A relação dos consumidores com embalagens, marcas e design é instintiva. Eles não estão para as discutir, não é tema de conversa social, não faz parte da sua vida consciente
A teoria é simples e a realidade comprova-o.
Num
mundo que funciona a um ritmo alucinante muitas coisas são mais
voláteis, temporárias ou superficiais. Isso diminui o risco associado às
nossas escolhas. Sendo o risco menor é também menor o tempo que
dedicamos à análise de opções de compra e, assim sendo, a aparência
assume maior importância do que o conteúdo.
Senão vejamos.
Claro que nem tudo é volátil, temporário ou superficial, mas quase tudo tem um ciclo de vida mais curto. Tudo dura menos.
Comecemos pelas notícias.
As
notícias são voláteis. Quem não sente que ao ler um jornal diário não
está a ler as notícias do dia anterior e que, por isso, já são… menos
notícia?
As notícias são também superficiais. Não é que elas o
sejam Nós é que as consumimos como tal. Muito do que sabemos vem dos
títulos. Como se a complexidade do mundo se resumi-se em grupos de 3 ou 4
palavras. O máximo que aceitamos é ler 140 caractéres.
E as tendências?
Hoje em dia criam-se e esfumam-se tendências com uma rapidez nunca antes vista.
Peguemos
nas tendências da alimentação. A Quinoa ainda não é e já era. Nos EUA a
Kombucha já é e isso significa que vai deixar de ser num instante. A
Chia já chegou a Portugal mas isso significa que já deve estar de malas
aviadas. O Gin é tão 2015 que já estamos a ver o que fazer com o Whisky.
Alguma dieta nova dura mais de um ano?
Mais do que nunca, tudo nos satura, farta e enfada.
Assim
sendo, assumimos, mesmo sem essa consciência, que as escolhas não nos
comprometem verdadeiramente. Tudo é reversível. Por isso precisamos de
pouco tempo para optar e arriscamos até onde menos se espera. Quantos
segundos precisa alguém para fazer um swipe no Tinder?
Quantas
das nossas opções de vida entregamos à sorte? Poucas, mas entregamos
muitas ao instinto. Mesmo sem consciência plena das razões por detrás de
uma escolha, algo em nós nos impele para ela.
Que impacto tem isto na vida dos marketeers?
Por
um lado, esta consciência de que muitas vezes os nossos consumidores
nos escolhem por instinto é vital e deve resultar numa valorização cada
vez maior do design, do branding e do packaging.
Por outro lado há que mudar a forma como muitos marketeers testam propostas.
Já
é difícil aceitar que se levem propostas a um focus group de 8 pessoas
para que pela escolha delas possamos justificar a nossa mas ainda mais
estranho é que os forcemos a ter análise e discussões racionais sobre
temas sobre os quais eles não pensam mas agem, instintivamente. A
relação dos consumidores com embalagens, marcas e design é instintiva.
Eles não estão para as discutir, não é tema de conversa social, não faz
parte da sua vida consciente. Quando os forçamos a fazê-lo empurramo-los
para decisões erradas. Estudos para fundamentar opções nestas áreas
devem ser quantitativos e devem reproduzir o mais correctamente possível
o contexto da compra.
Dito tudo isto nem tudo é forma e
aparência. Ambas só nos podem garantir uma primeira interacção.
Precisamos de um bom conteúdo para ter sucesso, tanto na vida comercial
como na vida pessoal.
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* É um marketeer com coração de publicitário e um
publicitário com coração de marketeer. Alumni da Northwestern e da
Universidade Católica de Lisboa, liderou projectos locais e europeus na
Unilever durante 8 anos, em Portugal e no Reino Unido. Da experiência
adquirida salta para a Sovena Group, onde durante 9 anos, participou
directamente no processo de internacionalização do grupo, fazendo da
Sovena Group a segunda maior empresa de azeite no mundo. Hoje é CEO da
McCann em Portugal e Business Strategy Director para a Ibéria.
Apaixonado crónico pela publicidade e pelas marcas, é também um
empreendedor, actualmente a desenvolver um projecto de melhoraramento de
meio ambiente e da economia social nas favelas do Brasil.
Fonte: http://visao.sapo.pt/opiniao/bolsa-de-especialistas/2016-06-16-A-importancia-do-instinto?utm_source=newsletter&utm_medium=mail&utm_campaign=newsletter&utm_content=2016-06-16
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