A Sociedade dos Sonhadores Involuntários: o futuro simulado, em Agualusa, só pode ser o do fim do
regime de José Eduardo dos Santos.
Somos sempre observadores não
participantes, recebendo notícias em segunda mão sobre a sua coragem,
sobre a actividade que irá pôr em causa o regime, sobre a sua detenção, a
greve de fome, sobre tudo aquilo que poderíamos ler nos jornais. Dos
heróis deste livro sabemos do seu heroísmo, menos da sua humanidade.
Representam papéis, elevam-se de entre os outros sem chegar a ser de
carne e osso.
Não ajuda o ponto de vista escolhido para narrar a
história, o de Daniel Benchimol, alguém que, como lhe diz um amigo,
pertence a esses que “estão aqui em Luanda, mas não vivem aqui connosco.
Não sofrem connosco”. Um ponto de vista por sua vez necessário para que
o sonho se simule em futuro, quando os do “silêncio cúmplice”, como
Benchimol, finalmente se apercebem do imperativo de gritar.
O
décimo quarto romance do escritor angolano, nascido no Huambo em 1960, é
um livro engajado, para usar uma palavra muito cara em Angola, sem
perder a ambição de ser poético e a vontade de saber mais sobre o mundo
dos sonhos. É um livro de quem continua a acreditar em utopias, de quem
vê Angola como “a feroz alegria que sobrevive entre ruínas”.
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Fonte: https://www.publico.pt/2017/06/21/culturaipsilon/noticia/a-simulacao-do-futuro-1775840
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