É preciso ouvir mutuamente,
valorizar o que os outros
dizem, concordar ou discordar, expressar-se,
criar novos focos, avançar juntos.
Sozinhos
não chegamos a lugar nenhum. Um grupo de pessoas das áreas de
tecnologia, humanidades e empresarial começaram a trabalhar com a
chamada “inteligência coletiva”. Dela deriva a “inteligência
colaborativa”. A especialista no assunto, Leticia Soberón, que durante
anos esteve no Vaticano como oficial da área de comunicação, acredita
que temos que lutar contra a “estupidez coletiva”. Agora, ela aplica a
técnica a partir do Innovative Center for Collaborative Intelligence e
do Collaboratorium (plataformas para ajudar líderes na tomada de decisão
diante dos desafios).
Veja o que ela diz sobre a inteligência colaborativa nesta entrevista:
O que é inteligência colaborativa?
É um novo modo de realizar o trabalho em equipe potencializado pela
tecnologia digital, a conectividade proporcionada pela internet e as
vantagens dos smartphones, que se tornaram imprescindíveis na vida
cotidiana.
Em 1994, Pierre Lévy sonhou com a “inteligência coletiva”, uma
espécie de “supra córtex cerebral” da humanidade, formada por milhões de
indivíduos conectados e pensando juntos sobre temas importantes. O
saber está distribuído. Como ele mesmo destaca, “ninguém sabe tudo;
todos sabem algo; é necessário mobilizar as competências de todos”. Mas
nem todo intercâmbio é inteligente, nem a inteligência das equipes
dependem somente da inteligência individual de seus membros. Suas
dinâmicas precisam ser inteligentes. É preciso ouvir mutuamente,
valorizar o que os outros dizem, concordar ou discordar, expressar-se,
criar novos focos, avançar juntos.
A inteligência colaborativa é uma forma de “inteligência coletiva”,
que ocorre em equipes de trabalho de qualquer área, orientadas à ação e à
tomada de decisão. Trata-se, justamente, de co-laborar. Por isso, a
discussão deve ter foco, um tema concreto e duração específica; não é
indefinida nem genérica. Tampouco é aplicável a um grande número de
pessoas: é utilizada necessariamente por “clusters” ou grupos que possam
pensar juntos.
Nós definimos a inteligência colaborativa como uma deliberação
ordenada, facilitada por tecnologias sociais, que permite a um conjunto
de pessoas compartilhar, criar, depurar conhecimento e tomar decisões
com maiores possibilidades de superar os desafios que deixam os
ambientes cada vez mais complexos e vulneráveis.
São necessárias humildade e honradez intelectuais suficientes para
aceitar quando os outros contribuem com algo que eu não saiba, a fim de
criar algo que tem alguma coisa de mim, mas não é meu.
Por que precisamos deste tipo de processo nas organizações?
A maioria das organizações nasceu antes da internet
e trabalha com departamentos ilhados. Elas possuem estruturas rígidas e
formais e, inclusive, seus suportes tecnológicos estão desenhados para
perpetuar estas ilhas e para uma comunicação pulverizada; em outras
palavras, para uma sociedade que já não existe. Se não quisermos ficar
obsoletos em pouco tempo, temos de gerenciar novas formas de trabalhar,
muito mais colaborativas e em rede.
Mas a colaboração nem sempre é espontânea ou inteligente; tem de ser
impulsionada para uma equipe por uma liderança que compreenda a
necessidade de ouvir a todos, cada um de seu ponto de vista, e propiciar
o trabalho transversal. É necessário favorecer as discussões adequadas
para coletar e filtrar o conhecimento de cada pessoa.
Posso aplicar a inteligência colaborativa em casa, no trabalho…?
Com certeza! E deveria aplicar em várias áreas.
Nós, com o Collaboratorium, aplicamos um modo mais ordenado de debate
para ir deliberando juntos e tomando decisões mais consensuais, criando
conhecimento novo a partir de cada um. O trabalho é o local onde mais
deveria ser promovida a inteligência colaborativa.
Por que você se envolveu com este assunto?
Porque há anos estou estudando as redes de conhecimento: como
pensamos juntos, como podemos chegar a um acordo, o que nos faz mais
inteligentes juntos e onde nasce a estupidez coletiva. Mas estudo isso
com o foco nas pessoas, não na tecnologia. Olhando a pessoa e os grupos
como eixos de todo esta rede tecnológica. Entendo isso como uma forma de
trabalhar pela paz e pela comunhão.
O mundo não funciona? Estamos propondo a inteligência colaborativa para o mundo?
Sim, proporia mais colaboração inteligente para o mundo. Fornecemos
para o mundo técnicas e infraestrutura que funcionam, pretendendo que
funcionem ainda melhor, para eliminar a estupidez que provoca tanto
sofrimento inútil.
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Reportagem Miriam Diez Bosch |
Jun 19, 2017
Fonte: https://pt.aleteia.org/2017/06/19/o-que-e-e-para-que-serve-a-inteligencia-colaborativa/?utm_campaign=NL_pt&utm_source=daily_newsletter&utm_medium=mail&utm_content=NL_pt
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