, mostram bem como crianças criadas por pais que sempre as
acharam o máximo, e, com o tempo, passaram a invejar a juventude delas
(principalmente as mães), facilmente se transformam em jovens arrogantes
e crentes de que abafam porque foram à Mongólia nas férias. Essa moçada
cresceu achando mesmo que as opiniões que acumulou ao longo dos poucos
anos de leitura rápida é, de fato, relevante. Pouca experiência de vida
associada a muito dinheiro e a muita "cultura mobile", pode dar em
várias faces ridículas do sucesso.
E quando essa turma tem filhos (se os tem...)? Surgirá a babá de branco
em meio aos restaurantes de gente rica. Carregar uma babá de branco para
um restaurante é sinal de que você tocou o fundo do poço da babaquice
de rico. Vejamos a cena.
E, assim, chegaremos a uma outra face ridícula do sucesso. Essa você vê
em restaurantes, clubes e aeroportos. Trata-se desses casais com um
filho só que carrega uma babá a tiracolo.
O pai, com aquela cara de quem realmente acredita que tem a mulher na
mão porque dá Chanel pra ela aos 35 anos de idade. Um daqueles descritos
no parágrafo acima. Logo descobrirá o efeito devastador e purificador
do tédio feminino –aquele mesmo que dizem por aí que é culpa do
patriarcalismo.
Risadas?
Aliás, o patriarcalismo também é culpado pelo capitalismo, pela poluição
ambiental, pela Inquisição e pelo fato da gravidade atrair corpos
humanos. A mãe, com aquela dureza advinda de muitas bolsas Chanel e
muito tédio, controla sua babá com um simples olhar a distância.
A babá, quase sempre vestida de branco, com aquele rosto cheio de
mal-estar e vergonha, tenta fingir que não odeia aquilo tudo. Corre
atrás do pequeno (miúdo, como diriam nossos irmãos portugueses) de um
lado para o outro, segurando seu iPad.
O pequeno, aluno da Saint Paul ou de uma Waldorf da moda, logo dará bolsas Chanel ou se for uma pequena, as ganhará.
Mas, mesmo com rosto de mal-estar e vergonha por estar entre "gente
rica", nossa babá suporta estoicamente a humilhação da roupa branca que
não é de médica. Mas, quando se precisa de dinheiro, se precisa de
dinheiro, coisa que em nosso mundo de plástico se esqueceu.
A pergunta é: como alguém não ensina para essa gente brega que não se leva babá pra restaurantes?
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* Filósofo, escritor e ensaísta, pós-doutorado em epistemologia pela
Universidade de Tel Aviv, discute temas como comportamento, religião,
ciência. Escreve às segundas.
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/luizfelipeponde/2017/04/1877943-carregar-baba-de-branco-a-restaurante-e-sinal-de-que-voce-e-um-rico-bobo.shtml
Tive que ler a matéria pelo seu blog, pois na folha de são paulo tem que pagar. imprensa lixo.
ResponderExcluirAmei o seu texto! Você descreveu perfeitamente como as babás se sentem usando branco. Ficamos expostas ao preconceito e humilhação alheia. Isso (isso do branco), que só existe no Brasil deveria ser abolido.
ResponderExcluirAmei o seu texto! Você descreveu perfeitamente como as babás se sentem usando branco. Ficamos expostas ao preconceito e humilhação alheia. Isso (isso do branco), que só existe no Brasil deveria ser abolido.
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