segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Psicóloga fala do impacto na vida dos filhos quando a mulher não abre mão da carreira

Quem precisa conciliar as missões de ser mãe, profissional, esposa, amiga, filha e tantos outros papeis ao mesmo tempo sabe que essa não é das tarefas mais fáceis. Para ajudar essas mulheres a entenderem o que passa na cabeça dos filhos que precisam compartilhar a mãe com tantas outras funções, a psicóloga Cecília Russo Troiano lançou o livro“Aprendiz de equilibrista: Como ensinar os filhos a conciliar família e carreira”.
Nessa conversa com o Portal EcoD, Cecília desmistificou alguns questionamentos comuns às “mulheres equilibristas” e falou sobre os impactos desse estilo de vida no futuro dos filhos.
O livro surgiu de uma pesquisa feita pela psicóloga, escritora e mãe de dois adolescentes com 500 crianças e jovens, de 6 a 22 anos, sendo metade filhos de mães que trabalham e metade de mães que não trabalham fora, da classe AB, na cidade de São Paulo. A pesquisa combinou análises qualitativas e quantitativas, além de entrevistas com diversos profissionais que se relacionam direta e indiretamente com esses jovens, como pediatra, professoras e terapeutas.
Segundo Cecília, que também diretora geral e sócia do Grupo Troiano de Branding e autora do livro “Vida de Equilibrista: dores e delícias da mãe que trabalha”, o projeto mostra pela primeira vez na literatura brasileira o olhar dos filhos sobre o fenômeno social da entrada maciça das mulheres no mercado de trabalho.

Portal EcoDesenvolvimento.org - As crianças de hoje são mais maduras?
Cecília Russo Troiano – Certamente as crianças de hoje tem muito mais estímulos, dentro e fora de casa. A consequência é uma visão mais completa do mundo o que leva a uma maturidade. Por outro lado, há a superproteção dos pais e o confinamento dos filhos em casa (medo, violência, vida em apartamentos, etc). Isso, ao contrário, fecha os horizontes. Mas, apesar disso, certamente crianças hoje são mais antenadas.

EcoD – Qual a imagem que essa geração tem da mãe?
CRT – Vêem a mãe como uma verdadeira equilibrista – a CEO da casa. Ela ainda é vista como a que cuida da casa e da família, mas aquela também que sai para trabalhar, paga contas etc. É com essa referência que nossos filhos estão sendo educados. Por isso, chamo essa geração de “aprendiz de equilibrista”.

EcoD – E do pai?
CRT – O pai também vem sendo visto de forma mais abrangente, deixando de ser apenas o provedor. O pai brinca, vai ao supermercado, é carinhoso. Enfim, mãe e pai são mais completos.

EcoD – Como a senhora explicaria essa mudança ao longo das gerações?
CRT – Creio ser a própria transformação dos papeis de homem e mulher, movimento este que está bem acelerado desde a década de 70. É uma geração que está crescendo com essa nova dinâmica familiar.

EcoD – As mães ainda sentem muita culpa em deixar os filhos para irem trabalhar?
CRT – Ainda a culpa atormenta demais as mulheres. É o subproduto da vida de equilibrista. Mães, em maior ou menor intensidade, quase sempre têm culpa. Culpa de não estar o tempo todo com os filhos, de se ausentar de algum evento da escola, etc. Eu digo que a culpa vem já instalada na maternidade, como um “chip”.

EcoD – A pesquisa revela que pais cujas esposas não trabalham fora geram mais orgulho nos filhos do que pais que dividem o sustento da família com a mulher. Como a senhora explicaria isso?
CRT – Quando a mãe não trabalha, o sustento da família fica apenas com o pai. Ele é a figura forte, o alicerce da família em termos materiais. Isso é grande fonte de orgulho para os filhos. Já quando os pais dividem essa responsabilidade com a mãe, do sustento material, ele, em certa medida “perde” espaço, poder e com isso há uma “queda” do orgulho dos filhos em relação a ele. Afinal, ele não é mais sozinho nessa função.

EcoD – Outra coisa marcante foi que a felicidade dos filhos não varia de acordo com a opção da mãe. Porém, mesmo lendo essa pesquisa, muitas mães ainda vão ficar temerosas de deixar os filhos. O que diria para elas?
CRT – Sim, é verdade. Filhos estão bem se a escolha da mãe é bem resolvida. Se essa mãe está bem resolvida. Por isso, indico para as mães fazerem a escolha que seja melhor para ela, que faça uma análise para essa tomada de decisão, trabalhar ou não fora. Uma decisão segura gerará filhos bem resolvidos com a opção da mãe. O inverso é desastroso.

EcoD – Na geração dos pais, almejava-se a conquista, o poder e o acúmulo de bens. Já essa geração Y (jovens da atualidade) briga por satisfação no trabalho e equilíbrio entre vida profissional e pessoal. Como o modelo de equilibrista que essas mães estão passando para seus filhos pode influenciar nas futuras decisões deles, levando-se em consideração essa busca por mais qualidade de vida?
CRT – Acho que o modelo vivido hoje por pais e mães é mais um estímulo para essa geração buscar uma maior qualidade de vida, um equilibrio. Os pais estão sobrecarregados, cansados. Os filhos vislumbram abrir mão de algumas coisas, construir um modelo mais equilibrado, rever a questão da culpa, buscar momentos de lazer. Enfim, será um novo modelo equilibrista, aos moldes dessa geração.

EcoD – Quês tipos de pais e mães serão essas crianças?
CRT – Certamente serão casais que equilibrarão mais os papeis, de verdade. Mas serão pais também como os atuais – com medos e expectativas em relação aos filhos, apesar de todas as mudanças. Seguirão sendo pessoas com emoções. Isto é, serão diferentes e parecidos ao mesmo tempo.

EcoD – Por fim, quais dicas a senhora daria para pais e mães que precisam trabalhar fora, mas não querem deixar de dar a melhor criação para seus filhos?
CRT – Acreditar que seu trabalho não prejudica os filhos, se ela souber dar atenção e amor nas horas possíveis para ela, refletir bastante antes de tomar a decisão de trabalhar ou não, acreditar que os filhos se adaptam bem à escolha da mãe, deixar de querer ser perfeita em tudo, ser supermulher, e dividir tarefas com marido e outras pessoas que possam apoiá-la.

Livro: Aprendiz de Equilibrista - Como ensinar os filhos a conciliar família e carreira
Autora: Cecília Russo Troiano
Assunto: comportamento, feminino, masculino, infantil, juvenil, trabalho, educação.
Preço: R$ 29,90
Páginas: 148
(EcoD)

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