RUY FAUSTO |
NOVOS CAMINHOS NA POLÍTICA BRASILEIRA
Entrevista
com Ruy Fausto
Professor emérito de Filosofia da USP
Para Ruy Fausto, sigla deve se articular com outras
frentes e partidos,
como o PSOL, nas eleições
do ano que vem
É
de esquerda e critica o chavismo, trotskismo, maoísmo e o marxismo. Repudia todas
as formas de populismo, totalitarismo e adesismo – às quais tem dado o nome de “patologias da esquerda”.
Aos
82 anos, o professor emérito de
Filosofia da Universidade de São Paulo (USP) Ruy Fausto, radicado na França, transformou o artigo que publicou na
edição da revista piauí [clique aqui para ler este artigo] de outubro
passado no livro Caminhos da Esquerda:
elementos para uma reconstrução (Editora: Companhia das Letras), a ser
lançado em 3 de julho.
Em
entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo,
Fausto defende o fim da hegemonia do PT no campo da esquerda e a formação de uma frente única progressista
para a eleição presidencial de 2018 com, por exemplo, o ex-prefeito de São
Paulo Fernando Haddad (PT) e o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL-RJ).
Leia
a seguir os principais trechos da entrevista.
ESTADÃO
- Há uma hegemonia de direita?
Ruy Fausto: No mundo, há uma ofensiva
grande da direita que surgiu, principalmente, com o fim da União Soviética. Assusta-me muito, particularmente, a
extrema direita, que tem uma linguagem muito violenta. Tem ainda a situação
brasileira, com o PT, que acabou fortalecendo a direita. A política petista
trouxe maior distribuição de renda, mas também houve uma corrupção
absolutamente intolerável. Ainda assim, nada justifica o impeachment (da presidente cassada Dilma Rousseff), que foi um
desastre. Mas a direita se lançou nessa aventura, conseguiu e isso permitiu que
eles levantassem a cabeça. A corrupção
foi um discurso bem apropriado pelos movimentos de direita.
Como
o senhor avalia as críticas ao que o PT fez enquanto ocupou o governo?
Ruy Fausto: Um partido de esquerda que
se pretende democrático tem de ter lisura administrativa absoluta. Há uma política de “fins justificam os
meios”. A lição que se tira no PT hoje é: “nós não fomos suficientemente
oportunistas”. Isso é um desastre total e tem intelectual saudando isso aí.
Certamente faltou um mea-culpa.
Nesse sentido, os melhores são o Tarso Genro (ex-governador do Rio Grande do
Sul), o José Eduardo Cardozo (ex-ministro da Justiça no governo Dilma). O PT
vai continuar a existir. Mas o caminho é
de queda, para haver uma renovação.
Lula
seria um bom candidato?
Ruy Fausto: Acho que não. Primeiro, acho
muito difícil que ele concorra, a situação jurídica é muito difícil. Eu não
desejo a condenação do Lula, embora ache difícil ele conseguir evitar isso.
Desejo, sim, que ele possa legalmente se candidatar, mas não acho que, nas condições atuais, ele seria um bom candidato para a
esquerda. Acho que os melhores nomes podem vir do PT, do PSOL, ou mesmo da
sociedade civil.
O
senhor acredita que a esquerda deveria sair unificada em 2018?
Ruy Fausto: Sim, é essencial que se crie uma frente única de esquerda,
fazer uma espécie de fórum desses movimentos independentes. Não é para ter uma
ruptura total com o PT, mas a hegemonia não pode mais ser dele, no campo da
esquerda. Isso também não significa que a gente vá ganhar em 2018. A gente tem
de ter uma boa campanha. E, aí, surgem possíveis nomes. O Fernando Haddad (ex-prefeito de São Paulo), por exemplo, é bom
sujeito, competente, não é corrupto. Outro nome é o Marcelo Freixo, que me parece um sujeito bom. Acho que talvez o
Fernando Haddad possa sair como candidato ou como vice. Às vezes, um dos
melhores do PT com um dos melhores do PSOL poderia funcionar.
Mas
Fernando Haddad não conseguiu se reeleger em São Paulo e Marcelo Freixo também não
foi eleito prefeito no Rio na eleição do ano passado...
Ruy Fausto: O Haddad, eu não estive aqui
(no Brasil) durante toda a sua gestão na Prefeitura, mas tenho a impressão de
que fez um bom governo. Ele teve uma péssima campanha, foi muito atacado e
avaliou mal os movimentos das ruas. Já o PSOL é até meio de extrema esquerda. Há muito essa ideia de que se deve ir mais
à esquerda – como se a luta política fosse uma espécie de escala. Você pode
até dizer isso, mas redefina a esquerda. Enfim, o PSOL tem seu mérito por ter
criticado a corrupção e as alianças sem escrúpulos do PT, mas ainda é de
extrema esquerda. Alguns flertam com
chavismo e castrismo. Mas, na verdade, é um partido muito variado.
Existem
ainda outros nomes que surgem: o ex-governador e ex-ministro Ciro Gomes (PDT),
o Guilherme Boulos, líder do MTST, e mesmo a ex-ministra Marina Silva (Rede).
Ruy Fausto: A Marina, eu respeito a biografia, mas seu programa econômico não é
bom e ela não se move muito bem na política. O Ciro é um sujeito que fala muitas verdades, mas fala demais. O Boulos não conheço de perto. Ele
certamente faz um trabalho muito importante na periferia, mas ainda tem um
discurso muito bolivariano, e acho que isso tem de mudar. Devemos priorizar um programa mais democrático.
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Fonte:
O Estado de S. Paulo – Política – Domingo,
25 de junho de 2017 – Internet: clique aqui.
Reportagem por Marianna
Holanda
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