Tim Berners-Lee, o criador e pai da World Wide Web, recebeu esta
terça-feira o Nobel da Computação. No entanto, demonstrou estar
preocupado e desiludido com o que
andam a fazer à sua criação.
Tim Berners-Lee, o pai da World Wide Web que tornou
possível a navegação online como hoje a conhecemos, recebeu esta
terça-feira o ‘Nobel’ da Computação, mas demonstrou estar preocupado e
desiludido com o que andam a fazer à sua criação e com o rumo que as
coisas poderão vir a tomar, conta
a Quartz. Com 28 anos de existência e alvo de profundas transformações e
evolução ao longo dos anos, a web tem vindo a deparar-se com inúmeros
desafios, não só para os utilizadores, como também para as empresas e
para o campo político. Berners-Lee já tinha falado
sobre os pontos fracos e consequências da evolução da web, mas agora,
com a entrega do Nobel, aproveitou para reforçar a sua deceção.
Para o cientista britânico, um dos maiores problemas é a falta de privacidade online e do controlo dos dados pessoais dos utilizadores,
principalmente nas plataformas de comércio online, como a Amazon ou o
Ebay. Berners-Lee salientou que a informação pessoal das pessoas é
constantemente utilizada e rastreada por aquelas empresas a partir do
momento em que se fazem pagamentos ou transferências online, conseguindo
ser facilmente intercetada por terceiros.
Nas redes sociais, a falta de segurança e de privacidade também já se torna evidente aos olhos do cientista.
O direitos das pessoas a ter uma conversa privada é muito importante para a democracia. É muito importante para os negócios e muito importante para a vida humana no dia a dia. As pessoas da mesma família que vivem em diferentes cidades precisam mesmo de comunicar de forma privada sem ser intercetadas. Realmente, é um direito humano. Não se pode contrariar os direitos humanos sem haver consequências inesperadas ou muito desastrosas”, admitiu Berners-Lee em declarações à revista Wired.
Os efeitos negativos da propaganda política online foram também referidos. Depois da polémica propagação de notícias falsas
durante a campanha presidencial dos EUA, o cientista admitiu a
necessidade da criação de uma nova política e regulamentação da
publicidade e conteúdo enganosos, construídos diretamente para dissuadir
e influenciar os cidadãos, de acordo com o The Guardian.
“A publicidade segmentada faz com que uma campanha tenha pontos de
vista completamente distintos, o que acaba por ser conflituoso para dois
grupos diferentes. Será isso democrático?”, argumentou.
Berners-Lee revelou ainda a sua preocupação no que diz respeito à difusão de não notícias e falso conteúdo noticioso,
especialmente por existirem cada vez mais plataformas online onde as
pessoas conseguem facilmente ter acesso a todo o tipo de notícias e
informação, como o Facebook e o Google. Esses sites escolhem, através de
algoritmos, que tipo de informação é que querem transmitir e a que terá
um maior impacto, com o objetivo de gerar mais cliques. A partir daí, a
difusão de conteúdo falso, chocante ou concebido para apelar aos nossos
preconceitos espalha-se rapidamente.
Esses sites mostram-nos somente os conteúdos que acham que toda a gente vai clicar, incluindo não notícias, notícias falsas, revelações surpreendentes, chocantes ou feitas para apelar ao nosso preconceito, que acaba por se espalhar como fogo”, rematou o britânico.
Com o objetivo de contornar o problema e assegurar o futuro da World Wide Web, Tim Berners-Lee resolveu criar um projeto,
intitulado Solid, que se baseia na criação de um conjunto de
ferramentas e aplicações para dar aos utilizadores da web uma maior
segurança e proteção no que diz respeito aos seus dados pessoais. A
iniciativa está a ser desenvolvida com a ajuda de uma equipa de sete
pessoas com a promessa de transformar o futuro do online.
Tim
Berners-Lee, de 61 anos, é professor no Instituto de Tecnologia de
Massachusetts (MIT) e foi o cientista que possibilitou a navegação
online. Deu o primeiro passo para a criação da web no ano de 1989, mas o
primeiro site só ficou online em 1991. Agora, numa iniciativa anual da
Association for Computing Machinery, que promete recompensar “quem tenha
avançado na indústria da computação e tecnologias de informação”,
recebeu o Turing Award 2016, considerado também o Prémio Nobel da
Computação.
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Fonte: http://observador.pt/2017/04/05/tim-berners-lee-o-pai-da-web-esta-desiludido-com-o-que-andam-a-fazer-a-sua-criacao/